Especialista defende menos floresta e aumento de outras atividades

por Lusa

Coimbra, 23 mar (Lusa) -- Em certas zonas do País vai ser necessário "diminuir a área florestal" e "aumentar as outras áreas" de território com outro tipo de utilizações, defende José Gaspar, professor da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC).

"Para impossibilitar ou minorar situações" como os incêndios de junho e de outubro de 2017 "não podemos manter um território" de dimensões significativas com "uma tipologia quase única contínua de combustível" e "é fundamental dinamizar um conjunto de atividades económicas que potenciem a utilização do território", afirma o docente e coordenador no Departamento de Recursos Florestais da ESAC.

Os cerejais da zona de Alcongosta, no concelho do Fundão, quase não foram atingidos pelos fogos do ano passado, porque têm associada uma atividade agrícola, tal como os terraços do Piódão, no concelho de Arganil, que estão pastoreados, exemplifica o docente da ESAC, que também é vice-presidente do Instituto Politécnico de Coimbra, sublinhando a importância dessas atividades que funcionam como "barreira natural" ao fogo.

Mas, para isso, para se conseguir "criar soluções que possibilitem essas atividades nestes espaços" do território, são necessários apoios e "uma atuação concertada" dos municípios, do Governo e dos técnicos e cientistas, adverte José Gaspar, que falava hoje, aos jornalistas, à margem do VII Congresso de Estudos Rurais, subordinado ao tema `O rural depois do fogo`, que decorre hoje e sábado na Escola Superior Agrária de Coimbra.

Essas atividades "não podem ser desenvolvidas como há 30 ou 40 anos", adverte José Gaspar, sublinhando que é preciso "garantir qualidade de vida" a quem se dedica a elas e vive nesses territórios, para que elas se "possam perpetuar" e não se reduzam a meras "iniciativas temporárias muito curtas", que desaparecem quando os apoios diminuem ou quando surgem fenómenos adversos, como os dos fogos.

Sobre as faixas de segurança de combustível, José Gaspar admite que "nalgumas zonas fazem sentido", mas, em muitos casos, "é quase impossível manter essa situação", pois trata-se de uma operação com custos "muito elevados" e que tem de ser "contínua", isto é, a limpeza das faixas tem de ser feita com regularidade.

Além disso, a vegetação controla-se, em boa medida, com sombra e luz, e ao limpar-se totalmente uma determinada área estão a criar-se condições para que a vegetação cresça, conclui, reconhecendo que, no entanto, nalgumas áreas essas faixas devem mesmo ser criadas e mantidas.

Organizado pela ESAC, em conjunto com a Sociedade Portuguesa de Estudos Rurais (SPER) e o Centro de Estudos de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade (CERNAS), o VII Congresso de Estudos Rurais decorre hoje e sábado, com a participação de diversos especialistas em áreas como ordenamento do território, património florestal, agricultura, incêndios e turismo.

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