Mostra de artista açoriano João Amado quer "provocar aproximação" entre peças e o observador

por Lusa

Um total de 35 colagens, do artista plástico açoriano João Amado, compõem uma exposição que é inaugurada no sábado, no Centro de Artes Contemporâneas, mostra que quer "provocar uma aproximação" e "intimidade entre as peças e o observador".

"A exposição integra 35 trabalhos de colagens e uma intervenção feita diretamente na instalação do Arquipélago. Já a segunda linha de trabalhos é inspirada nas trepadeiras e numa visão que fui registando ao longo dos trilhos que ia fazendo tanto em São Miguel como noutras ilhas, numa simbiose entre a figura humana e a vegetal", explicou hoje João Amado, em declarações à agência Lusa.

Natural da ilha de São Miguel, nos Açores, João Amado, 28 anos, é autodidata no universo da arte e é um artista plástico que recorre à técnica da colagem tradicional para compor a estrutura visual e conceptual do seu trabalho.

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara" é o título da exposição que João Amado inaugura no sábado, no Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas, na cidade da Ribeira Grande, em São Miguel, nos Açores, mostra que estará patente ao público até 16 de janeiro de 2022.

"É uma exposição que se divide em duas linhas de trabalho que são distintas na forma e complementares no contexto e que vão afunilar numa terceira peça que foi uma intervenção feita diretamente na janela do Arquipélago", disse João Amado.

Este conjunto de trabalhos, segundo acrescentou, "é composto por diversos cenários, contextos, situações ou diálogos, assentes numa linguagem surreal ou direcionada para a fantasia, e visa expor uma postura humana renovada: cedência no desejo pela predominância em prol de uma maior ligação e envolvência com os elementos naturais".

Em declarações à Lusa, o artista plástico explicou que, numa primeira linha, "as peças em si são pequenas miniaturas", que no fundo "obrigam" o observador a chegar-se "mais perto" do trabalho, um convite "a um olhar mais atento e um "apelo à reflexão sobre a nossa forma de estar, coabitar e interagir com o mundo ambiental/natural".

"A informação está lá, mas a pessoa tem de se chegar perto e acaba por ter um momento íntimo. As peças acabam por ser microuniversos onde o homem está sempre em diálogo ou com animais ou plantas", frisou João Amado, vincando que a exposição visa "sensibilizar e criar um abrandamento na forma como se contemplam conteúdos", e consciencializar para "um abraço mais forte" e a uma relação "mais íntima" entre "o homem e as suas raízes naturais".

Nós "andamos cegos, não porque não temos olhos, mas porque vemos as coisas e ainda assim não nos preocupamos com elas e seguimos o nosso rumo", disse o artista plástico, citando passagens da obra de José Saramago "Ensaio sobre a Cegueira".

Segundo o diretor do Arquipélago, João Mourão, citado numa nota, "são composições que, num primeiro olhar, nos parecem surrealistas e, nesse sentido, temporalmente desfasadas, mas se realmente as observarmos, são verdadeiras construções de um pensamento do agora, produções que partem da ecologia, da animalidade, da partilha e do equilíbrio entre todos os seres vivos".

De acordo com uma nota de imprensa divulgada pelo Arquipélago, João Amado "aborda temas em torno do espírito e da relação do homem com o mundo. Debruça-se numa visão centrada no surreal para transmitir sensações de viagem, pontes com a fantasia, e retornos ao mais natural/primitivo".

Já marcou presença em dois festivais internacionais de colagem: "Paste Up" (Cidade do México) e "Collagistas" (Bruxelas), e esteve presente na exposição inaugural do espaço VAGA em Ponta Delgada.

A exposição "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara" é promovida pela Secretaria Regional da Cultura, da Ciência e Transição Digital, através da Direção Regional da Cultura (DRC), por via do Arquipélago.

É inaugurada no próximo sábado, pelas 16:00 locais (17:00 em Lisboa).

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