Conversa Capital com António Saraiva, presidente da CIP

por Antena1

O montante de crédito em moratórias às empresas já está perto dos 30 mil milhões e cerca de 30 por cento deste valor, pode entrar em incumprimento. As empresas querem mais tempo para honrar os seus compromissos e pagar as dívidas.

A Indicação é dada pelo presidente da CIP, em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios. António Saraiva defende a criação de alternativas ao fim das moratórias, a partir de setembro. Pede aos bancos para analisarem caso a caso, a situação de cada empresa, e considera que se o governo recorrer ao Banco Europeu de Investimento, pode continuar a ajudar as empresas, sem que o sistema bancário seja penalizado pela Autoridade Bancária Europeia. Uma situação que só se coloca porque, ao contrário do que aconteceu noutros países, o governo concedeu moratórias em vez de dinheiro a fundo perdido e agora a EBA não está disponível para autorizar os bancos a não contabilizarem como mal parado, os valores em moratória. Na próxima semana a CIP vai apresentar ao governo um plano alternativo às moratórias.

Para além do recurso ao BEI, António Saraiva considera que é preciso, por exemplo, avançar com empréstimos a longo prazo para aliviar a pressão. Diz que as moratórias só serão uma armadilha à retoma se nada for feito e acredita que há vontade política para resolver o problema e isso significa reestruturar a dívida, sem medo de usar a palavra. António Saraiva adiantou que o ministério da Economia já está a trabalhar numa alternativa às moratórias mas lamenta que tenha sido gasto muito pouco, por comparação com outros países da União Europeia, a ajudar as empresas. Quanto às linhas de crédito, admite que haja ainda necessidade de reforçar algumas linhas para alguns setores.

Nesta entrevista, António Saraiva admite que os despedimentos não vão parar. Adianta que, quando terminar o constrangimento legal que impede as empresas de despedirem, algumas, nalguns setores, deverão avançar com restruturações que vão levar a mais despedimentos. As previsões podem ser superiores ao estimado. Neste sentido, considera que se o governo insistir num aumento do salário mínimo, idêntico ao deste ano de 30 euros, essa situação vai refletir-se no desemprego, porque a maior parte das empresas não vai ter capacidade para acompanhar esse aumento. Lembra que a economia não pode ser gerida por ideologias.
 
Já quanto ao teletrabalho, António Saraiva não discorda da sua obrigatoriedade até ao final do ano, mas pede bom senso aos sindicatos, menos demagogia e populismo, quando pedem às empresas para compensarem certos gastos, como a internet ou a eletricidade. O presidente da CIP diz que percebe o otimismo nas palavras do ministro das Finanças, mas não o consegue acompanhar nesse sentimento. Ainda assim, a CIP aplaude a forma encontrada pelo governo para proceder ao desconfinamento dividindo as situações em função da gravidade de cada concelho.

Uma entrevista conduzida pelos jornalistas Rosário Lira, da Antena1 e Catarina Almeida Pereira do Jornal de Negócios.
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