Fazenda do café no Uíge ainda faz mexer todos os dias o "velho Dias"

por Lusa

Às primeiras horas do dia Joaquim Dias faz-se à estrada, sete quilómetros a pé, a caminho da pequena fazenda de café nos arredores da cidade do Uíge, que possuiu desde a saída dos colonos portugueses de Angola, em 1975, rotina inalterada, mesmo com 85 anos.

Conhecida como "a província" do café em Angola - que no tempo colonial chegou a ser o quarto maior exportador do mundo -, o Uíge conta atualmente com mais de 9.000 pequenos produtores registados, com plantações de alguns hectares, como é o caso da fazenda "Canjongo", do "velho Dias", como é tratado por todos.

"Gosto disto, gosto do meu trabalho. E com esta fazenda tenho alimentado e mantido a minha família estes anos", começa por contar, à conversa com a agência Lusa.

Tudo começou com a saída dos colonos portugueses que faziam a produção de café naqueles terrenos, como atesta a vizinha fazenda Alto Minho que ainda hoje mantém o nome original. Quanto a Joaquim Dias, ao ver a destruição e abandono dos cafeeiros existentes na agora sua fazenda, mexeu-se e conseguiu ficar com os 45 hectares, que ainda hoje são o seu sustento.

"Quando senti isso, com a destruição das plantas e queima para carvão, tive de ir para Luanda, para o ministro da Agricultura, e consegui a minha fazenda", recorda, sobre o ano de 1975, quando passou a cultivar o café.

Hoje são 15 hectares só de café, com 16.500 pés, que lhe garantiram, na colheita deste ano, concluída a 12 de julho, 15 sacos, cada um com entre 70 a 75 quilos. Ainda assim, menos de metade face a 2016, quando chegou aos 42 sacos.

A crise angolana, com a falta de apoios financeiros à produção, e a seca, face à falta de chuva, ajudam a explicar a "confusão na cabeça" que a colheita de 2016 provocou a Joaquim Dias, que ainda assim garante ter os pagamentos aos 10 trabalhadores em dia.

"Foram 28 dias a fazer a colheita com um grupo que veio de fora, para ajudar. Não devo nada", garante.

Vai vender a colheita de 2017 a 200 kwanzas (um euro) cada quilo, sempre para o mesmo comprador, em Luanda, que depois o revende.

"É o suficiente, chega. Mas amanhã pode aparecer alguém a dar mais. É o negócio", brinca Joaquim, que já tenta passar o negócio para o filho mais novo.

"Já registei as coisas em nome dele e tudo, para continuar com isto", diz.

Ainda assim, garante que para já tem força para manter a rotina diária de ir para a fazenda, onde colhe ainda banana, abacaxi e a partir do próximo ano também com as primeiras 1.000 plantas de cacau, para "experimentar".

No entanto, e num país tomado pelo negócio do petróleo, que agora está em crise, o café continua a ser a paixão de Joaquim: "O café tem mais vantagens que o petróleo, não vamos só confiar no petróleo, porque o café é que construiu [tempo colonial] as cidades, Luanda, Uíge e até o Huambo", remata.

 

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