"Grupos extremistas" de `fake news` vão chegar a Portugal, diz especialista

por Lusa

Lisboa, 11 nov (Lusa) -- O coordenador da pós-graduação em Marketing Digital Filipe Carrera admite que o fenómeno das `fake news` em Portugal é hoje feito por amadores, mas alerta que "os grupos extremistas" vão chegar.

O fenómeno das `fake news` ainda é incipiente em Portugal, porque "os seus criadores ainda têm uma atuação muito amadora, mas não é preciso ter uma bola de cristal para perceber que o profissionalismo de grupos extremistas vai chegar", afirmou, numa entrevista à Lusa, por email.

Ora 2019 é um ano de europeias, legislativas e regionais na Madeira e mesmo sem eleições, Carrera receia que o fenómeno "tenda a agravar-se".

"Com ou sem eleições este fenómeno tende a agravar-se, pois três fatores conjugam-se, criando a tempestade perfeita para o triunfo das `fake news`", argumentou Filipe Carrera, licenciado em Economia e coordenador da Pós-Graduação em Marketing Digital no Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), em Lisboa.

Para este especialista, há três fatores a ter em conta, como o "alheamento da participação cívica em que as crescentes taxas de abstenção são uma das provas", a "falta de debate entre os cidadãos" e a "perda de qualidade, credibilidade e alcance dos meios de comunicação tradicionais".

As `fake news`, comummente conhecidas por notícias falsas, manipulação ou informação propositadamente falsificada com fins políticos ou outros, ganharam importância nas presidenciais dos EUA que ditaram a eleição de Donald Trump, no referendo sobre o `Brexit` no Reino Unido e, mais recentemente, nas presidenciais no Brasil, ganhas pelo candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro.

Em Portugal registaram-se alguns casos de `fake news`, nomeadamente um que envolveu a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, por alegadamente usar um relógio avaliado em 20 milhões de euros.

O DN, que abordou o assunto, noticiou a existência de `sites` sediados no Canadá que alojam notícias falsas sobre a política portuguesa, ligados a uma empresa de Santo Tirso.

Em Portugal, acrescentou Filipe Carrera, o "discurso político tem vindo a adaptar-se às novas circunstâncias, as palavras-chave, as imagens fortes e os `sound bites` são sintomáticos dessa adaptação".

"Porque a política e os meios de comunicação que temos são reflexo da sociedade em que vivemos, pois de outra forma não sobrevivem", acrescentou.

Além do mais, "a conjugação do alheamento dos cidadãos e do bombardeamento de `fake news`, cria um ambiente perfeito para ascensão de populismos e movimentos extremistas", dado que "soluções simples e radicais são mais fáceis de explicar e de propagar".

E, no limite, "se nada for feito, a tendência será" ter "uma democracia no papel, mas na prática uma ditadura baseada a ignorância consentida". argumentou.

Para o futuro, o coordenador da pós-graduação em Marketing Digital diz não existirem soluções fáceis e rápidas.

É preciso, aconselhou, "começar nas escolas e mesmo mudar os métodos de ensino para que desde muitos jovens todos se sintam parte de um sistema democrático e não de um sistema que lhes foi imposto".

Por outro lado, "têm que ser desenvolvidos projetos que fomentem o debate das questões que realmente interessam no desenvolvimento do país".


 

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