Obra gráfica de Henrique Ruivo, combatente pela liberdade, vai ser exposta em Lisboa

por Lusa

A obra gráfica e de pintura de Henrique Ruivo, "um artista comprometido com a causa da liberdade", vai estar exposta a partir de sábado na galeria e livraria Tinta nos Nervos, em Lisboa.

"Nascido em plena ditadura, no Alentejo, Henrique Ruivo (1935-2020) deu voz no seu trabalho gráfico e plástico ao combate pela liberdade, à resistência e à aspiração por dias melhores", afirma a galeria e livraria em nota de imprensa.

Esse trabalho gráfico, feito sobretudo na década de 1970, é o foco da exposição "Boato", reunindo ilustração, cartoon político, caricatura, capas de discos, cartazes, serigrafias, mas também alguma pintura e escultura.

De acordo com os responsáveis pela Tinta nos Nervos, a maior parte dos desenhos a expor são inéditos, muitos dos quais produzidos no contexto da revista Seara Nova, e as pinturas e esculturas raramente foram vistas depois da sua primeira apresentação pública.

Na obra de Henrique Ruivo, "sátira e crítica mais aguerrida caminham sempre de mãos dadas com uma transbordante alegria de poder participar nos dias da revolução".

Nascido em Borba em 1935, Henrique Ruivo estudou Medicina em Lisboa, mas abandonou o curso para estudar Escultura. Nos anos 1960 mudou-se para Roma, só regressando a Portugal depois da revolução de Abril de 1974.

A exposição na Tinta nos Nervos revela, por exemplo, o jornal O Cacete (1969), uma publicação autoeditada, impressa em Roma e cujo primeiro número teve uma tiragem de centenas de exemplares, "distribuídos clandestinamente por vários núcleos de resistentes antifascistas em Itália, França, Inglaterra, Argélia e Portugal".

A galeria sublinha ainda a existência de um cartão de boas festas com a caricatura de António de Oliveira Salazar, que foi enviado para Portugal dentro de um bolo para ser distribuído em segredo, ou ainda os cartazes e as pinturas murais coletivas feitas pelo país.

Henrique Ruivo expôs pela primeira vez a solo em 1965 na Galeria Latina, em Estocolmo, seguindo-se exposições individuais nos anos seguintes em Lisboa, Porto, Funchal, Tavira, mas também em Itália e no México.

Além da prática da escultura e pintura, Henrique Ruivo fez ainda cenografia para teatro e cinema, foi professor no ensino secundário, fez capas para livros, "muitos em sintonia visual com o que vinha a desenvolver na pintura desde inícios de 1970", e ilustrações para livros para crianças.

A obra de Henrique Ruivo está representada em coleções privadas e públicas e integra, nomeadamente, o Museu Calouste Gulbenkian e o Centro de Arte Manuel de Brito.

A exposição dedicada a Henrique Ruivo, que morreu em fevereiro de 2020 aos 84 anos, ficará patente na Tinta nos Nervos até 18 de maio.

A propósito da exposição, a Tinta nos Nervos fez uma nova impressão, de curta tiragem, do jornal O Cacete, de 1969, e duas novas peças gráficas a partir do cartaz Boato, de Henrique Ruivo.

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