FMI prevê baixa no crescimento mundial até 2021

por RTP
Johannes Christo - Reuters

As projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia mundial, divulgadas esta segunda-feira, representam uma revisão em baixa, incluindo para o crescimento da Zona Euro. O FMI considera que, embora as perspetivas continuem a pender para o lado mais negativo, a economia mundial está menos pressionada por fatores adversos, face às anteriores previsões, e irá crescer mais em 2020 do que 2019.

O FMI divulgou esta segunda-feira que as estimativas apontam para que os crescimentos sejam de 2,9 por cento em 2019, de 3,3 por cento em 2020 e de 3,4 em 2021, sendo penalizados, sobretudo, pelo desempenho de economias emergentes como a Índia, o Brasil, o México, a Rússia e a Turquia.

O relatório World Economic Outlook (WEO) do FMI apresenta as novas estimativas e uma revisão em baixa, face às previsões do passado mês de outubro, de 0,1 pontos percentuais para 2019 e 2020, e de 0,2 para 2021.

Esta revisão em baixa "reflete sobretudo os resultados inesperados negativos da atividade económica em algumas economias de mercados emergentes, em particular a Índia, que levaram a uma reavaliação das perspetivas de crescimento dos próximos dois anos", esclarece o documento do FMI.

A instituição liderada por Kristalina Georgieva sublinha que, pela positiva, "o sentimento dos mercados foi estimulado por sinais de que a atividade industrial e o comércio internacional estarão perto da retoma; por uma reorientação geral no sentido de uma política monetária acomodatícia; por notícias intermitentemente favoráveis acerca das negociações comerciais entre os EUA e a China; e por menos receios quanto a um Brexit sem acordo".

Embora estes fatores se tenham tornado menos acentuados, "os dados macroeconómicos mundiais ainda não apontam sinais visíveis de que se esteja próximo de um ponto de inflexão".

Segundo o FMI, há sinais de alguma estabilização, embora a projeção de crescimento seja débil, e a evolução sentida a partir do quarto trimestre de 2019 permite antever "um conjunto de riscos para a atividade mundial menos tendentes a uma evolução negativa" do que no relatório anterior.

"Estes primeiros sinais de estabilização podem persistir e eventualmente reforçar a ligação entre o consumo privado, que continua resiliente, e um aumento do investimento das empresas", refere a instituição. Isto é, para melhorar as previsões de crescimento da economia mundial é necessário uma aceleração do comércio mundial, do consumo e do investimento.
Crescimento da Zona Euro em baixa
As previsões de crescimento na Zona Euro para 2020 pioraram, segundo o FMI, em 0,1 pontos percentuais. De acordo com a atualização do WEO, prevê-se um avanço de 1,3 por cento em 2020 e de 1,4 por cento em 2021, considerando "as melhorias projetadas para a procura externa".

Se para a França e a Itália a atualização do relatório do FMI mantém as projeções de outubro, para a Alemanha e a Espanha as previsões de crescimento para 2020 são revistas em baixa.

Já para o Reino Unido, tendo em conta a "saída com acordo da União Europeia a 31 de janeiro, seguida de uma transição gradual no sentido de uma nova relação económica", estima-se que o crescimento estabilize nos 1,4 por cento em 2020 e aumente para 1,5 por cento em 2021, como indicavam as projeções de outubro.

O presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, diz estar confiante num crescimento na Zona Euro "nos próximos meses", apesar de o FMI estar mais pessimista.
Antena 1

"Temos neste momento, num tom positivo, algumas das incertezas políticas que se colocavam aos desenvolvimentos da economia global numa tendência de redução, e estou a falar das decisões em torno do Brexit e da situação do comércio internacional". E, "esta situação de melhoria trará, com certeza, um impacto nos desenvolvimentos económicos na área do euro nos próximos meses", advogou o ministro português das Finanças
Crescimento da África subsaariana cai até 2021
Também as perspetivas de crescimento da economia da África subsaariana foram revistas em baixa, na atualização do WEO. O FMI aponta para um crescimento de 3,5 por cento em 2020 e em 2021.

"Na África subsaariana, o crescimento deve fortalecer-se de 3,3% em 2019 para 3,5% em 2020 e 2021, 0,1 pontos percentuais mais baixo que a previsão de outubro para 2020 e 0,2 pontos abaixo da estimativa para 2021", lê-se no documento divulgado esta segunda-feira.

