Português Dinis Sousa nomeado maestro assistente do britânico John Eliot Gardiner

por Lusa

Londres, 11 out (Lusa) - A nomeação de Dinis Sousa para maestro assistente do Coro Monteverdi e Orquestras "é uma honra enorme" porque formaliza o trabalho com o britânico John Eliot Gardiner, com quem já está em digressão nos EUA, afirmou o português.

"Não havia dúvidas sobre aceitar o lugar. É uma oportunidade única e que não sonhava que fosse sequer possível, portanto mal surgiu esta possibilidade fiquei logo muito entusiasmado e honrado com a proposta", disse o músico portuense à agência Lusa.

A nomeação de Dinis Sousa, de 30 anos, para maestro assistente, uma posição que não existia, foi anunciada no início desta semana e considerada relevante por diversas publicações especializadas porque é a primeira vez que o comando do Coro Monteverdi e das duas orquestras associadas é partilhado pelo britânico desde a fundação, em 1964.

O grupo começou com o Coro Monteverdi, hoje considerado um dos melhores e mais versáteis do mundo, abrangendo obras que vão desde Monteverdi a Stravinsky, mas 13 anos mais tarde Gardiner criou a orquestra English Baroque Soloists para trabalhar com o Coro, usando instrumentos de época.

Em 1990, Gardiner fundou a Orchestre Révolutionnaire et Romantique para interpretar repertório romântico, também com instrumentos de época, começando por tocar e gravar música de Beethoven e Berlioz.

É com esta última orquestra que Dinis Sousa está atualmente em digressão nos EUA, onde está a apresentar dois programas inteiramente dedicados a Berlioz, tendo previstos dois concertos no Carnegie Hall de Nova Iorque, no domingo e na segunda-feira.

Ser assistente de John Eliot Gardiner é "muito especial" para o português, que se identifica com o trabalho dele, maestro que cresceu a escutar e começou a acompanhar de perto quando se mudou para Londres, para estudar Direção de Orquestra na Guildhall School of Music and Drama.

"Tentava ir assistir aos ensaios e aos concertos quando podia, e estes eram sempre uma inspiração para mim. Portanto, ter agora um trabalho regular com estes grupos é mesmo muito especial. Nos últimos tempos, tenho já trabalhado em alguns projetos com o Gardiner e isto tem sido uma curva de aprendizagem enorme e uma experiência absolutamente marcante", disse à Lusa.

O regente português conta que, "além do repertório extraordinário, poder conviver e aprender com um músico deste nível, com a sua energia inesgotável, que está constantemente a explorar e a encontrar algo novo na música que todos já conhecemos tão bem, é algo que me tem influenciado imenso.

Na sua opinião, o maestro britânico, atualmente com 75 anos, é um dos mais importantes e marcantes da atualidade, que revolucionou a forma como se ouve e interpreta música de diferentes compositores, de diferentes épocas, tendo em conta os diferentes contextos históricos em que surgiu, e que produziu uma série de gravações consideradas de referência para músicos, apreciadores de música e para a história da interpretação, nos últimos 50 anos.

Gardiner, citado no comunicado do Coro Monteverdi e Orquestras, elogiou Dinis Sousa pelo seu "talento impressionante" e pela sua versatilidade, lembrando a colaboração numa "série de tarefas difíceis", nomeadamente na assistência durante os `Proms` de 2016 (o festival organizado anualmente pela BBC, em Londres), na produção de "Oedipus Rex", ópera de Stravinsky, com a Filarmónica de Berlim, e em vários projetos com a Orquestra Sinfónica de Londres.

O português espera poder beneficiar da experiência e conhecimento do britânico para continuar com o próprio projeto da Orquestra XXI, que fundou em 2013 para realizar concertos de música clássica em Portugal, com músicos que residem e trabalham no estrangeiro.

"Trabalhar com o Gardiner é uma enorme ajuda, uma vez que ele está a par de todos os programas, e podemos discutir muito sobre as obras, o que é sempre uma estimulante aprendizagem para mim", adiantou.

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