Energia. Rússia corta fornecimento à Polónia e Bulgária e prepara alternativas ao mercado europeu
A diretiva de Vladimir Putin aos responsáveis pelo setor energético da Rússia para começar a vender aos países asiáticos o petróleo e o gás que seria para a Europa pode ser mais difícil do que o previsto para pôr em prática. Dificuldades nas infraestruturas, pressão política e baixa procura podem tornar quase impossível esta alteração na geografia das exportações. Entretanto, a Rússia anunciou que vai interromper o fornecimento de gás à Polónia e à Bulgária.
A ministra do Ambiente da Polónia não confirmou a informação, mas garantiu que as reservas polacas de gás natural estão nos 76 por cento e que nem a segurança energética do país nem o abastecimento dos consumidores estão em causa.
O ministro da Segurança Energética polaco veio acrescentar que o fornecimento da Gazprom será substituído por outras origens e deu conta de que o contrato com a Rússia iria terminar em dezembro.
O contrato da Polónia com a Gazprom é de 10,2 mil milhões de metros cúbicos por ano e representa cerca de 50 por cento do consumo nacional.
A notícia levou à subida do preço do gás natural em 17 por cento nos mercados internacionais.
Mais tarde, foi a vez da Bulgária anunciar ter sido contactada pela Gazprom.
"Hoje, a Bulgargas EAD recebeu uma notificação de que as entregas da Gazprom Export serão suspensas a partir de 27 de abril de 2022", disse o Ministério búlgaro da Economia em comunicado. Este país balcânico é fortemente dependente do gás. O governo búlgaro citou a sua recusa em cumprir os novos requisitos do fornecedor.
A Dinamarca poderá ser um dos próximos países a ter retaliação idêntica. "Não estamos em diálogo com a Gazprom Export desde que exigiram em 1º de abril que pagássemos em rublos", referiu a empresa dinamarquesa em comunicado, acrescentando que a Gazprom pediu uma resposta antes do final de maio.
A Rússia ameaçou cortar o fornecimento a países que se recusem a pagar o gás em rublos, mas a Orsted tem repetido que "não tem intenção" de o fazer.
Pagamento em rublos
O presidente russo exigiu que os países considerados "hostis" após a invasão da Ucrânia implementem um esquema segundo o qual abririam contas no banco Gazprom e pagariam as importações de gás russo em euros ou dólares, que seriam convertidos em rublos.
A Gazprom exigia que a PGNiG começasse hoje a fazer pagamentos sob o novo esquema. Uma exigência sempre recusada por Varsóvia.
A petrolífera polaca anunciou estar a trabalhar para restabelecer o fornecimento de gás de acordo com o contrato existente e que qualquer interrupção no fornecimento constituía uma quebra no contrato, reclamando o direito de pedir indemnização por este motivo.
A União Europeia está a tentar criar um mecanismo de pagamento que permita aos países aderirem às sanções do setor financeiro contra Moscovo e à exigência do Kremlin.
A Polónia também tinha anunciado esta terça-feira uma lista de 50 oligarcas e empresas russas, incluindo a Gazprom, que teriam os bens congelados. Esta lei, aprovada no início do mês, é complementar às sanções coordenadas pela União Europeia.
Preparar o bloqueio europeu
Depois de os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália terem anunciado que deixavam de importar energia russa, Vladimir Putin antecipa que se seguirá o bloqueio das economias da União Europeia.
Por isso, em meados de abril, o presidente da Rússia instruía os líderes das principais empresas de energia do país: “Temos de diversificar as exportações”. “Temos de agir com base no futuro previsível, o fornecimento de energia ao Ocidente vai ser reduzido”, referia.
O crude russo constitui apenas 1,4 por cento das importações indianas - a maior parte das refinarias são abastecidas com produção do Médio Oriente, América e América Latina. Além disso, o envio de carvão para as siderúrgicas indianas enfrenta um impasse devido a questões logísticas e problemas de pagamento.
O presidente russo exigiu que os países considerados "hostis" após a invasão da Ucrânia implementem um esquema segundo o qual abririam contas no banco Gazprom e pagariam as importações de gás russo em euros ou dólares, que seriam convertidos em rublos.
A Gazprom exigia que a PGNiG começasse hoje a fazer pagamentos sob o novo esquema. Uma exigência sempre recusada por Varsóvia.
A petrolífera polaca anunciou estar a trabalhar para restabelecer o fornecimento de gás de acordo com o contrato existente e que qualquer interrupção no fornecimento constituía uma quebra no contrato, reclamando o direito de pedir indemnização por este motivo.
A União Europeia está a tentar criar um mecanismo de pagamento que permita aos países aderirem às sanções do setor financeiro contra Moscovo e à exigência do Kremlin.
A Polónia também tinha anunciado esta terça-feira uma lista de 50 oligarcas e empresas russas, incluindo a Gazprom, que teriam os bens congelados. Esta lei, aprovada no início do mês, é complementar às sanções coordenadas pela União Europeia.
Preparar o bloqueio europeu
Depois de os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália terem anunciado que deixavam de importar energia russa, Vladimir Putin antecipa que se seguirá o bloqueio das economias da União Europeia.
Por isso, em meados de abril, o presidente da Rússia instruía os líderes das principais empresas de energia do país: “Temos de diversificar as exportações”. “Temos de agir com base no futuro previsível, o fornecimento de energia ao Ocidente vai ser reduzido”, referia.
Contudo, o mercado asiático poderá ter dificuldade em substituir a Europa, para onde são enviados dois-terços das exportações de gás e metade das de petróleo, caso Bruxelas consiga mesmo convencer os Estados-membros a aderirem a uma proibição total dos combustíveis russos.
