A agência de notação financeira Standard & Poor’s cortou o rating de Espanha em dois níveis. Na base da decisão da agência norte-americana estão os receios com a “trajetória orçamental” do país, que segundo a S&P “deverá deteriorar-se, num contexto de contração da economia”. No relatório publicado na noite de quinta-feira, a agência manifesta ainda uma crescente preocupação com o sector da banca, acrescentando que perante o atual panorama “é cada vez mais provável” que o Governo tenha de intervir com “mais ajuda financeira”.
Os espanhóis perdem assim a classificação de categoria “A”, na dívida a longo prazo, revista em baixa e com perspetiva negativa para “BBB+”. O rating da dívida a curto prazo desce de A-2 para A-1. Na escala da S&P, a nota de Espanha fica apenas a três níveis da classificação de “lixo”.
Desemprego bate recordes
A taxa de desemprego em Espanha aumentou 1,59 por cento no primeiro trimestre do ano para 24,44 por cento.
Os números foram revelados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística espanhol, segundo o qual o país vizinho já conta com 5,64 milhões de desempregados.
Nos primeiros três meses de 2013, mais de 365 mil pessoas perderam o emprego, enquanto a taxa de ocupação caiu para os 59,94 por cento.
As previsões apontam para que os valores continuem a crescer até 2013.
Os prognósticos da Standard & Poor’s apontam para uma contração do PIB espanhol na ordem dos 1,5 por cento este ano e de mais 0,5 por cento em 2013. Números que contrariam as previsões avançadas pela agência de rating em janeiro, quando estava previsto um crescimento de 0,3 por cento para 2012 e de um por cento em 2013. Mas “a diminuição da renda disponível, a desalavancagem do sector privado, a implementação do plano de consolidação fiscal do Governo e as perspetivas incertas em relação à procura externa de muitos dos principais parceiros comerciais de Espanha” deram uma estocada nas esperanças de recuperação dos espanhóis.
Para a S&P, as comunidades autónomas foram as grandes responsáveis pelos “gastos excessivos” do “Reino de Espanha” em 2011, com um défice que representa 1,9 por cento do PIB. No relatório, a agência norte-americana deixa ainda a pairar a hipótese de infligir novos cortes em breve: “Poderemos baixar os ratings novamente se verificarmos um aumento da dívida líquida para um valor superior a 80 por cento do PIB durante 2012-2014. E poderemos considerar um novo downgrade se o apoio político ao atual programa de reformas vier a enfraquecer”, pode ler-se no documento.
Os "perigos" da banca
As incertezas da S&P agudizam-se quando o tema é a banca espanhola. Para a agência de notação, a intervenção do Governo no sistema bancário através de uma injeção financeira parece ser uma necessidade cada vez mais premente, sendo que “os perigos estão a aumentar”.
O “golpe” da S&P à economia espanhola é amenizado com um voto de confiança às medidas que estão a ser implementadas pelo Executivo de Mariano Rajoy. “Apesar do ambiente económico desfavorável, consideramos que o novo Governo pôs em marcha um considerável programa de reformas estruturais, que deverão promover o crescimento económico a longo prazo”. Só a reforma laboral em curso, um dos projetos mais ambiciosos do Governo espanhol, merece um reparo: “achamos muito difícil que seja capaz de criar empregos a curto prazo”.
Nos últimos três anos, o rating de Espanha sofreu cinco cortes, desde que em janeiro de 2009 o país perdeu o almejado “triplo A”. Na tabela da Moody’s a nota espanhola é de “A3” enquanto a Fitch coloca o país de Mariano Rajoy no patamar “A”.
A descida do rating já começou a refletir-se nos principais indicadores económicos espanhóis durante esta manhã. O Ibex abriu a cair mais de dois por cento e o risco da dívida aumentou 17 pontos, para os 432 pontos base.