Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Contra o racismo. Escritores de Língua Portuguesa assinam carta aberta

por Carlos Santos Neves - RTP
"Quem adormece em democracia acorda em ditadura", lê-se na carta aberta Rafael Marchante - Reuters

Cento e oitenta e sete escritores de Língua Portuguesa assinam uma carta aberta “contra o racismo, a xenofobia e o populismo e em defesa de uma cultura e de uma sociedade livres, plurais e inclusivas”. O documento reúne nomes de autores portugueses, africanos e brasileiros de diferentes posições ideológicas no “espectro democrático”.

O documento, divulgado esta terça-feira, é assinado por escritores como Lídia Jorge, Mário de Carvalho, Francisco José Viegas, Mia Couto, Pepetela, José Eduardo Agualusa, Chico Buarque, Luís Fernando Veríssimo ou Nélida Piñon.

“Exigimos compromissos políticos que detenham a escalada do populismo, da violência, da xenofobia – de todos esses reflexos primitivos, retrógrados, obscurantistas, destrutivos e abjectos. Tais são as nossas grandes riquezas: a diversidade e a tolerância. Como o expressa a língua portuguesa, feita de aglutinação, inclusão e aceitação da diferença”, lê-se na carta aberta.

Os signatários dizem-se “cientes do poder da palavra”, assim como “do poder da sua omissão também”.

“Conhecemos os custos de dar palco ao que, em circunstâncias normais, não mereceria uma nota de rodapé. Pondo em cena aquilo que não é de cena – aquilo que é, e não só etimologicamente, obsceno”, prossegue o texto.

“Preferimos correr esse risco face às circunstâncias vividas em Portugal, que consideramos gravese inquietantes, nos domínios do racismo, do populismo, da xenofobia, da homofobia, das emoções induzidas, da confusão destas com ideias e, em geral, de tudo aquilo que de mais repugnante pode emergir de uma sociedade em crise e em estado de medo”.

“Temos de reagir antes que seja tarde. E usar as palavras contra o insidioso ataque à democracia, ao multiculturalismo, à justiça social, à tolerância, à inclusão, à igualdade entre géneros, à liberdade de expressão e ao debate aberto”, acentua-se na carta.
“Quem adormece em democracia acorda em ditadura”
“Quem gosta de Portugal”, lê-se ainda nesta carta aberta, “jamais diz Vão!, antes diz Venham!”.

“É preciso tomar consciência de que as ameaças que ora rastejam propiciam uma quebra irreparável dos valores humanistas, da solidariedade e do mútuo apoio – valores laborais e de igualdade de direitos constitucionais à saúde, à educação, ao emprego, à justiça, à cultura”.

“Cultura e literatura não florescem nestes tempos sufocantes, em que a terrível crise humanitária dos refugiados, nos deploráveis campos às portas da Europa, e a ameaça ecológica e ambiental, à escala planetária, são banalizadas nos noticiários. E ao que vem de trás ainda se junta o que se seguirá à pandemia da covid-19: o alastramento do desemprego e da pobreza, pasto fértil para demagogias, teses anti-imigração, racismos e extremas-direitas”, alerta-se no mesmo documento.
Cláudia Aguiar Rodrigues - Antena 1

Os signatários carregam na ideia de que não se pode “olhar para o lado” e permanecer em silêncio: “Por tudo isto, nós, escritores portugueses e de língua portuguesa, assumimos o compromisso de jamais participarmos em eventos, conferências e/ou festivais conotados – seja de que maneira for – com ideias que colidam com os princípios da tolerância e da dignidade humana”.

O documento apela à ação quer da sociedade civil, quer dos responsáveis políticos do país, para concluir que, “como sempre nos mostrou a História, quem adormece em democracia acorda em ditadura”.
pub