Notícia da fuga de Cunhal da prisão foi censurada em Portugal mas muito difundida no exterior

por Lusa

Lisboa, 27 nov (Lusa) -- A notícia da fuga de Álvaro Cunhal e outros nove companheiros da prisão de Peniche em 1960 foi alvo de censura em Portugal, mas teve um grande impacto a nível internacional, escreve José Pacheco Pereira.

Segundo o historiador José Pacheco Pereira, que lança em dezembro o quarto volume da biografia política do histórico dirigente comunista Álvaro Cunhal, a censura impediu o conhecimento atempado dos acontecimentos, mas "o impacto internacional da fuga foi enorme".

"Da Europa às Américas e a África, do Congo Brazaville ao Peru, passando pela sensível imprensa brasileira, os jornais e as rádios noticiam o feito, conforme as suas simpatias políticas. A imprensa comunista exulta e a conservadora, em particular a espanhola, mostra preocupação", lê-se na obra que retrata, em 480 páginas, a vida de Cunhal e a história do Partido Comunista Português (PCP) entre 1960 e 1968.

Em Portugal, o impacto da fuga da cadeia situada no forte de Peniche, no sul do distrito de Leiria, "era mais visível nas conversas, no boca a boca entre os portugueses comuns, muito amplificado entre os que se opunham ao regime de Salazar e, como seria normal, entre os simpatizantes e militantes do PCP".

O historiador afirma que "a fuga foi feita e preparada em Portugal, com os meios de cá e acima de tudo com os homens que nela participaram cuja determinação, disciplina, coragem e capacidade conspirativa veio deles mesmo e da sua experiência".

Sobre eventuais apoios estrangeiros à fuga, Pacheco Pereira diz que se "se considerar que o reforço do apoio financeiro ao PCP oriundo do PCUS (Partido Comunista da União Soviética) e de outros partidos comunistas foi instrumental para financiar todo o processo de fuga, aí sim pode considerar-se haver intervenção internacional".

"Todos os preparativos da fuga, o uso de automóveis que se começa a generalizar para a direção do partido em vez das bicicletas e a rede larga de casas clandestinas revelam que ao PCP não faltavam recursos nesses anos", conclui.

Álvaro Barreirinhas Cunhal (1913-2005) filiou-se no PCP em 1931 e foi secretário-geral do partido entre 1961 e 1992.

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