Ano de seca. Colheita de cereais para outono e inverno é "a pior de sempre"

por Carlos Santos Neves - RTP
O quadro de seca abrange 96,9 por cento do território continental Bogdan Cristel - Reuters

A campanha de colheita de cereais para grão de outono e inverno, já concluída, é “a pior de sempre para todas as espécies cerealíferas”, indicou esta quinta-feira o Instituto Nacional de Estatística. O ano agrícola volta a sofrer os efeitos da situação de seca, quadro que abrange 96,9 por cento do território continental do país.

“A colheita dos cereais para grão de outono/inverno está concluída, confirmando a atual campanha como a pior de sempre para todas as espécies cerealíferas, resultado dos decréscimos de área de produtividade”, adianta o INE nas previsões agrícolas agora divulgadas.

Os cereais semeados tardiamente, por causa das chuvas de dezembro do ano passado e janeiro deste ano, foram “muito penalizados”. Por outro lado, a falta de precipitação na primavera e as altas temperaturas penalizaram igualmente o desenvolvimento de cereais praganosos, o que deu azo a um espigamento precoce.
Já a instalação de culturas de primavera e verão “decorreu com normalidade”, dado que o regadio está assegurado em 60 albufeiras. Cinco albufeiras hidrográficas mantêm-se, desde 2022, debaixo de restrições de rega. A seca abrange 96,9 por cento do território do continente, dos quais 34,4 por cento, a sul do Tejo, estão sob seca severa ou extrema.


O volume de água armazenada nas principais albufeiras com aproveitamento hidroagrícola, em Portugal continental, encontrava-se em julho a 66 por cento da capacidade total, aquém dos 71 por cento do mês anterior, mas acima do período homólogo, quando estava a 61 por cento.

Ainda segundo o Instituto Nacional de Estatística, a “escassa produção de matéria verde para o pastoreio” obrigou à antecipação da suplementação da pecuária em regime extensivo, com base em alimentos conservados.

No Alentejo, as quebras de produtividade da matéria verde foram de 20 a 80 por cento, com a maior redução a ter lugar nos concelhos de Castro Verde, Ourique, Mértola e Almodôvar. A norte do Tejo, todavia, a situação “não assume a mesma gravidade, estando a suplementação com alimentos grosseiros armazenados e/ou alimentos concentrados mais próxima dos parâmetros normais”.
Outras culturas
“De um modo geral”, escreve o INE”, as culturas de primavera e verão “apresentam um regular desenvolvimento, embora no caso do tomate para indústria se antevejam produtividades inferiores ao normal”.

Os pomares de pereiras e macieiras devem sofrer reduções de produtividade de, dez e 15 por cento, respetivamente, ao passo que a produção de cereja registou uma queda de 55 por cento, relativamente à anterior campanha.

a área de milho de regadio deverá igualar o valor do ano anterior – esta cultura, em fase de enchimento do grão, mostra “um bom desenvolvimento vegetativo e sem problemas fitossanitários relevantes”.Nas vinhas, o INE não anota acidentes sanitários relevantes e as vindimas devem ser antecipadas. Estima-se que a produtividade aumente em todas as regiões, com a exceção do Dão. O rendimento unitário global deve atingir os 42 hectolitros por hectare, mais oito por cento em comparação com 2022.

A maioria dos arrozais estava, no final de julho, na denominada fase de encanamento. Esta cultura mostra um “bom desenvolvimento vegetativo, embora com a presença de infestantes”, desde logo nas zonas litorais do Baixo Mondego e Vouga.

No norte e no centro, o desenvolvimento da batata de regadio beneficiou das condições metrológicas. “Na Península de Setúbal, a produtividade da batata de consumo foi idêntica à da campanha anterior, sendo que na batata para indústria foi superior, estimando-se um acréscimo global na ordem de cinco por cento”, lê-se no documento do INE.

Mesmo com um quadro meteorológico desfavorável, os pomares de pessegueiros estão com produtividades de cerca de dez toneladas por hectare, volume próximo do habitual. No que diz respeito à amêndoa, a produtividade global deve crescer 15 por cento.
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