Vila Nova de Gaia relembra este mês o cinema e a poesia de António Reis

por Lusa

O cineasta e poeta António Reis é recordado este mês na iniciativa Rosto das Letras, com filmes, uma conferência e um concerto dos Mão Morta, em Valadares, onde o autor nasceu, no concelho de Vila Nova de Gaia.

Esta será a quinta edição do programa Rosto de Letras, de 21 a 30 de maio, organizado pela câmara municipal de Gaia, destinado a "promover o gosto pela leitura e divulgar nomes gaienses da literatura", como foi hoje anunciado.

Quando passam trinta anos sobre a morte de António Reis, o Rostos de Letras pretende recordar "o contributo ímpar no cinema português", mas também a marca literária, "uma poesia concisa e plena de visibilidade", deixada sobretudo no volume "Poemas Quotidianos" (1957), refere a organização em nota de imprensa.

O programa, no cine-teatro Eduardo Brazão, abrirá no dia 21 com uma conferência com Pedro Mexia, António Gonçalves, Mário Augusto e António Reis, sobrinho do realizador, e com a abertura da exposição bibliográfica "Mãos que passam por nós".

A 22 de maio será exibido "Trás-os-Montes" (1976), um dos filmes etnográficos que António Reis rodou com Margarida Cordeiro, talvez a mais conhecida das obras, exibida em quase duas dezenas de festivais e premiada em quatro, apelidada pelo cineasta João César Monteiro como "um dos mais belos filmes da história do cinema".

Nesse dia, o crítico Pedro Mexia fará também uma apresentação do livro "Poemas Quotidianos", que António Reis publicou em 1957 e que foi reeditado em 2017, 60 anos depois, pela Tinta-da-China.

No prefácio deste livro, o professor Fernando J.B. Martinho escreve que o Portugal pobre dos anos 1950 é o foco dos "poemas elípticos" de António Reis, atentos aos "pequenos nadas do quotidiano, na banalidade de um dia-a-dia de limitados horizontes".

"Os textos falam de gente que passaja, vira, tinge a roupa, ou a deixa, depois de lavar, a enxugar de noite, para a vestir de novo de manhã, quando vai para o trabalho. Tudo isto numa linguagem simples", pode ler-se no prefácio.

Ao final do segundo dia de Rosto das Letras, Ana Celeste Ferreira, Isaque Ferreira, Jorge Mota e Ricardo Caló protagonizam um serão de música e poesia, intitulado "Eu se deixo de respirar".

A 23 de maio, os Mão Morta, em formato trio, interpretam música composta para o filme "A casa na Praça Trubnaia" (1928), de Boris Barnet, regressando a um cine-concerto que já tinham feito em 2019.

Segundo a organização, o Rosto das Letras prolongar-se-á até ao dia 30, por conta da exposição bibliográfica "Mãos que passam por nós", e haverá uma programação para crianças do pré-escolar e primeiro ciclo, a partir do dia 17, com base na poesia de António Reis.

Nas edições anteriores, o Rosto das Letras foi dedicado aos escritores Albano Martins (2016), Miguel Miranda (2017), Rentes de Carvalho (2018) e Maria Alberta Menéres (2019).

Nascido na freguesia de Valadares a 27 de agosto de 1927, António Reis trabalhou como empregado de escritório e colaborou com vários jornais e revistas, sendo ainda membro do Cineclube do Porto.

Além da atividade como poeta - embora tenha eliminado da biografia todos os livros menos "Poemas Quotidianos" e "Novos Poemas Quotidianos" -, foi no cinema que António Reis se destacou, primeiro como assistente de realização de Manoel de Oliveira, depois como argumentista e, mais tarde, como realizador de documentários e obras de ficção, na vaga do Cinema Novo português, na década de 1960.

"Jaime" (1974), "Rosa de Areia" (1989), "Raul Proença" (1986), "Ana" (1982) e as curtas-metragens iniciais "Do Rio ao Céu" (1964) e "Painéis no Porto" (1963) são outros filmes do realizador, a solo ou com Margarida Cordeiro.

António Reis foi ainda professor na Escola de Cinema, no Conservatório Nacional, tendo tido alunos como Pedro Costa, João Pedro Rodrigues, Joana Pontes, Filipe Abranches, Vítor Gonçalves e Joaquim Sapinho.

O cinema de António Reis, e também de Margarida Cordeiro, já esteve em retrospetiva, por exemplo, no Harvard Film Archive, em 2012, nos Estados Unidos, e no Museu Rainha Sofia, em Espanha, em 2018.

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