Fabricantes advertem que sucesso do setor automóvel depende de ganhos de produtividade

por Lusa

Redação, 13 set (Lusa) -- As exportações da indústria de componentes automóveis aumentaram 6,4% para 4.000 milhões de euros até junho, face ao período homólogo, mas a associação setorial alerta que sem uma constante melhoria da competitividade Portugal arrisca ser ultrapassado pelos concorrentes.

Em comunicado, a Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) fala de um "crescimento importante" do setor em Portugal este ano - "bem superior ao crescimento do volume de fabricação de veículos" e indicativo "que a indústria de componentes tem vindo a conquistar quota de mercado" -, mas alerta para a "necessidade urgente de criar condições para que a competitividade seja constantemente melhorada, sob o risco" de os produtores nacionais serem "ultrapassados por outras regiões".

É que, adverte, "o setor automóvel, mundialmente, enfrenta novos paradigmas com impacto significativo para todos os agentes económicos que lhe estão ligados", o que gera "um quadro de incertezas a longo prazo que aumentará significativamente a concorrência entre países na atração de investimentos relevantes neste setor".

"Projetos de investimento com capacidade multiplicadora na economia serão agressivamente disputados, tornando-se, por isso, fundamental manter os investimentos já existentes antes de se tentar atrair novos, cada vez mais difíceis de conseguir", sustenta a AFIA.

Para a associação, "a manutenção das atividades industriais já em laboração deve, pois, ser a prioridade, devendo-se criar condições para que a sua competitividade seja constantemente melhorada, para não ser ultrapassada pelos progressos doutras regiões".

Sem nunca referir o conflito laboral em curso na Autoeuropa - cujos trabalhadores contestam a obrigatoriedade de trabalhar ao sábado após a implementação do novo horário de laboração contínua, com três turnos diários de segunda a sábado - a AFIA considera ser "necessário que as empresas, os seus colaboradores, os sindicatos e os agentes políticos entendam o tempo presente, mas acima de tudo o tempo futuro, e lhe deem uma resposta efetiva e consciente, para que a indústria automóvel portuguesa possa continuar a contribuir para o crescimento das exportações e para a criação de riqueza".

"A obstinação em ficar agarrado a modelos de organização do trabalho tradicionais e a recusa das novas realidades só poderão levar ao desaparecimento da indústria automóvel no nosso país e à perda de dezenas de milhares de postos de trabalho", alerta.

De acordo com a associação, a "mudança de paradigma" em curso na indústria automóvel tem a ver com toda a conceção da viatura, desde o tipo de motorização (combustão interna versus motor elétrico) à conetividade e condução autónoma.

Segundo sustenta, as "incertezas" passam também "pela forma como será feita a comercialização" das viaturas, já que se até agora a "utilização e posse de um automóvel têm sido quase sinónimos, no futuro serão dois conceitos distintos, porque a utilização não implicará necessariamente a posse".

"A expectativa daí decorrente é uma redução do número de veículos vendidos, a que a indústria terá que estar atenta", antecipa.

A AFIA diz estarem ainda em cima da mesa mudanças decorrentes dos "ganhos de produtividade significativos" ligados à evolução tecnológica, que permitirão fortes aumentos da capacidade de produção que "irão agravar a diferença entre procura e oferta, criando uma pressão acrescida para racionalização da oferta e para diminuição da capacidade produtiva instalada".

"A crescente automatização de processos gera necessidades de pesados investimentos em processos produtivos que, para serem rentabilizados, exigem taxas de ocupação elevadas, no limite tendendo para a laboração contínua. Veremos o desaparecimento de muitos empregos pouco qualificados e de baixo custo, que serão substituídos por outros mais técnicos, mais bem remunerados e os regimes laborais dos operadores terão que se adequar a estas novas necessidades, que exigem flexibilidade e sacrifício de horários, a troco de remunerações mais elevadas decorrentes de postos de trabalho mais especializados", conclui a AFIA.

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