Constâncio debaixo de fogo da comissão de inquérito ao Banif

por RTP
Ralph Orlowski - Reuters

Vítor Constâncio afirma que responsáveis do Banco Central Europeu "não respondem perante comissões de inquérito de parlamentos nacionais". Mas os deputados da comissão de inquérito ao caso Banif querem que o vice-presidente do BCE vá ao Parlamento explicar a sua versão dos factos que conduziram à resolução. Do PSD saem as críticas mais ásperas ao antigo governador do Banco de Portugal.

A comissão parlamentar de inquérito ao Banif insiste na necessidade de ouvir Vítor Constâncio. Esta terça-feira o presidente da comissão, António Filipe, revelou que será proposta uma data para a audição do vice-presidente do BCE. O que deverá acontecer através de videoconferência.

"Tivemos alguma dificuldade em encontrar o endereço direto para o doutor Vítor Constâncio. É verdade que ele ainda não tinha recebido essa comunicação. Vamos propor uma data para a realização da audição em videoconferência", declarou o deputado do PCP durante os trabalhos desta terça-feira.

Na passada sexta-feira, confrontado com a hipótese de ser chamado a depor sobre o Banif, Constâncio invocou o seu estatuto enquanto vice-presidente da autoridade monetária para considerar que apenas "responde perante o Parlamento Europeu".

O ex-governador do Banco de Portugal sublinhou que até ao momento não tinha recebido nenhum convite para prestar declarações.
"Arrogância e soberba"
Após a sessão desta terça-feira da comissão de inquérito, Carlos Abreu Amorim, deputado do PSD, condenou a "atitude arrogante e de alguma soberba" de Vítor Constâncio.

"O PSD insiste na necessidade de esta comissão parlamentar de inquérito ouvir o doutor Vítor Constâncio. Não nos conformamos com a sua recusa e faremos todos os esforços para que venha presencialmente a esta comissão ou então que o faça através de videoconferência", afirmou o coordenador do grupo parlamentar do PSD na comissão.

"É no Parlamento português que o doutor Vítor Constâncio tem que dar explicações sobre o seu papel no Banif. Ainda ontem comemorámos o 25 de Abril e é em homenagem ao 25 de Abril e à democracia parlamentar que o doutor Vítor Constâncio tem que dar explicações ao Parlamento", salientou o deputado social-democrata.

Abreu Amorim considera necessário alterar a legislação europeia, de forma a garantir que as instituições europeias que interferem nas decisões internas dos Estados-membros tenham o "dever democrático de dar satisfação plena aos pedidos de colaboração dos parlamentos nacionais".

O deputado reforçou ainda que Constâncio participou presencialmente na segunda comissão de inquérito ao BPN e por escrito na comissão de inquérito ao BES.
Centeno pede "bons ofícios"
A presença de Constâncio na comissão de inquérito impôs-se depois de Mário Centeno ter revelado no Parlamento que contactou o vice-presidente do BCE e a presidente do conselho de supervisão do Mecanismo Único de Supervisão na véspera da resolução do Banif “com o intuito de lhes solicitar os bons ofícios para uma boa condução do que já se perspectivava vir a ser uma venda em contexto de resolução".

Vítor Constâncio liderou ainda a reunião do conselho de governadores do BCE de 16 de dezembro, que decidiu a suspensão do financiamento do Banif junto do BCE.

Abreu Amorim revelou ainda que o pedido é extensível ao ex-ministro das Finanças, Vítor Gaspar, atual diretor do departamento de assuntos orçamentais do Fundo Monetário Internacional. O ex-ministro vai responder por escrito, sendo que as perguntas dos deputados devem ser enviadas durante esta semana.

c/ Lusa
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