Morreu Fernando Botero, o artista das formas volumosas

O escultor e pintor autodidata colombiano tinha 91 anos. Fernando Botero era conhecido mundialmente sobretudo pelas figuras humanas redondas e volumosas.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Escultura "Maternidade" de Fernando Botero, no Jardim Amália Rodrigues, Parque Eduardo VII, em Lisboa Palickap, Wikicommons

Botero, como era simplesmente conhecido, morreu em casa no principado do Mónaco, onde estava convalescente de uma pneumonia, confirmaram o jornalista e radialista Julio Sanchez e o jornal El País.

Talvez o mais conhecido artista colombiano, Fernando Botero expôs várias vezes em Portugal, nomeadamente em 2012, com a mostra de pintura e desenho "Via Crucis", no Palácio da Ajuda, e em 1997, com uma exposição de esculturas na Praça do Comércio, ambas em Lisboa.

Também em Lisboa, é possível ver uma escultura em bronze, intitulada "Maternidade", no topo do Parque Eduardo VII.

Nascido em Medellín, em 1932, o Mestre Botero afirmou numa entrevista ao El País, em 2019, que "a arte deve dar prazer, uma certa tendência a um sentimento positivo". Para logo acrescentar, "no entanto eu pintei coisas dramáticas. Sempre procurei coerência estética, mas pintei a violência, a tortura, a paixão de Cristo... A pintura dramática, a própria pintura, dá um prazer diferente".

"O prazer maior da pintura, a beleza, não coloca em oposição o dramático e o prazer", concluía. 

De origens muito humildes, Botero deu os primeiros passos de artista como ilustrador do jornal El Colombiano no final dos anos 40 do século XX.

Aos 25 anos já indiciava a sua tendência para a monumentalidade no óleo "Mandolina sobre uma cadeira". As suas pinturas de cores luminosas foram durante muitos anos outra das suas imagens de marca.

A carreira de Botero passou ainda pela Nova Iorque dos anos 60, em cujo meio artístico se sentiu como peixe fora de água e onde lutou para sobreviver com escassas dezenas de dólares no bolso.

A vida levou-o depois para Paris, onde o marcou uma das suas maiores tragédias pessoais, a perda do filho do segundo casamento, Pedro, de quatro anos, num acidente de viação. Botero perdeu aí também parte da sua mão direita. Durante meses o luto acompanhou-o e influenciou a sua obra.
As duas pombas
Considerado até hoje uma dos maiores artistas vivos e com mais obras expostas em todo o mundo, o mestre colombiano alcançou fama e popularidade mundiais a partir do anos 90 do século passado, quando as suas enormes esculturas começaram a ser exibidas em várias capitais do mundo.

O estilo volumoso esteve sempre presente na sua obra,
mesmo quando se dedicou à interpretação das torturas cometidas por soldados norte-americanos sobre prisioneiros detidos na prisão iraquiana de Abu Ghraib.

Botero viveu ainda no México e no Mónaco, nunca esquecendo contudo a sua Colômbia natal, sobretudo a dos anos 30 e 40, que tanto o havia influenciado. O artista defendia que uma obra de arte, quanto mais local for, mais universal se torna.

No início do século XXI, Fernando Botero doou toda a sua coleção de arte à Colômbia.

Muitas das suas obras estão expostas nos museus de Bogotá e de Medellin, que o  homenageou particularmente com a Praça Botero, um espaço público arborizado com mais de duas dezenas das suas esculturas. 

Talvez o seu legado mais significativo permaneça contudo o conjunto de  duas pombas esculpidas e exibidas nesta cidade.

A escultura original foi parcialmente destruída num atentado, que causou ainda 26 mortos. Como testemunho da violência que assolava a Colômbia, devido ao narcotráfico, Botero recusou substituí-la ou reconstruí-la. Em vez disso, ao seu lado colocou outra pomba, como símbolo da paz. Ambas permanecem assim no local, lado a lado.

com Lusa
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