Francisco Assis. Presidente do CES "completamente a favor" do aumento do salário mínimo

por Joana Raposo Santos - RTP
Francisco Assis considera que o OE2022 foi usado como "uma espécie de moção de censura ao Governo". Miguel A. Lopes - Lusa

Francisco Assis, presidente do Conselho Económico e Social (CES), disse ser "completamente a favor" do aumento do salário mínimo e considera que o assunto deve ser discutido na Concertação Social. Em entrevista à RTP3, o antigo deputado socialista avançou ainda que já não tem razões para se "autoexcluir" de uma participação na vida política em representação do PS.

Um dia antes da reunião da Concertação Social para se discutir a proposta do Governo do aumento do salário mínimo para 705 euros, Francisco Assis disse ser “completamente a favor” desse aumento.

“Nós temos um salário mínimo baixíssimo; se comparado com os restantes países europeus, a situação é facto tremenda”, mas “o problema do país é mais vasto do que esse”, havendo uma aproximação cada vez maior entre o salário mínimo e o médio, alertou.

“Isso resolve-se tomando decisões políticas de fundo que permitam ao país um crescimento económico que permita ter um aumento, também, do salário médio”.

O presidente do CES disse ainda acreditar que o assunto deve ser discutido na Concertação Social e que deve haver uma consideração sobre “a implicação que um aumento dessa natureza tem nos vários setores da economia”.
Francisco Assis não se irá “autoexcluir” da vida política
Quando a Assembleia da República for dissolvida, chega ao fim o cargo de Francisco Assis enquanto presidente do Conselho Económico e Social. Questionado sobre o seu futuro na política, o responsável preferiu não comentar.

“A única coisa que posso dizer, com toda a verdade, é o seguinte: há dois anos, fui convidado para integrar as listas de candidatos a deputados do Partido Socialista e tinha saído do Parlamento Europeu, e disse rotundamente que não por uma razão muito simples: havia razões inultrapassáveis que me impediam de participar numa lista do PS e de fazer campanha pelo PS. Neste momento, esses motivos já não existem”, afirmou.

Por essa razão, sublinhou já não ter razões de fundo para se “autoexcluir de uma participação na vida política em representação do Partido Socialista”, salvaguardando no entanto que “daí a dizer” se vai ou não ser candidato “vai um longuíssimo caminho”, sobre o qual prefere não se pronunciar.
OE foi usado como “moção de censura ao Governo”
Não escondendo que sempre se opôs à geringonça, Francisco Assis considera agora que o OE2022 foi, de certa forma, usado como “uma espécie de moção de censura ao Governo”.

“A verdade é que, durante seis anos, foi possível ao país viver num ambiente de estabilidade política devido a essa solução”, esclareceu, para acrescentar que essa solução política chegou ao fim com o chumbo do Orçamento do Estado para 2022.

“Foi um momento de manifestação de divergências muito profundas, mas isso não significa que, no futuro, não sejam possíveis novos entendimentos. Isso dependerá das circunstâncias”, defendeu em entrevista à RTP3.

Para o antigo deputado, o fundamental nesta fase é que “os vários partidos políticos apresentem de forma clara as suas posições, a sua perspetiva do que devem ser as prioridades nacionais, do que devem ser as prioridades da relação de Portugal com a União Europeia, do que devem ser as grandes opções que temos de fazer nas mais diversas áreas”.

Apesar de não achar que o Bloco Central seja a solução ideal, o socialista acredita ser fundamental recuperar a “capacidade de diálogo ao centro”, até porque se tem verificado nas sociedades com mais problemas “uma radicalização absoluta do debate político”.

“As pessoas têm receio de maiorias absolutas, seja de esquerda ou de direita, e têm receio do Bloco Central”, por receio do “Estado clientelar, do nepotismo e até de alguma corrupção que possa estar associada a esse tipo de maiorias”.

Mas tal pode ser resolvido “se houver um entendimento de fundo”, que não tem necessariamente de ser entre PS e PSD. “Há outros partidos que podem participar nisso”, frisou.
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