Navio-escola Sagres. Diário de Bordo 17 de janeiro

por António Louçã (jornalista) e Rui Manuel Silva (repórter de imagem) - RTP

António Louçã (jornalista) e Rui Manuel Silva (repórter de imagem) - RTP

O navio-escola Sagres está a cumprir desde o início de janeiro a viagem de circum-navegação, com partida em Lisboa. O percurso ocupará 371 dias. A bordo, durante parte da rota, seguem o jornalista António Louçã e o repórter de imagem Rui Silva.

Sexta-feira, 17 de Janeiro – Ontem, mudou a hora a bordo: a de Tenerife, igual à portuguesa continental, deu lugar à de Cabo Verde, igual à dos Açores. Hoje já não fomos despertados pelo toque de alvorada, e sim pela luz do sol nascente. Às 7 horas, a corneta já nos apanhou acordados.

Durante a noite houve bom vento e, no quarto entre a meia noite e as 4h da madrugada, a Sagres, navegando sempre à vela, chegou a ultrapassar os sete nós. Hoje de manhã mantinha uma velocidade à roda dos seis nós. Isso, disse-nos a navegadora, permitirá manter a navegação à vela por mais tempo, sem nos atrasarmos. Mas, mais para o meio da tarde, o vento caíu e chegou-se à conclusão de que amanhã será preciso recolher as velas redondas e voltar a fazer uso do motor.

Ontem, ao longo do dia, a única forma de vida animal que vimos foi uma alforreca enredada num dos extremos do “peixe” metálico do INESCTEC. Foi preciso trazer o “peixe” para bordo e libertá-lo dessa pendura indesejada que o bloqueava. Nas linhas de pesca que o navio continua a rebocar, nada, sempre nada – a não ser a constatação de que o isco tinha desaparecido. Já não foi mau que os anzóis tivessem ficado, mas a aposta de pescaria continuava a parecer mal parada.

Em Santa Cruz de Tenerife, tínhamos tido à saída do porto a companhia de golfinhos que durante quase uma hora nadaram ao lado da Sagres. Algumas baleias-piloto marcaram também presença nessa despedida. Daí em diante, nem baleias nem golfinhos durante vários dias. Hoje, pela madrugada, apareceram golfinhos pequenos a acompanhar o navio. E, a meio da tarde, reapareceram em força – pelo menos uma dúzia- - além de uma corpulenta tartaruga. Onde há golfinhos, há peixe, e a aposta de pescaria começou a afigurar-se mais viável. Falta a intervenção do factor sorte e haver algum peixe que morda o isco e o anzol.

Às 21 horas, estamos a 17º95' de latitude norte, em frente à costa da Mauritânia, a aproximar-nos da costa do Senegal. Mas, a cerca de 200 milhas, nada vemos de terra.

Hoje entrevistámos o cabo Jorge Lopes, gageiro da mezena, e um dos homens mais antigos a bordo da Sagres. Especializado como marinheiro de manobra, ainda a subir aos mastros quando é necessário, assume como seu dever principal o de incutir aos jovens da mesma especialidade o hábito das precauções que devem garantir-lhes a segurança.
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