BdP não ficou "à espera de Godot" e criou marca em 10 minutos - Carlos Costa

por Lusa

O ex-governador do Banco de Portugal (BdP) Carlos Costa disse hoje que não ficou "à espera de Godot" no BES e evitou o "maior sismo" da economia portuguesa, tendo criado a marca Novo Banco "em 10 minutos".

"Ficássemos nós à espera de Godot no dia 04 de agosto, e teríamos tido o maior sismo financeiro na economia portuguesa", disse hoje Carlos Costa no parlamento, referindo-se ao dia a seguir à resolução do Banco Espírito Santo (BES).

O ex-governador falava do processo formal de continuidade do banco perante as várias possibilidades de capitalização ou transformação, e perante a inação dos vários agentes disse aos deputados que iria "utilizar uma imagem" com recurso ao título da obra do dramaturgo Samuel Beckett.

"À espera de Godot não era a solução para segunda-feira 04 de agosto", considerou, respondendo ao deputado do PS Eduardo Barroco de Melo, durante a sua audição de hoje na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.

Anteriormente, o antigo governador do Banco de Portugal já tinha dado detalhes acerca da criação da marca Novo Banco.

Segundo Carlos Costa, uma representante da Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia perguntou qual o nome para a nova instituição financeira, tendo o governador sugerido "Novo BES", algo rejeitado pela responsável europeia.

Perante a possibilidade de ter de fazer "o `branding` de um banco" numa noite, Carlos Costa afirmou que "em dez minutos, nem tanto" foi necessário "avançar com o nome do banco, que foi Novo Banco".

"E, complexidade adicional, era preciso assegurar que no registo de propriedade estava compatível. Descobrimos que o BCP, em tempos passados, tinha registado esta marca", disse aos deputados.

Segundo Carlos Costa, "foi necessário pedir ao BCP que, por favor, aceitasse ceder", revelando o antigo responsável do supervisor bancário estar "muito agradecido, porque aquilo poderia constituir um berbicacho".

"Não se podia pôr lá `Banco X`, tinha que ter um nome", contou.

Além da ligação ao BCP, o Banco de Portugal também descobriu "na madrugada" que "havia alguém que, via internet, tinha registado a marca Novo Banco".

"Felizmente o tribunal percebeu que tinha sido uma tentativa de tirar partido a situação", referiu.

Carlos Costa considerou ainda acertado considerar o BdP responsável, "no sentido em que lhe foi atrubuída a responsabilidade de assegurar a continuidade do financiamento da economia, proteger um milhão e 800 mil depositantes, a salvaguarda o Fundo de Garantia de Depósitos, que teria levado uma pancada enorme - só no Fundo de Garantia de Depósitos estavam 14 mil milhões [de euros] - e simultaneamente evitar que se instalasse o pânico no setor bancário".

O antigo governador considera que o fecho de um banco não se assemelha ao de "uma confeitaria", em que "quando uma fecha a outra que está ao lado beneficia".

"Aqui não. Todos sofrem com a queda de um, e portanto o que se fez foi a defesa do sistema", concluiu.

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