Nova orquestra Real Câmara vai recuperar repertório barroco português

por Lusa

A recuperação do "legado orquestral do barroco português" é o objetivo na base da criação da orquestra de época Real Câmara, com direção artística do maestro Enrico Onofri, que foi anunciada hoje pelo Movimento Patrimonial da Música Portuguesa (MPMP).

A orquestra, que vai dar o concerto inaugural no dia 2 agosto, em Lisboa, "tem por principal missão a recuperação e divulgação de repertório setecentista português, em Portugal e no estrangeiro, assim como do trabalho de músicos portugueses desenvolvido na área da interpretação historicamente informada", informa o MPMP.

O movimento recorda que, embora "a maior parte das obras dos compositores ativos em Portugal", da geração setecentista, tenha desaparecido, "infelizmente", no terramoto de 1755, em Lisboa, "um trabalho prolongado de investigação musicológica possibilita, hoje, a escuta de parte do repertório sobrevivente", além de permitir revelar "um pouco desta `época de ouro` da história da música portuguesa".

A orquestra é constituída por 16 músicos e terá a direção artística do maestro e violinista italiano Enrico Onofri, que soma décadas de interpretação e investigação na área da interpretação historicamente informada.

O concerto inaugural da orquestra acontecerá ao final da tarde do próximo dia 02 de agosto, na sala D. Luís do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa.

O programa, sob o título "Dal Tevere al Tago" ("Do Tibre ao Tejo"), apresenta um programa de peças de compositores italianos e portugueses do reinado de João V, algumas em estreia moderna, como "Ogni fronda chè mossa dal vento", da serenata "Il vaticinio di Pallade, e di Mercurio", de Francisco António de Almeida (1703-1754), que foi um dos bolseiros portugueses em Itália, nessa época, e que foi apresentada no Palácio Real da Ribeira, em 1731, culminando "com louvores ao rei magnânimo".

Em estreia moderna, são também apresentadas as obras de Rinaldo di Capua (1705-1780), "Nacqui agli affani in seno", ária do `dramma per musica` "Catone in Utica" e "Tutti nemeci e rei, tutti tremar dovete", de "Adriano in Siria", e ainda, de Giovanni Bononcini (1670-1747), "Mio sposo t` arresta", ária de "Farnace".

 A par das estreias modernas mundiais, como a do Divertimento I, de Pedro Jorge Avondano (1692-1755), neste concerto há também algumas estreias nacionais, como a do 1.º Concerto `à violino principale`, de Gaetano Maria Schiassi (1698-1754).

A Real Câmara também vai apresentar este programa, no dia seguinte, na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra.

O maestro e violinista Enrico Onofri, de 54 anos, `nome-chave` ao nível da interpretação e da investigação da música pré-romântica, desde meados da década de 1980, trabalhou com orquestras e agrupamentos como Concentus Musicus Wien, Ensemble Mosaïques e Concerto Italiano, e com regentes como Gustava Leonhardt, Nikolaus Harnoncourt e Jordi Savall, tendo sido `concertmaster` da La Capella Reial de Catalunya, assim como da orquestra Il Giardino Armonico.

Em 2002 iniciou a carreira como maestro, tendo dirigido várias orquestras, em digressões, concertos e festivais na Europa, no Japão e no Canadá.

De 2004 a 2013, foi maestro da orquestra portuguesa de época Divino Sospiro, e, desde 2006, é maestro convidado da Orquestra Barroca de Sevilha.

Onofri já dirigiu ensembles como a Camerata Berna, Akademie für Alte Musik Berlin, Symphoniker Bochumer, Orquestra de Cordas do Festival Lucerna, Kammerorchester Basel, Orchestra Ensemble Kanazawa, Cipango Consort Tóquio, Real Orquestra Sinfónica de Sevilha, Orquestra de Clermont-Ferrand, Orquestra de Opéra de Lyon, Orquestra Sinfónica da Galiza, entre outras.

Fundou o grupo de câmara Imaginarium Ensemble, dedicado ao repertório barroco italiano.

Enrico Onofri é professor de violino barroco e interpretação de música barroca no Conservatório Bellini, em Palermo, Itália, desde 2000.

Em 2011 foi convidado para lecionar uma "masterclasse" na Juilliard School, em Nova Iorque.

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