Personalidades da Cultura recordam o "político digno e culto", nas redes sociais

por Lusa

Personalidades da Cultura, como o músico Pedro Abrunhosa, o ator Ruy de Carvalho, o encenador Tiago Rodrigues e a escritora Luísa Ducla Soares, recorreram às redes sociais para recordarem o antigo Presidente da República Jorge Sampaio, que morreu hoje.

"O político digno e culto", o "melhor que conseguimos", "um homem maior do que um país" são algumas das afirmações usadas para recordar o antigo Presidente da República, por escritores, compositores, músicos, atores, artistas, de diferentes áreas.

Pedro Abrunhosa partilhou uma mensagem, na qual se dirige ao seu "querido Presidente" e "profundo amigo" Jorge Sampaio, referindo que, estar ao lado do antigo chefe de Estado, "era sentir a imensidão da montanha e ser bafejado pela luz do Bem".

"Poucos homens ao serviço do País tiveram simultaneamente a sua grandiosidade humana e o desapego pela ribalta, pelos holofotes, pela materialidade. O cargo era apenas um meio para lançar sementes de união e concórdia. Nada mais. A sua simplicidade, o exemplo maior do verdadeiro significado da política. Serviu os portugueses com a emoção dos justos, defendeu cada um de nós com a paixão dos firmes e, no teatro internacional, representou o nosso chão e a nossa língua com o Amor dos sábios", considerou Pedro Abrunhosa.

O músico recorda também que "a luta generosíssima" de Jorge Sampaio, "que o levou aos calabouços da PIDE, contra as trevas do Estado Novo, permitiu" aos portugueses "crescer num País democrático e livre".

Pedro Abrunhosa salienta que a Democracia "deve muito" a Jorge Sampaio, tal como cada português "lhe deve a capacidade acreditar num futuro de cabeça erguida".

O ator Ruy de Carvalho recorda o dia em que Jorge Sampaio o condecorou, "em cena no Teatro Nacional D. Maria II, numa das últimas representações do `Rei Lear`".

"Não sei quem chorou mais, se eu, se ele. Estávamos tão emocionados que a condecoração ficou um pouco torta e ambos só conseguíamos agradecer um ao outro. Nunca esquecerei esse dia, Dr. Jorge Sampaio. Pela sua sensibilidade, pela sua simplicidade, pelo seu cuidado que sempre mostrou pelos mais velhos deste país", partilhou numa publicação.

O encenador Tiago Rodrigues, atual diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, despede-se de Jorge Sampaio numa publicação dedicada a quem, "pela integridade, coragem e brilhantismo", sempre considerou e garante que continuará a considerar, o seu Presidente: "Meu Presidente".

A escritora Luísa Ducla Soares recorda o "menino de cabelinhos cor de cenoura", colega de turma na infantil e na primária no Queen Elisabeth School, com quem "brincava no recreio".

"Daí vem uma antiquíssima amizade que se acrescentou com as lutas estudantis dos anos 60, e com o interesse que ele, como nenhum outro presidente, dedicou às crianças na sua presidência, pedindo-me para lhe fazer um `site` para os mais novos com uma visita ao palácio, sobre a República, o 25 de Abril. Além de uma página para as crianças e jovens escreverem ao Presidente. E todos tinham uma resposta", recordou a autora, que tem muitas obras dirigidas ao público infantil.

Também do campo da literatura, Richard Zimler, lembrou um episódio passado em 2000, quando o então presidente dos Estados Unidos Bill Clinton visitou Portugal.

"O Alexandre [Quintanilha, investigador e marido do escritor] organizou a sua visita ao Pavilhão do Conhecimento. Correu muitíssimo bem. O Alexandre foi convidado ao jantar para o Clinton no Palácio Presidencial. O funcionário do Palácio perguntou-lhe se queria ser acompanhado pela sua esposa. O Alexandre respondeu que queria um convite para mim. O funcionário disse que talvez não fosse possível. Seria a primeira vez que um homem seria acompanhado oficialmente por outro homem. Nesse mesmo dia recebi um convite. E o funcionário disse que o Presidente Jorge Sampaio aprovou o pedido com muito prazer. E no jantar ele apresentou-nos ao Clinton como um casal (com a sua esposa Maria José Ritta a sorrir calorosamente a mim e ao Alexandre)", partilhou o escritor.

Já o escritor Rui Cardoso Martins lembra a personagem criada para o programa de televisão Contra-Informação, de cuja equipa de argumentistas fazia parte, para recordar Jorge Sampaio.

"No Contra-Informação chamámos-lhe Jorge Compaio, isto é, Jorge com sorte. Mas a sorte foi ele quem a fez nas lutas corajosas contra a ditadura e, mais tarde, na defesa -- emotiva, mas racional - da democracia, da justiça e da liberdade em Portugal e no Mundo. Viva o Presidente Sampaio", escreveu numa publicação.

O pianista Nuno Vieira de Almeida, por seu lado, recorda "um aspecto que nunca será demais destacar: a importância que [Jorge Sampaio] sempre deu à cultura. (...) Para a esmagadora maioria dos políticos, indiferente o partido, a cultura é um berloque que serve para os ataviar. Para Jorge Sampaio, creio eu, era uma questão identitária. E é isso que o torna diferente pois, muito mais importante do que a recepção depois da `première`, é a cultura que define o povo e o país. Ficamos muito mais pobres sem ele."

Quanto ao pianista Pedro Burmester, publica uma fotografia abraçado a Jorge Sampaio, e escreve: "Há abraços que sentimos para sempre. Gosto e admiro Jorge Sampaio. Sentirei a sua falta."

A historiadora Irene Flunser Pimentel escreveu: "Um homem bom e decente que fez a diferença, também pela ética. Obrigada, Presidente Jorge Sampaio".

O compositor Sérgio Azevedo, a fadista Mariza, o cantor Agir, o cartoonista e ilustrador André Carrilho, o baterista dos Xutos & Pontapés, Kalu, e o mágico Luís de Matos foram outras das personalidades da Cultura que usaram as redes sociais para expressarem pesar pela morte de "um político digno e culto", "um dos melhores", "um grande amigo", "grande homem", de "caráter excecional" e "sempre na frente da luta pela liberdade e igualdade".

A fadista Cuca Roseta definiu Jorge Sampaio como "um homem maior do que um país".

A ilustradora e artista gráfica Ivone Ralha foi definitiva: "Jorge Sampaio. O melhor que conseguimos."

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio morreu hoje, aos 81 anos, no hospital de Santa Cruz, em Lisboa.

Antes do 25 de Abril de 1974, foi um dos protagonistas da crise académica do princípio dos anos 60, que gerou um longo e generalizado movimento de contestação estudantil ao Estado Novo, tendo, como advogado, defendido presos políticos durante a ditadura.

Jorge Sampaio foi secretário-geral do PS (1989-1992), presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1995) e Presidente da República (1996 e 2006).

Após a passagem pela Presidência da República, foi nomeado, em 2006, pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e, entre 2007 e 2013, foi alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.

Atualmente presidia à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, fundada por si em 2013 com o objetivo de contribuir para dar resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens sem acesso à educação.

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