Prémio Leya 2021 atribuído a José Carlos Costa Barros

por Andreia Martins - RTP
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O autor da obra "As Pessoas Invisíveis" recebe o prémio literário que conta também com o valor monetário de 50 mil euros. O prémio Leya não tinha sido atribuído nos últimos dois anos.

O autor português José Carlos Costa Barros venceu o prémio Leya deste ano com o livro "As Pessoas Invisíveis". Trata-se de um dos principais galardões de romances escritos em língua portuguesa. Para além do reconhecimento, o autor recebe um prémio de 50 mil euros e um contrato de publicação.

José Carlos Costa Barros já teve outras obras publicadas, nomeadamente de poesia, e também já tinha sido finalista do prémio Leya na edição de 2012. O autor, arquiteto paisagista de profissão, foi também deputado do PSD pelo círculo de Faro entre 2015 e 2019. Foi ainda antigo diretor do Parque Natural da Ria Formosa.

Em declarações à RTP, a jornalista Isabel Lucas, que integrou o júri, destaca o domínio do tempo e do espaço na narrativa da obra "As Pessoas Invisíveis" e enfatiza a importância da construção da personagem central, Xavier, que acredita que tem capacidades de "curandeiro".
"É uma personagem muito rica, uma personagem ambígua. Não é um homem bom, não é um homem mau, é um homem complexo", refere a jornalista.

"Quando parece que estamos a cair em clichés ele surpreende sempre, foge ao óbvio. É um livro muito bem feito na perspetiva da estrutura, do domínio da linguagem e da criação de uma personagem, muito rica e muito forte", acrescenta em declarações à RTP. Destaca também o papel desempenhado pelos "anónimos" da história, "figuras diáfanas" da narrativa.

No comunicado disponível no site da Leya, o júri informa que houve 732 romances originais a concurso, dos quais 14 foram selecionados para apreciação.

"As Pessoas Invisíveis é uma viagem por vários tempos da história recente de Portugal desde a década de quarenta do século XX narrado a partir de uma personagem ambígua, Xavier, que age como se tivesse um dom ou como se precisasse de acreditar que tivesse um dom. Dos anos 40 do século XX, com a ambição do ouro, a posição de Salazar face à Guerra, a guerra colonial com todas as questões que hoje levanta, o nascimento e os primeiros anos da democracia", destaca o juri.

Destacam ainda a particularidade do livro dar a palavra a "quem não a costuma ter". "Os habitantes do mundo rural ou os negros das colónias. São seres quase diáfanos que sublinham uma sensação de quase perdição que atravessa todo o livro e constitui um dos seus pontos mais magnéticos", sublinham.

O júri entendeu ainda destacar "o trabalho de linguagem, o domínio de uma oralidade telúrica a contrastar com a riqueza de vocabulário e de referências histórico-sociais".
A obra de José Carlos Barros e os anteriores vencedores
Entre os livros já publicados por José Carlos Barros destacam-se os de poesia, desde "Uma Abstracção Inútil", "Todos os Náufragos", "Teoria do Esquecimento", "Pequenas Depressões" e "As Leis do Povoamento". Em 2009 venceu o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama com o livro "Sete Epígonos de Tebas".

O primeiro livro de prosa, "O Dia em Que o Mar Desapareceu" foi publicado em 2003 e o livro "O Prazer e o Tédio" foi o primeiro romance. Com o romance "Um Amigo Para o Inverno", foi finalista do Prémio Leya 2012.

José Carlos Barros nasceu em Boticas a 19 de julho de 1963, tendo-se licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora. Vive no Algarve, em Vila Nova de Cacela. Para além de ex-deputado do PSD entre 2015 e 2019, ocupou cargos autárquicos, tendo sido vice-presidente da Câmara de Vila Real de Santo António e presidente da Assembleia Municipal da mesma autarquia. Tem-se dedicado a vários projetos de ordenamento do território e conservação da natureza.

O prémio Leya é atribuido desde 2008 a romances inéditos de todo o mundo, escritos em língua portuguesa. Em 2010, 2016 e em 2019 o júri não atribuiu o galardão, justificando "falta de qualidade" das obras que se tinham candidatado. No ano passado, o prémio criado em 2008 foi suspenso devido à pandemia.

O júri deste prémio tem Manuel Alegre como presidente, sendo que a edição presente contou com a avaliação da poetisa angolana Ana Paula Tavares, a jornalista portuguesa Isabel Lucas, o professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Coimbra José Carlos Seabra Pereira, o professor de Letras e ex-reitor da Universidade Politécnica de Maputo, Lourenço do Rosário, o escritor Nuno Júdice e o editor, jornalista e tradutor brasileiro Paulo Werneck.

"No início da reunião, Lourenço do Rosário fez uma declaração de protesto contra as medidas da União Europeia, no sentido de proibir os voos para Moçambique e outros países da África Austral. Os membros do Júri associaram-se a esta tomada de posição", refere o comunicado da Leya, em referência às atuais restrições em vigor devido à nova variante de Covid-19. 

O Prémio Leya "é atribuído por prova cega, sendo a autoria dos romances desconhecida ao longo de todo o processo de leitura e avaliação". "A autoria do romance vencedor, selada em sobrescrito, apenas é conhecida depois de tomada a decisão do júri", explica o grupo editorial no seu site.

No passado, foram distinguidos os romances "O Rastro do Jaguar", do brasileiro Murilo Carvalho (2008), "O Olho de Hertzog", do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho (2009), "O Teu Rosto Será o Último", de João Ricardo Pedro (2011), "Debaixo de Algum Céu", de Nuno Camarneiro (2012), "Uma Outra Voz", de Gabriela Ruivo Trindade (2013), "O Meu Irmão", de Afonso Reis Cabral (2014), "O Coro dos Defuntos", de António Tavares (2015) e "Os Loucos da Rua Mazur", de João Pinto Coelho (2017).

"Torto Arado", de Itamar Vieira Junior, vencedor em 2018, tinha sido o último a receber este prémio.
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