PM de Cabo Verde enaltece apoio internacional na candidatura da morna a património mundial

por Lusa

O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, enalteceu hoje o apoio de Portugal, da CPLP e da CEDEAO no processo de candidatura da morna a Património Imaterial da Humanidade, salientando que a decisão não teve influência política.

O chefe do Governo cabo-verdiano falava, na cidade da Praia, no ato de atribuição de medalhas de mérito do primeiro grau a 19 personalidades que elaboraram o dossiê técnico e científico da candidatura do género musical morna a Património Imaterial Cultural da Humanidade, distinção atribuída pela UNESCO há uma semana.

Além das personalidades cabo-verdianas galardoadas, Ulisses Correia e Silva enalteceu o apoio de Portugal, através da embaixadora no país, Helena Paiva, bem como do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa.

O dossiê cabo-verdiano, que começou a ser preparado em 2017, contou com o apoio técnico de Portugal e com a colaboração do antropólogo Paulo Lima, especialista português na elaboração de processos de candidatura a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, como o fado, o cante alentejano e a arte chocalheira.

Outro técnico português que participou no processo foi Augusto Brásio, que segundo Ulisses Correia e Silva também vai condecorado, tal como Paulo Lima.

O primeiro-ministro sublinhou ainda o apoio de todos os restantes membros da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP) e da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), bem dos 24 países que fazem parte do processo de decisão.

"Aquilo que sentimos, esta vontade, este comprometimento, deu força a todo o mundo para que nós pudéssemos sentir que estávamos convencidos de que iríamos ter sucesso", afirmou Ulisses Correia e Silva, que destacou a qualidade do dossiê apresentado por Cabo Verde, salientando que a decisão não teve influência política.

Para o chefe do Governo cabo-verdiano, a condecoração às personalidades é um "momento especial", para dar palco àqueles que "são o fundamento e a razão" da classificação da morna como Património Imaterial da Humanidade.

O processo de candidatura da morna a património mundial foi coordenado pelo Instituto do Património Cultural (IPC), presidido por Jair Fernandes, que foi um dos galardoados.

Em representação dos homenageados, Sandra Mascarenhas, diretora do Património Imaterial do IPC, considerou que se trata de um "reconhecimento merecido" à equipa técnica e também a mais de 300 pessoas que de alguma forma participaram no processo de candidatura.

Sandra Mascarenhas esclareceu que a UNESCO não avaliou a morna enquanto género musical, porque não constituiu propósito da organização classificar, hierarquizar ou determinar a importância, relevância ou projeção da música em relação a outros géneros musicais.

Também esclareceu que a elevação da morna a património mundial não significa, "em momento algum", afirmar a sua superioridade em relação às demais práticas sociais ou géneros musicais, e também não significa que os especialistas internacionais comungam do sentimento dos cabo-verdianos da morna como alma do povo.

"A avaliação recai única e exclusivamente sobre a qualidade técnica do dossiê, a habilidade de traduzir em tecnicidade todo o conhecimento acumulado ao longo de séculos, toda a investigação e todo esse sentimento que é exposto, vivido e transmitido na morna", realçou.

Enaltecendo também o empenho da cooperação portuguesa, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, destacou igualmente a qualidade técnica do dossiê elaborado pelo IPC e a confiança depositada pelo primeiro-ministro no processo.

Para o ministro, o ato de reconhecimento público significa que o processo era fundamental, uma vez que "a morna sempre existiu", e que "instituições fortes e credíveis engrandecem o país".

"Emociono-me muito mais hoje por ver os técnicos reconhecidos e por dar a conhecer ao país a cara, o apelido e o nome de cada um de vós, do que no dia em que nos foi reconhecida a adoção da morna como património da humanidade", afirmou Abraão Vicente.

A morna, género musical típico de Cabo Verde, foi classificada como Património Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), durante a 14.ª reunião anual do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da organização, que decorre desde segunda-feira no Centro de Congressos Agora, em Bogotá, Colômbia.

Considerada popularmente "música rainha" de Cabo Verde, como recorda "Nôs morna", uma das mais conhecidas mornas, do poeta Manuel d`Novas, o dossiê da sua candidatura a Património Imaterial Cultural da UNESCO, com mais de 1.000 páginas e cerca de 300 entrevistas, foi formalmente entregue pelo Governo cabo-verdiano em 26 de março de 2018.

De acordo com o dossiê da candidatura, o género musical terá surgido no século XIX, não sendo consensual a origem do nome e ilha onde nasceu: Boa Vista ou Brava.

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