Programador Augusto M. Seabra doa acervo a sete instituições públicas portuguesas

por Lusa

O programador e crítico Augusto M. Seabra vai doar o acervo pessoal, entre livros, discos e outros documentos, a sete entidades públicas, entre as quais a Cinemateca Portuguesa e a Universidade do Porto.

A formalização das doações acontece hoje ao final da tarde na Cinemateca, em Lisboa, no começo de um ciclo de sessões com filmes escolhidos por Augusto M. Seabra.

De acordo com a Cinemateca, o acervo pessoal do programador, do qual fazem parte livros, periódicos, catálogos, CD, DVD, entre outro artigos, ficará à guarda também da Rede de Bibliotecas de Lisboa, da Biblioteca Nacional de Portugal, da biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, da Escola Superior de Música de Lisboa, da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, e da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

O jornal Público, do qual Augusto M. Seabra foi um dos fundadores, noticiava hoje que a decisão de doação acontece num momento em que o crítico, de 66 anos, "`por razões de saúde`, não pode viver sozinho".

Formado em Sociologia, Augusto M. Seabra "deixou marca indelével no espaço da crítica das artes em Portugal ao longo do último meio século", em particular sobre música e cinema, como afirma a Cinemateca.

Escreve com regularidade desde 1977, para jornais como A Luta e o semanário Expresso. Foi um dos fundadores do jornal Público, em 1989/1990, ao qual se mantém ligado e no qual publica com regularidade.

Fez parte do júri de vários festivais internacionais, nomeadamente de Cannes e de San Sebastian, de Turim, Salónica e Taipé. Foi programador do festival DocLisboa e consultor do Script Fund, do antigo programa Media da União Europeia.

No antigo Departamento de Programas Musicais da RTP dirigido por Rui Esteves, responsável por programas como "Artes e Letras", exerceu funções de produção.

Com José Nascimento, Augusto M. Seabra assinou o documentário "Manoel de Oliveira: 50 Anos de Carreira", abordagem pioneira do trabalho do cineasta, datada de 1981.

"Os seus textos ultrapassaram em muito o domínio estrito da análise de obras ou espetáculos, transformando-se em reflexões continuadas sobre o papel das instituições e da política cultural no nosso país", escreveu a Cinemateca.

Nesse exercício da crítica, em anos recentes, Augusto M. Seabra chegou a ter um processo em tribunal, do qual foi absolvido em 2007, por ter chamado "energúmeno" a Rio Rio, então presidente da câmara do Porto.

Em 2016, o político João Soares, na altura ministro da Cultura, prometeu-lhe "salutares bofetadas" - a Augusto M. Seabra e também a Vasco Pulido Valente - por causa de artigos de opinião com críticas à linha de ação política. João Soares apresentaria a demissão dias depois da polémica.

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