“Se a União Europeia for em frente com o bloqueio total, não vejo como os mercados asiáticos poderão compensar esta procura”, admitia Hari Seshasayee, do instituto Wilson Center, citado pela Al Jazeera. “A Rússia poderá ter de reduzir a sua produção de petróleo em 30 por cento até ao final de 2022”, acrescentou.
Com a maior parte dos gasodutos orientados para território europeu, a falta de infraestruturas para assegurar o fornecimento de gás e petróleo será uma dificuldade para a Rússia. Semanas antes da guerra, era anunciado um novo gasoduto para fornecer a China. “A infraestrutura de transporte desempenha um papel importante e não é desenvolvida da mesma forma nos mercados asiáticos como na Europa”, comentou Filip Medunic, especialista em sanções no Conselho Europeu de Negócios Estrangeiros.
Porém, o abrandamento da economia chinesa, devido às restrições da pandemia, deverá contribuir para uma quebra na procura do maior importador de petróleo russo no continente asiático. O facto de Pequim poder querer continuar com boas relações com todos os seus maiores fornecedores será outro impedimento à compra de mais petróleo russo.
Além disso, a provável pressão dos Estados Unidos sobre Japão e Coreia do Sul, dois dos maiores clientes asiáticos da Rússia, para que evitem aumentar as importações de energia também vai ser um obstáculo aos objetivos russos.
Falta de “posição unificada”
A Rússia está a beneficiar da falta de uma “posição unificada” europeia sobre o embargo à sua energia, conforme admitiu o responsável pela diplomacia do bloco, apesar de os analistas citados pela Al Jazeera garantirem tratar-se de uma questão de tempo até ao embargo total europeu.
A Alemanha e a Hungria são os países que mais se opõem à subida dos custos de energia, caso tenham de parar de comprar petróleo e gás a Moscovo, o que permite antever que a unanimidade será um passo difícil de conseguir em Bruxelas.
A verificar-se, seria um corte de quatro milhões de barris por dia exportados pela Rússia, que representam 45 por cento do orçamento de Moscovo mas mesmo assim o setor energético russo não deveria colapsar.
A Bielorrússia é o nono maior comprador russo e não deverá juntar-se às sanções dos outros países, tal como a China. O setor dos combustíveis fósseis russos conta também com investimentos da China, Japão, Índia e Vietname, cuja retirada é improvável.
Com a implementação de subsídios aos preços dos combustíveis, a Rússia conseguiu conquistar o maior consumidor de petróleo mundial - Índia –, que aumentou as importações em março. Contudo, como um aumento das exportações russas poderá prejudicar as relações da Índia com a União Europeia e com os Estados Unidos, em vias de fortalecimento, não se antevê que estas importações continuem a crescer.
“Se a União Europeia for em frente com o bloqueio total, não vejo como os mercados asiáticos poderão compensar esta procura”, admitia Hari Seshasayee, do instituto Wilson Center, citado pela Al Jazeera. “A Rússia poderá ter de reduzir a sua produção de petróleo em 30 por cento até ao final de 2022”, acrescentou.
Com a maior parte dos gasodutos orientados para território europeu, a falta de infraestruturas para assegurar o fornecimento de gás e petróleo será uma dificuldade para a Rússia. Semanas antes da guerra, era anunciado um novo gasoduto para fornecer a China. “A infraestrutura de transporte desempenha um papel importante e não é desenvolvida da mesma forma nos mercados asiáticos como na Europa”, comentou Filip Medunic, especialista em sanções no Conselho Europeu de Negócios Estrangeiros.
Porém, o abrandamento da economia chinesa, devido às restrições da pandemia, deverá contribuir para uma quebra na procura do maior importador de petróleo russo no continente asiático. O facto de Pequim poder querer continuar com boas relações com todos os seus maiores fornecedores será outro impedimento à compra de mais petróleo russo.
Além disso, a provável pressão dos Estados Unidos sobre Japão e Coreia do Sul, dois dos maiores clientes asiáticos da Rússia, para que evitem aumentar as importações de energia também vai ser um obstáculo aos objetivos russos.
Falta de “posição unificada”
A Rússia está a beneficiar da falta de uma “posição unificada” europeia sobre o embargo à sua energia, conforme admitiu o responsável pela diplomacia do bloco, apesar de os analistas citados pela Al Jazeera garantirem tratar-se de uma questão de tempo até ao embargo total europeu.
A Alemanha e a Hungria são os países que mais se opõem à subida dos custos de energia, caso tenham de parar de comprar petróleo e gás a Moscovo, o que permite antever que a unanimidade será um passo difícil de conseguir em Bruxelas.
A verificar-se, seria um corte de quatro milhões de barris por dia exportados pela Rússia, que representam 45 por cento do orçamento de Moscovo mas mesmo assim o setor energético russo não deveria colapsar.
A Bielorrússia é o nono maior comprador russo e não deverá juntar-se às sanções dos outros países, tal como a China. O setor dos combustíveis fósseis russos conta também com investimentos da China, Japão, Índia e Vietname, cuja retirada é improvável.
Com a implementação de subsídios aos preços dos combustíveis, a Rússia conseguiu conquistar o maior consumidor de petróleo mundial - Índia –, que aumentou as importações em março. Contudo, como um aumento das exportações russas poderá prejudicar as relações da Índia com a União Europeia e com os Estados Unidos, em vias de fortalecimento, não se antevê que estas importações continuem a crescer.
O crude russo constitui apenas 1,4 por cento das importações indianas - a maior parte das refinarias são abastecidas com produção do Médio Oriente, América e América Latina. Além disso, o envio de carvão para as siderúrgicas indianas enfrenta um impasse devido a questões logísticas e problemas de pagamento.
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