Músico Paulino Vieira diz que a morna estagnou e caiu no "pimbalhaço"

por Lusa

O compositor e músico cabo-verdiano Paulino Vieira, autor e intérprete de algumas das mais famosas mornas, lamenta que este género musical tenha estagnado após o sucesso de Cesária Évora e que, desde então, tenha caído no "pimbalhaço".

"A morna não teve sucesso com Cesária. A morna estagnou, parou ali", disse Paulino Vieira, em entrevista à agência Lusa, em Lisboa.

O multifacetado artista, que conduziu e esteve com Cesária Évora no pico do seu sucesso, primeiro nos palcos de França e depois um pouco por todo o mundo, afirmou que, até 1992, ano em que é editado o aclamado mundialmente álbum "Miss Perfumado", com a direção musical de Paulino Vieira, a morna vinha a ser trabalhada com "arranjos e dignificação".

"É só o pessoal desencantar esses discos e encontrar a realidade. Todo o segredo da morna está metido nos discos que se gravaram até 1992, a partir daí a morna estagnou-se. Nunca mais se fez nada. Aquilo não foi sucesso, foi uma estagnação", afirmou.

No passado dia 20 de fevereiro, num espetáculo no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Paulino Vieira não tocou mornas e alguns espetadores estranharam, principalmente quando recusou pedidos nesse sentido.

O autor de "M`Cria Ser Poeta" disse que, para já, não vai tocar mornas, porque "a morna tornou-se símbolo da mafiaria".

E acrescentou que a verdadeira morna "já não existe". "Nem os cabo-verdianos sabem por que a morna é tocada dessa forma", disse, acrescentando: "Essa música estagnou-se, caiu no pimbalhaço".

Paulino estendeu as críticas à candidatura da morna a património mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), classificação que obteve em 2019.

"Quando trabalhei a morna, não o fiz para ser património da humanidade, mas para ser respeitada em qualquer parte do mundo. Não precisava ser património do Estado, porque o próprio cidadão cabo-verdiano tinha por direito defender a sua morna", indicou.

O cantor e multi-instrumentista disparou críticas ao dossier com a candidatura da morna a património mundial da UNESCO que, segundo disse, "tem histórias falsas", nomeadamente "gravações em que estão pessoas a tocar", mas que Paulino Vieira diz que era ele a tocar.

"Um documento aprovado mundialmente, sendo nele descoberto três falácias, já dava direito a ser desclassificado. A UNESCO foi e é e continuará a ser irresponsável por ter aprovado um folclore que não conhece".

E prosseguiu: "A morna passou a ser uma vítima de um flagrante, em que a sua história está falsificada e defraudada num documento que foi aprovado mundialmente".

Paulino Vieira afastou-se dos grandes espetáculos em 1996, continuando no entanto a criar a sua música que, afirmou, é do mundo e não tem fronteiras.

Cantor, compositor, arranjador e produtor, Paulino Vieira toca vários instrumentos, tendo-se destacado no piano, guitarra, cavaquinho, percussão e harmónica.

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