Esta revisão deve-se à perspetiva de crescimento mais baixa na África do Sul, considerando que "constrangimentos e as finanças públicas estão a prejudicar a confiança dos investidores e o investimento privado", e na Etiópia devido à "consolidação do setor público".

Tal como se observa nas "perspetivas mundiais, a região enfrenta riscos em sentido descendente elevados", comentou o diretor do departamento africano do FMI, Abebe Aemro Selassie. "As perturbações externas intensificaram-se, conforme demonstrado pelo acentuado abrandamento do crescimento das exportações", explicou.

Além disso, "as incertezas" ao nível político "continuam a conter o investimento nas maiores economias da região".

O FMI apela, por isso, aos governos destes países para que implantem "reformas estruturais" e continuem "a criar resiliência, tanto aos choques económicos como aos desastres cada vez mais frequentes relacionados com o clima e aos desafios acrescidos em matéria de segurança, o que requer a melhoria dos quadros de política macroeconómica, a promoção da diversificação económica e o reforço dos setores financeiros".
Mau desempenho de economias emergentes
Para o Fundo Monetário Internacional, a trajetória da "recuperação modesta" da economia mundial traduz o "forte declínio", seguido do regresso a níveis mais próximos dos históricos, das economias emergentes do Brasil, Índia, México, Rússia e Turquia.

Segundo as novas revisões do FMI, "as economias de mercados emergentes relativamente saudáveis manterão um desempenho sólido, mesmo que as economias desenvolvidas e a China continuem a desacelerar gradualmente as respetivas taxas de crescimento potencial".

No entanto, a concretização de tais projeções dependem, "em grande parte, do evitar quer de uma nova escalada das tensões comerciais entre os EUA e a China, quer de um Brexit sem acordo e da contenção das ramificações económicas resultantes da instabilidade social e das tensões geopolíticas".

A instituição acredita que os ligeiros "sinais de estabilização" atuais "podem perdurar" e dar lugar "a uma dinâmica favorável entre os ainda resilientes gastos de consumo e a melhoria do investimento empresarial". "Se estes fatores confluírem, a recuperação poderá ser mais sólida do que o atualmente previsto", explica o relatório.

Contudo, "os riscos de uma evolução em baixa continuam a ser consideráveis", adverte o FMI, apontando como fator negativo "as crescentes tensões geopolíticas, particularmente entre os EUA e o Irão" e o "o aumento das barreiras alfandegárias entre os EUA e os parceiros comerciais, em particular a China".
Cooperação multilateral é essencial
Com vista a potenciar uma retoma económica mundial sustentada e generalizada, o FMI considera prioritário haver uma cooperação multilateral "mais sólida" e medidas de suporte de âmbito nacional.

Considerando "o risco de que o crescimento mundial fique aquém do desejável durante um longo período continua a ser tangível", por isso "desacertos na adoção de políticas debilitariam ainda mais uma economia mundial já de si precária".

Contudo, o FMI garante que "uma cooperação multilateral mais sólida e a adoção de políticas nacionais que assegurem um suporte oportuno poderão facilitar uma recuperação sustentável e que beneficie a todos".

"Os países devem rapidamente resolver o descontentamento relacionado com as regras do sistema comercial, abordar sem demoras a situação de bloqueio no sistema de resolução de conflitos da Organização Mundial de Comércio e sanar os desacordos sem recurso ao aumento de tarifas e outras barreiras não tarifárias", adverte o FMI.

Embora seja "pouco provável" que se resolvam as tensões tecnológicas entre países, "se não se resolvem os conflitos ao nível do comércio e da tecnologia irá minar-se a confiança e debilitar-se o investimento, o que potenciará a perda de empregos e, a mais longo prazo, condicionará o crescimento da produtividade e atrasará a evolução do nível de vida".

Nesse sentido, a instituição sublinha a importância de um "objetivo comum", de forma a promover o "investimento em saúde e educação para melhorar o capital humano" e o "investimento de empresas que gerem postos de trabalho de alto valor acrescentado e empreguem de forma produtiva amplos segmentos da população".

c/ agências
Tópicos
pub