Greve na IP. Sindicatos reclamam adesão "muito significativa"

por Carlos Santos Neves - RTP
O tribunal arbitral decidiu não decretar serviços mínimos para o transporte ferroviário de passageiros na greve da IP Mário Cruz - Lusa

A greve na Infraestruturas de Portugal captou, segundo a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações, uma adesão a rondar os 80 por cento. A estrutura sindical admite, no entanto, que há comboios a circular por causa de um “sistema antigreve” implementado pela empresa.

Pelo menos uma centena de comboios foi já suprimida, segundo a CP, por causa da paralisação na empresa Infraestruturas de Portugal (IP), com particular impacto nas ligações ferroviárias de longo curso.O tribunal arbitral decidiu não decretar serviços mínimos para o transporte ferroviário de passageiros na greve da IP, empresa que nasceu da fusão entre a Refer - Rede Ferroviária Nacional e a EP – Estradas de Portugal.


Até às 8h00 desta segunda-feira, ainda de acordo com a empresa de transportes ferroviários, foi cumprida mais de metade da circulação prevista - 62 por cento.

Dos 266 comboios previstos, circularam 166. As ligações urbanas de Lisboa e do Porto tiveram o maior número de composições a circular, com percentagens de desempenho de 91 e 80 por cento, respetivamente.

A greve deixou também parados 19 dos 34 comboios suburbanos da Fertagus que deveriam ter circulado até às 9h00.

Ao final da manhã, durante uma concentração diante da sede da empresa, em Almada, o coordenador nacional da Fectrans – Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações apontou para uma adesão “muito significativa”, calculada em 80 por cento.

Ainda assim, admitiu o sindicalista, a ação de protesto não foi capaz de paralisar por completo a circulação ferroviária. Algo que José Manuel Oliveira atribuiu ao que descreveu como um “sistema antigreve, muito na base dos quadros superiores e das chefias intermédias”.

O responsável explicou que tal mecanismo “leva a que possam substituir os operadores e, com os níveis de tecnologia que existem, consigam fazer alguns comboios”.

“Só um exemplo: no Porto, o centro de controlo operacional está a funcionar com um controlador e quatro engenheiros. E é assim, um pouco por todo o país, que se consegue iludir a opinião pública com a circulação de comboios”, acentuou.

A IP contraria esta acusação. Em nota citada pela agência Lusa, sustenta que “pauta a sua atuação pelo estrito cumprimento da Lei, não promovendo qualquer ação que ponha em causa o legítimo direito à greve dos seus trabalhadores”.
"O possível"

A Fectrans acusa quer o Governo, quer a administração da IP, de terem deitado por terra um acordo no passado sábado, quando se realizou a última ronda negocial antes da greve.

“Decorreu, no Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, uma reunião com os representantes do Governo, da IP e sindicatos, finda a qual o Governo e a administração fugiram à possibilidade de se ter encontrado uma solução que evitasse a greve”, adiantou em comunicado a estrutura sindical afeta à CGTP.

A Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações garante que houve entendimento para uma valorização dos salários de “20 euros durante 11 meses e 25 euros no último mês, sendo este valor a integrar a tabela salarial em janeiro próximo, mas pago durante 14 meses”.

“Ao passar ao papel a discussão que estava efetuada, fomos confrontados com uma proposta de redação pouco clara”, indicou a estrutura.

“Nomeadamente, não se assumia sem sombra de dúvidas o valor de 25 euros a transitar para a tabela, não se assegurava a garantia de aplicação do futuro Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) aos trabalhadores com vínculos à função pública, por fim, para compensar os trabalhadores da diferença, propuseram que estes passassem a ter mais uma dispensa, mas com perda e renumeração, o que neste ponto se tornou inaceitável”, concluiu a Fectrans.

Também ao final da manhã o secretário de Estado das Infraestruturas devolveu aos sindicatos a responsabilidade pelo fracasso das negociações, afirmando que foi a recusa, por parte daquelas estruturas, de uma proposta de 240 euros, a somar ao que está previso no descongelamento das carreiras, que levou o Governo a sair da mesa.

“O Governo, até ao último sábado, esteve disponível e apresentou uma proposta de 240 euros a mais por trabalhador, por ano, que acresce aos valores que constam da Lei do Orçamento do Estado, que já estão afirmados e já são certos”, apontou Guilherme W. d’Oliveira Martins.

“Esta proposta não foi aceite pelos sindicatos e, para além disso, os sindicatos não apresentaram nenhuma contraproposta nem apresentaram qualquer tipo de cedência. Nesse sentido, nós fomos muito claros. Não entrámos em negociações. Apresentámos essa proposta de 240 euros, que foi recusada”, insistiu o governante.

c/ Lusa
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