Acima da estimativa do Governo. Banco de Portugal prevê inflação de 7,8%

por RTP
André Kosters - Lusa (arquivo)

O Banco de Portugal prevê que a inflação alcance este ano os 7,8 por cento, acima da estimativa do Governo, que é de 7,4 por cento. O valor foi revisto em alta face à ultima previsão do Banco de Portugal: em junho, a previsão era de 5,9 por cento.

O regulador explica que as pressões inflacionistas permanecem elevadas na segunda metade do ano, apesar de alguns sinais de alívio, o que, estima, levará a taxa a manter-se acima de 9 por cento neste período, atingindo o ponto máximo no terceiro trimestre (9,5 por cento) e diminuindo ligeiramente no final do ano.

O Banco de Portugal também acredita agora a economia cresça 6,7 por cento, em vez dos 6,3 previstos em junho. A previsão do Executivo socialista é de 6,4 por cento.

A instituição liderada por Mário Centeno justifica esta estimativa com a recuperação do turismo e do consumo das famílias, que vai avançar mais do que previa em junho.
O Boletim Económico de outubro, divulgado esta quinta-feira, apenas apresenta previsões para este ano, mas assinala o impacto em 2023 do abrandamento do crescimento económico registado a partir do segundo trimestre.
O mercado de trabalho apresenta um desempenho positivo, mas com alguns sinais de moderação ao longo do ano. O emprego cresce 2,3 por cento (1,9 por cento em 2021), ao passo que a taxa de desemprego volta a diminuir, situando-se em 5,8 por cento, valor historicamente baixo.

"Os efeitos negativos da agressão militar russa na Ucrânia foram-se acentuando ao longo do ano, implicando uma relativa estabilização da atividade a partir do segundo trimestre. Estes efeitos serão mais notórios em 2023, antecipando-se uma desaceleração significativa face a 2022, desde logo com um efeito de arrastamento que passa de 3,9 pp. [pontos percentuais] para 0,5 pp.", pode ler-se.

O BdP considera ainda existir margem para cumprir a meta do défice de 1,9 por cento do PIB estimada pelo Governo para este ano, refletindo os bons resultados da receita fiscal, apesar das medidas de mitigação ao impacto da inflação.
Neste Boletim Económico, o Banco de Portugal explica que, para se atingir um défice de 1,9 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), conforme inscrito no Orçamento do Estado para 2022, seria necessária uma deterioração homóloga de três pontos percentuais (pp.) na segunda metade do ano, excluindo medidas temporárias.

O supervisor da banca dá nota de que, em conjunto com os gastos associados à pandemia, as medidas de mitigação dos efeitos do aumento dos preços têm um impacto no saldo em 2022 "ligeiramente inferior ao verificado em 2020 e 2021", cerca de 3 por cento do PIB, e estão mais concentradas no segundo semestre.

Desta forma, indica que "no contexto favorável para a evolução da receita fiscal, mesmo considerando o impacto orçamental destas medidas de política estimado em cerca de 3,2 por cento do PIB semestral na segunda metade do ano, existe margem suficiente para o cumprimento do objetivo oficial".
Medidas devem ser específicas e segmentadas
O Banco de Portugal admitiu que poderão ser necessárias mais medidas de mitigação do impacto da inflação, mas alerta que devem ser temporárias, específicas e dirigidas aos mais vulneráveis.

"A política orçamental deverá atender ao facto de os choques sobre os preços não afetarem da mesma forma todas as famílias ou empresas/setores de atividade", assinala o BdP.

A instituição liderada por Mário Centeno admite que, neste contexto, "medidas temporárias e específicas para amortecer o seu impacto sobre os segmentos mais vulneráveis poderão ser necessárias, em particular numa inversão do ciclo económico".

c/ Lusa
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