Estreia em disco de Francisco Salvação Barreto confirma o seu lugar no fado tradicional

por Lusa

Lisboa, 18 nov (Lusa) - O fadista Francisco Salvação Barreto, que apresenta o seu disco de estreia, "Horas da Vida", na próxima semana, em Lisboa, disse à Lusa que o fado tradicional é a sua `praia`, reflexo do seu quotidiano e da vida.

Referindo-se ao CD, constituído por 13 temas, maioritariamente poemas inéditos e fados tradicionais, Francisco Salvação Barreto disse, em entrevista à Lusa, que preferiu "sempre a intenção à perfeição".

O CD é apresentado na terça-feira, às 19:00, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa, abrindo a programação celebrativa do 20.º aniversário do Museu do Fado, que chancela o CD.

Salvação Barreto fez questão de dizer que o "Museu do Fado foi de uma seriedade e lealdade sem par, nunca tendo feito qualquer interferência".

O fadista, de 36 anos, disse que não é um "novato", e já era altura de gravar um CD, sobre o qual afirmou: "É um disco muito amadurecido e pensado, de que me orgulho muito. Há uma altura que é até falta de humildade não arriscamos e gravarmos, mostrar o que somos capazes".

E "foi havendo sinais" do interesse e de ter chegado o momento de Francisco Salvação Barreto gravar, "com Maria da Fé, Camané ou Rodrigo a perguntarem quando saia o disco, e a dizerem que estava já na altura".

O fadista justificou o adiamento em gravar pelo peso da responsabilidade que sentia face à tradição.

"O que é que eu tinha a acrescentar a uma arte, cujas referências que tenho são aterradoramente extraordinárias? O que é que um tipo novo acrescenta numa arte que tem expoentes como Amália Rodrigues, Fernando Maurício, Maria Teresa de Noronha, Beatriz da Conceição, Fernanda Maria, Carlos Ramos, Maria da Fé...? Como é que se acrescenta alguma coisa a isto?", argumentou.

"Só me fez sentido [gravar] quando comecei a criar o meu próprio repertório, temas criados por mim", contou à Lusa, referindo em seguida: "O mais importante nos fados, principalmente no fado tradicional, que é a praia onde eu pretendo estar, é a palavra; o que marca é a palavra, e um dos grandes interesses e maravilhas do fado tradicional, é a capacidade de a mesma melodia se adaptar a vários poemas, e, portanto, o estilo é feito de acordo com o poema que a pessoa escolha, e da maneira como o sente e como o interpreta".

"A grande magia dos fados tradicionais é tentar perceber que letra faz sentido naquele tipo de melodia, e algo mais complicado é encontrar um fado tradicional que respeite as tónicas do poema, e que faz com que o poema flua de uma maneira completamente diferente se estiver mal acentuado; basicamente as palavras têm música também", disse.

Para Salvação Barreto, "basta declamar um poema para percebermos qual a toada e, facilmente, procura-se uma melodia tradicional de fado, mas nem sempre é óbvio, e às vezes há que dar a volta, e isso é o estilo do fadista".

Sobre o CD, à Lusa, afirmou: "Este é um disco que canta os amores e desamores, encontros e desencontros, as dúvidas, a vida e a morte; e o fado é isto, porque a vida é isto também".

"Os fados fazem parte da minha vida há muito tempo e não podia escapar", disse o intérprete que começou a ouvir fado nos discos que havia em casa dos avós e depois a cantar em ambiente familiar.

O CD inclui poemas de Fernando Pessoa, Miguel Torga, José Luís Gordo, João Mário Veiga, entre outros, tendo resgatado do repertório de Artur Batalha "Mundo d`Inverno" (Paco Gonzalez) e, do de Carlos Ramos, "Eu Já Não Sei" (Domingos Gonçalves Costa/Carlos Rocha).

O CD é editado e apresentado no âmbito das celebrações dos 20 anos do Museu do Fado, uma programação que inclui a edição de um outro CD, do guitarrista Gaspar Varela - que se apresenta no próximo dia 24 no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém -, e uma exposição sobre Maria Teresa de Noronha, entre outras iniciativas.

O Museu do Fado, instalado na antiga estação elevatória de águas de Alfama, abriu portas a 25 de setembro de 1998, e faz parte dos equipamentos culturais da Empresa de Gestão dos Equipamentos de Animação Cultural (EGEAC), da Câmara de Lisboa, sendo desde então dirigido pela historiadora de arte Sara Pereira.

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