Europa dividida sobre resposta a dar à carta grega

por RTP
Merkel, com os ministros social-democratas Sigmar Gabriel (centro) e Frank-Walter Steinmeier Fabrizio Bensch, Reuters

A carta de Varoufakis desencadeou uma panóplia completa de reacções: Dijsselbloem "tuitou" que tinha recebido, Juncker achou que era positiva e Schäuble disse logo que não servia para nada. A reunião do Eurogrupo, marcada para sexta feira, promete.

Alguma imprensa alemã, como Die Zeit, festeja um recuo do Governo grego, dizendo que é ele "o primeiro a ceder", e que o faz em pontos "decisivos".

Entre esses pontos cita-se o compromisso contido na carta de que não haverá "medidas unilaterais" do Governo grego, que não sejam combinadas com os seus credores, se estiverem em causa as metas orçamentais, a recuperação económica e a estabilidade financeira.

Além disso, a carta assume os compromissos da Grécia para com os seus credores, considerando-os vinculativos.

Mas até a imprensa mais eufórica com o alcance dos recuos de Atenas admite que a carta continua a recusar garantias sobre a irreversibilidade das "reformas" decretadas sob a égide da troika. E o Ministério das Finanças alemão considera esse ponto decisivo.

No mesmo sentido, uma leitura atenta da carta assinada pelo ministro das Finanças grego, Yannis Varoufakis, regista a diferença entre a extensão do crédito, solicitada na missiva, e a extensão do Memorando de Entendimento, que de modo algum se pretende - o que está estreitamente ligado às ditas "reformas".

Por isso mesmo o Ministério Federal das Finanças se apressou a comentar que "a carta de Atenas não constitui uma proposta de solução substancial (...) Na verdade, ela pretende um financiamento de transição, sem cumprir com as exigências do programa".

A rapidez fulminante da reacção de Schäuble deixou dúvidas sobre quanto dessa reacção estaria concertado e quanto seria partilhado pela própria chanceler e correligionária democrata-cristã, Angela Merkel.

Quem não partilha, para já, as apreciações de Schäuble é o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que, no dizer de uma porta-voz, considerou a carta grega um sinal positivo e potencialmente útil para abrir caminho a um acordo.

O contraste entre as reacções de Schäuble e de Juncker é tão flagrante que Der Spiegel o sublinha, com referência ao "bloqueio" do primeiro e à "esperança" do segundo.

Também dentro do Governo alemão, a carta grega está a constituir uma divisória de águas. O ministro social-democrata da Economia, Sigmar Gabriel, criticou explicitamente a reacção de Schäuble e em círculos do seu Ministério citados naquela publicação referia-se que "a proposta do Governo grego é um primeiro passo na direcção certa", que "se deveria utilizar como ponto de partida para negociações".

O Governo grego, pelo contrário, não deu mostras de hesitação perante os comentários do Ministério de Schäuble e logo afirmou categoricamente que o seu pedido de financiamento era para pegar ou largar, e não seria objecto de retoques em função do recado vindo de Berlim.

Um outro diário alemão, o Frankfurter Rundschau, comenta que o Governo alemão tinha sido até aqui sóbrio nas formas e duro na substância, conseguindo com isso fazer passar boa parte dos seus objectivos no difícil relacionamento com o novo Governo grego.

Agora, pelo contrário, a reacção de Schäuble perante a carta de Varoufakis mostra, segundo aquele diário, que Berlim "perdeu a cabeça". E a derrapagem de Schäuble teria sobretudo o inconveniente de não deixar margem para qualquer diálogo ulterior.
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