O autor da obra "As Pessoas Invisíveis" recebe o prémio literário que conta também com o valor monetário de 50 mil euros. O prémio Leya não tinha sido atribuído nos últimos dois anos.
O autor português José Carlos Costa Barros venceu o prémio Leya deste ano com o livro "As Pessoas Invisíveis". Trata-se de um dos principais galardões de romances escritos em língua portuguesa. Para além do reconhecimento, o autor recebe um prémio de 50 mil euros e um contrato de publicação.
José Carlos Costa Barros já teve outras obras publicadas, nomeadamente de poesia, e também já tinha sido finalista do prémio Leya na edição de 2012. O autor, arquiteto paisagista de profissão, foi também deputado do PSD pelo círculo de Faro entre 2015 e 2019. Foi ainda antigo diretor do Parque Natural da Ria Formosa.
Em declarações à RTP, a jornalista Isabel Lucas, que integrou o júri, destaca o domínio do tempo e do espaço na narrativa da obra "As Pessoas Invisíveis" e enfatiza a importância da construção da personagem central, Xavier, que acredita que tem capacidades de "curandeiro".
"É uma personagem muito rica, uma personagem ambígua. Não é um homem bom, não é um homem mau, é um homem complexo", refere a jornalista.
"Quando parece que estamos a cair em clichés ele surpreende sempre, foge ao óbvio. É um livro muito bem feito na perspetiva da estrutura, do domínio da linguagem e da criação de uma personagem, muito rica e muito forte", acrescenta em declarações à RTP. Destaca também o papel desempenhado pelos "anónimos" da história, "figuras diáfanas" da narrativa.
No comunicado disponível no site da Leya, o júri informa que houve 732 romances originais a concurso, dos quais 14 foram selecionados para apreciação.
"As Pessoas Invisíveis é uma viagem por vários tempos da história recente de Portugal desde a década de quarenta do século XX narrado a partir de uma personagem ambígua, Xavier, que age como se tivesse um dom ou como se precisasse de acreditar que tivesse um dom. Dos anos 40 do século XX, com a ambição do ouro, a posição de Salazar face à Guerra, a guerra colonial com todas as questões que hoje levanta, o nascimento e os primeiros anos da democracia", destaca o juri.
Destacam ainda a particularidade do livro dar a palavra a "quem não a costuma ter". "Os habitantes do mundo rural ou os negros das colónias. São seres quase diáfanos que sublinham uma sensação de quase perdição que atravessa todo o livro e constitui um dos seus pontos mais magnéticos", sublinham.
O júri entendeu ainda destacar "o trabalho de linguagem, o domínio de uma oralidade telúrica a contrastar com a riqueza de vocabulário e de referências histórico-sociais".
A obra de José Carlos Barros e os anteriores vencedores
Entre os livros já publicados por José Carlos Barros destacam-se os de
poesia, desde "Uma Abstracção Inútil", "Todos os Náufragos", "Teoria do
Esquecimento", "Pequenas Depressões" e "As Leis do Povoamento". Em 2009
venceu o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama com o livro "Sete
Epígonos de Tebas".
O primeiro livro de prosa, "O Dia em Que o Mar Desapareceu" foi
publicado em 2003 e o livro "O Prazer e o Tédio" foi o primeiro romance.
Com o romance "Um Amigo Para o Inverno", foi finalista do Prémio Leya
2012.
José Carlos Barros nasceu em Boticas a 19 de julho de 1963, tendo-se licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora. Vive no Algarve, em Vila Nova de Cacela. Para além de ex-deputado do PSD entre 2015 e 2019, ocupou cargos autárquicos, tendo sido vice-presidente da Câmara de Vila Real de Santo António e presidente da Assembleia Municipal da mesma autarquia. Tem-se dedicado a vários projetos de ordenamento do território e conservação da natureza.
O júri deste prémio tem Manuel Alegre como presidente, sendo que a edição presente contou com a avaliação da poetisa angolana Ana Paula Tavares, a jornalista portuguesa Isabel Lucas, o professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Coimbra José Carlos Seabra Pereira, o professor de Letras e ex-reitor da Universidade Politécnica de Maputo, Lourenço do Rosário, o escritor Nuno Júdice e o editor, jornalista e tradutor brasileiro Paulo Werneck.
"No início da reunião, Lourenço do Rosário fez uma declaração de protesto contra as medidas da União Europeia, no sentido de proibir os voos para Moçambique e outros países da África Austral. Os membros do Júri associaram-se a esta tomada de posição", refere o comunicado da Leya, em referência às atuais restrições em vigor devido à nova variante de Covid-19.
O Prémio Leya "é atribuído por prova cega, sendo a autoria dos romances desconhecida ao longo de todo o processo de leitura e avaliação". "A autoria do romance vencedor, selada em sobrescrito, apenas é conhecida depois de tomada a decisão do júri", explica o grupo editorial no seu site.
"Torto Arado", de Itamar Vieira Junior, vencedor em 2018, tinha sido o último a receber este prémio.