Último livro de Murakami censurado em Hong Kong

por RTP
Ritzau Scanpix Denmark via Reuters

Um tribunal de Hong Kong classificou a obra mais recente de Haruki Murakami como "indecente". O livro foi retirado da feira do livro de Hong Kong e só pode ser requisitado em bibliotecas do país por maiores de 18 anos. A obra ainda não foi publicada em Portugal.

Na semana passada, o Tribunal de Artigos Obscenos de Hong Kong classificou Killing Commendatore, a mais recente obra de Murakami, como indecente. Como na maior parte dos livros do autor, são incluídas algumas cenas sexuais.

A obra foi temporariamente classificada como “classe II – materiais indecentes”. Deste modo, a obra só pode ser vendida em livrarias se a capa estiver embrulhada e com um autocolante que advirta o leitor do seu conteúdo.

A restrição também se estende às bibliotecas públicas, como é noticiado no South China Morning Post.

“Os leitores maiores de 18 anos podem pedir para requisitar o livro nas bibliotecas públicas”, afirmou um porta-voz do Departamento de Serviços de Lazer e Cultura de Hong Kong.

O jornal The Japan Times explica que, de acordo com aquele tribunal, os itens classificados como “classe I” são adequados a todas as idades, os de “classe II” são considerados indecentes e não podem ser vendidos a menores de 18 anos e, por fim, os de “classe III” são marcados como obscenos e não podem ser comercializados.
Crescente censura em Hong Kong
Para além das restrições à venda e requisição do livro, este foi retirado da Feira do Livro de Hong Kong.

Como é explicado no South China Morning Post, uma porta-voz da Feira relembrou os expositores que vender uma publicação considerada indecente ou obscena poderia resultar no encerramento da banca que o faça.

Cherry Chen, gerente adjunta da editora Chung Hwa Book, afirmou que retirou 20 cópias do livro da sua banca, por ser “mais seguro obedecer às leis”.

“Estou um pouco surpreendida. Li a obra e não a achei indecente”, disse Chen.

Segundo o jornal britânico The Guardian, a PEN International – uma associação global de escritores - submeteu recentemente um relatório ao Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, onde mostra a sua preocupação pela crescente censura na região.

Rachael Jolley, editora do Índice de Censura, afirmou que as recentes restrições “parecem fazer parte de uma tendência preocupante na China, de se ser cada vez mais restritivo na forma como o sexo é retratado nos livros e o que é ‘permitido’”.

“As feiras de livros são o último lugar onde esperamos encontrar censura, pelo que é preocupante ver o novo romance do Murakami removido das bancas da Feira do Livro de Hong Kong”, declarou Jolley.
Petição contra a lei junta 1800 assinaturas
Apesar de tudo, o coro de protestos contra a classificação de “Killing Commendatore” não deixa de se fazer ouvir.

No sábado, 21 grupos emitiram uma petição conjunta para que o tribunal reveja a sua decisão. Esta segunda-feira conseguiram juntar cerca de 1800 assinaturas online, de acordo com a agência noticiosa Hong Kong Free Press.

“A decisão do Tribunal deve estar de acordo com o senso comum, e o senso comum da indústria editorial determina que as obras de Murakami não são indecentes”, lê-se na petição.

Killing Commendatore é um livro de dois volumes que relata a história de um pintor de retratos que muda de casa após a sua esposa pedir o divórcio. Este foi publicado no ano passado, sendo que a obra anterior do escritor, “A Peregrinação do Rapaz sem Cor”, tinha sido publicada em 2013.
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