Peça "Monstro de Bruxelas" mostra em Coimbra a Europa à deriva

por Lusa

Alunos finalistas de teatro da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) apresentam na quinta-feira o espetáculo "Monstro de Bruxelas", que mostra uma Europa à deriva, sem coordenação ou diálogo.

A peça, com dramaturgia do francês David Lescot, desenrola-se em Bruxelas, onde um grupo de artistas de diferentes países apresenta criações para uma nova Capital Europeia da Cultura.

No palco, surgem as "frustrações de se conseguir diálogo e coordenação" numa Europa em que os europeus não conseguem ter voz ou poder e em que, apesar da identidade comum, "cada um se quer safar" num continente "sem rumo", disse à agência Lusa o encenador do espetáculo, Ricardo Correia.

Em "Monstro de Bruxelas", cada nacionalidade tem um "status" diferente. Enquanto criadores do sul da Europa (e mais tarde de países da Europa de leste) gladiam pelo melhor e maior projeto, há uma figura alemã, acima de todas as outras, que se limita a contabilizar votos, dizendo, numa voz autoritária e fria, "ja" (sim) e "nein" (não), pautando assim o ritmo dos artistas - ora autorizando ora negando determinados movimentos.

No meio da equação, surgem ainda funcionários europeus que, ao contrário de promoverem um diálogo, vigiam e controlam os criadores.

"Hoje, sinto que fomos traídos pelos ditames europeus, que impõem regras, medidas de austeridade que enfraquecem a nossa democracia e soberania nacional e sobretudo nos fazem reféns de ditames financeiros", afirma Ricardo Correia, no texto de apresentação da peça criada por David Lescot sob o signo do Ano Europeu do Diálogo Intercultural, em 2008.

Ao longo de duas horas de espetáculo, há o caos das vozes que se procuram sobrepor, o sonho frustrado dos funcionários europeus de não haver intérpretes, o hino da alegria transformado em música de supermercado e a presença constante da voz alemã.

Apesar de o texto ter sido escrito em 2007, os problemas presentes no mesmo surgem hoje "mais reforçados", constata uma das atrizes da peça, Vânia Rocha.

"A Europa tem tantos países e com tanta diversidade cultural, mas não comunica. Não há diálogo. A partilha de culturas é algo que não é conseguido e os países vivem fechados sobre si", aponta.

Para a também finalista de teatro da ESEC Cátia Gonçalves, o tema torna-se ainda mais relevante num momento em que se fala da saída do Reino Unido da União Europeia.

A peça é interpretada por dez alunos finalistas de teatro, que estão também responsáveis pela pré-produção e produção da peça, naquele que é o seu exercício final antes de terminarem a licenciatura.

A peça vai estar em exibição de quinta-feira a 09 de julho na Oficina Municipal do Teatro, em Coimbra.

O bilhete de entrada custa quatro euros.

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