Sequeira Costa é "um dos pianistas portugueses mais importantes" - Artur Pizarro

por Lusa

Redação, 22 fev (Lusa) -- José Sequeira Costa, que morreu na quinta-feira aos 89 anos, "foi um dos pianistas portugueses mais importantes de qualquer século", disse hoje à agência Lusa o seu discípulo Artur Pizarro.

"Ao nível da música clássica, em Portugal, foi um dos mais importantes pianistas de qualquer século, uma das grandes figuras do século XX e ainda do XXI, quer como pianista, quer como organizador de eventos de música clássica, de festivais - em que foi diretor artístico de vários -, do concurso Vianna da Motta e como pedagogo", disse Artur Pizarro em declarações à agência Lusa.

"Como artista discográfico deixou um legado que muitos poucos em Portugal, seja rock, seja pop, seja clássico, tiveram o protagonismo que ele teve, como representante de um país que `quase` lhe correspondeu", afirmou Pizarro.

Sequeira acompanhou Pizarro desde os seus cinco anos até "praticamente à porta de início" da sua carreira. O menino Artur Pizarro começou por ser aluno de Campos Coelho, que o indicou a Sequeira Costa.

Sobre o estudo com Sequeira Costa, Pizarro disse: "Tudo aquilo que ele me explicava nas aulas, tudo o que fazíamos de trabalho de laboratório juntos, eu depois tive o privilégio de o ver fazer na prática, nos múltiplos concertos em que o seguia, em qualquer canto do mundo, e via-o fazer em palco aquilo que minuciosamente trabalhávamos nas aulas".

Questionado sobre que memória que guarda do mestre, Artur Pizarro respondeu: "Para mim não é algo que esteja no passado, são memórias que vivem comigo e continuam presentes".

"Cada dia que me sento ao piano, há de haver alguma coisa nesse dia, em que eu oiça a voz dele na minha cabeça a comentar uma passagem, alguma coisa que estou a fazer e oiço a voz dele, `Artur esta frase não é assim`, `vê lá como estás a usar o pedal`, `pensa bem na prestação rítmica, que te está a escapar`, constantemente essa voz vai acompanhar-me até ao dia em que deixar de respirar".

Segundo Pizarro, que foi o seu discípulo dileto, Sequeira Costa teve o reconhecimento de Portugal, "na medida que o país lhe podia dar".

"Não teve a que merecia, mas não se pode pedir a um país aquilo que ele não tem", disse, referindo que há em Portugal "uma certa falta de compreensão do valor artístico e cultural".

"Acho que para as possibilidades do país, teve o que poderia ter tido. Claro que mereceria muito mais, mas para isso era preciso que o mundo fosse outro", argumentou.

Relativamente ao Concurso Vianna da Mota, que José Sequeira Costa fundou e organizou, e que Artur Pizzaro foi o único português a vencer, o músico disse que "estava parado há alguns anos, não só por falta de capacidade física do professor Sequeira Costa, como de capacidade do país".

Pizarro afirmou que, "há uns anos", tentou "renovar" o concurso internacional, um processo que dura há três anos, mas "não há capacidade de resposta" e, segundo o pianista, "passará à história com a pessoa que o fundou", em 1957, a não ser que houvesse um milagre".

Artur Pizarro ressalvou que "não há falta de vontade, mas sim de capacidade".

Referindo-se a Sequeira Costa, Pizarro realçou: "O importante é terem a noção de que o Sequeira Costa que existiu em Portugal e o Sequeira Costa que conhecem em Portugal, foi uma parte pequena é um parte pequena de quem é Sequeira Costa, que foi muito mais além-fronteiras, exatamente porque havia as possibilidades e as condições além-fronteiras, que ainda hoje não existem em Portugal".

Artur Pizarro fez referência ao "enorme arquivo pessoal de gravações ao vivo dos concertos que deu", e que tinha em sua casa, e "aquilo que vemos é muito diferente daquilo que vemos dentro do país, pois tinha outras possibilidades, com salas, pianos, colegas, orquestras, mas não era uma coisa de que ele se queixasse".

Artur Pizarro disse que vai tentar trazer ao conhecimento público em Portugal, com "o apoio de amigos", essas gravações, "aquilo que Sequeira Costa não pôde partilhar em vida com Portugal, de modo a ficarem todos com uma ainda melhor noção da dimensão artística do grande artista que foi".

Sequeira Costa será "uma presença diária que ficará em mim para sempre", rematou Artir Pizarro.

O pianista português José Carlos Sequeira Costa morreu na quinta-feira, nos Estados Unidos da América, onde residia, aos 89 anos, vítima de cancro.

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