Expansão de oleoduto no Cairo. China quer aumentar influência em África

por Inês Moreira Santos - RTP
Carlos Osorio - Reuters

Apesar dos esforços dos Estados Unidos para tentar dificultar o aumento de influência da China no continente africano, o Governo chinês não desarma. Sendo o Egito um parceiro estratégico no Médio Oriente, o gigante asiático pretende agora ampliar até ao Cairo um dos seus maiores oleodutos, que vai do Iraque à Jordânia.

A China investe há anos em infraestruturas no continente africano - desde a construção de estradas e ferrovias a redes de tecnologia móvel, além de participar em missões de paz para manter a estabilidade nos países africanos - e em moedas digitais que, em alternativa ao dólar, se têm tornado um meio para as negociações internacionais.

O próprio presidente chinês, Xi Jinping, anunciou o seu projeto internacional para a construção da "Belt and Road Initiative" – a chamada "Rota da Seda", que visa melhorar o acesso da China aos mercados e recursos internacionais e fortalecer a influência de Pequim em países estrangeiros. Agora, e com o Irão como parceiro estratégico, o Governo chinês pretende também alargar a rede de energia a África.

Para além de assegurar o desenvolvimento das petrolíferas e as ligações de transporte entre o Irão e o Iraque, o bloco China-Irão quer fortalecer o intercâmbio de eletricidade com países árabes e africanos.

Paralelamente, o Egito também está a tentar consolidar a troca de eletricidade com outras nações, como o Iraque. De acordo com o Arab News, o governo egípcio está a estudar a possibilidade de exportar parte da sua eletricidade para o Iraque e de construir novas linhas de transmissão para impulsionar a rede do Iraque através da Jordânia.

O Egito é, de facto, um dos principais países produtores de energia renovável na região do Norte da África e Médio Oriente.
Egito: o parceiro que a China necessita em África
Há dois fatores fundamentais que tornam o Egito especialmente valioso para a extensão da esfera de influência do Irão no Médio Oriente, e que praticamente se refletem também nos planos geopolíticos da China.

O primeiro fator, segundo o canal de televisão russo RT, é o Egito ser considerado um líder no mundo árabe, com maior destaque na Era Moderna - com a Crise do Suez em 1956 que encerrou a ocupação britânica da rota de transporte do Canal do Suez; com a formação com a Síria, em 1958, de uma nova entidade soberana, a República Árabe Unida; e as várias guerras árabe-israelitas nas décadas de 1950, 1960 e 1970 que caracterizaram o Egito como protagonista central.

O segundo fator é que o Egito não é apenas visto como um parceiro político no Médio Oriente, mas também um parceiro geográfico e político de África. Ou seja, é um ponto de passagem essencial para o petróleo, gás e tudo o que o Irão e a China pretendem distribuir no continente africano, através do Médio Oriente.

Uma das formas como a China planeia expandir a sua influência em África é através da extensão do oleoduto que atualmente vai de Basra, no Iraque, até Aqaba, na Jordânia.

A imprensa internacional tem revelado, nas últimas semanas, que as autoridades iraquianas e egípcias estão a negociar a possibilidade de estender o oleoduto até ao Egito. Esta extensão seria "uma adição importante e uma nova passagem para as exportações de petróleo iraquiano até ao Norte de África", segundo representantes das duas equipas de negociação.

A ideia original para a rota Basra-Aqaba era que teria cerca de 1.700 quilómetros e não devia incluir o território terrestre ou marítimo israelita.

Em consonância com estes objetivos, o ministro egípcio da Eletricidade e Energias Renováveis confirmou, na semana passada, que está em curso um estudo de um projeto de interconexão elétrica entre o Egito e o Iraque. Tal relação podia, além do mais, fortalecer os vínculos existentes do Egito com a Jordânia a leste, com a Líbia a oeste e com o Sudão a sul.

Mohammed Shaker acrescentou que o Ministério está a considerar também aumentar a capacidade da linha de interconexão elétrica com a Jordânia, com o objetivo de aumentar as exportações de energia entre os dois países.

Segundo o ministro, também o Egito quer aumentar a capacidade de interconexão elétrica com os países do Mashriq - uma área da Ásia Ocidental e Norte da África Oriental, que compreende Bahrein, Egito, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Palestina, Catar, Arábia Saudita, Sudão, Síria, Emirados Árabes Unidos e Iêmen - e o Magrebe Árabe - união comercial e económica que compreende a Argélia, Líbia, Mauritânia, Marrocos e Tunísia .

Na verdade, a ligação elétrica Egito-Jordânia já fazia, há muito tempo, parte do "Projeto de Interconexão Elétrica dos Oito Países".

Estes planos de expansão podem consolidar as relações entre o Egito e os países do Golfo e da Ásia, como a China. Dadas as ligações existentes com a Jordânia, Síria e Iraque, o Egito também acabará por consolidar os vínculos com o Irão. Acordo China-Irão

A China pretende expandir a sua influência em África através do Médio Oriente. Neste caso, através do Irão.

Em março deste ano, Pequim e Teerão assinaram um acordo de cooperação estratégica e comercial para 25 anos e em análise há vários anos.

O "roteiro completo" contém "cláusulas políticas, estratégicas e económicas"
, segundo clarificou, na altura, Said Khatibzadeh.

"Este documento pode ser muito eficaz para aprofundar" as relações sino-iranianas, indicou o porta-voz iraniano, ao lembrar que o projeto foi iniciado por ocasião da visita do presidente chinês, Xi Jinping, a Teerão, em janeiro de 2016.

Na altura, Xi e o homólogo iraniano Hassan Rohani decidiram reforçar os laços entre os dois países.

O Irão e a China comprometeram-se, então, "a realizar negociações para a assinatura de um acordo de cooperação alargada para 25 anos" e "cooperar e desenvolver investimentos recíprocos em diferentes domínios, nomeadamente, transportes, portos, energia, indústria e serviços", de acordo com um comunicado publicado por ocasião da visita.

Como explicou ao Diplomata o chefe do Programa de Políticas da Ásia no Instituto Abba Eban para Diplomacia Internacional no Centro Interdisciplinar de Herzliya em Israel, Gedaliah Afterman, o interesse da China no Irão é baseado na sua necessidade de garantir a exportação de energia, petróleo e gás.

Recorde-se que o Irão ocupa uma posição-chave no "Belt and Road Initiative" da China, e que se tem tornado um mercado crescente para produtos chineses.

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