Economia
Guerra aos casinos em Macau. Detido segundo maior promotor de jogo do território
Um dos maiores magnatas do jogo de Macau foi detido este domingo pela Polícia Judiciária local, no mais recente golpe contra o branqueamento e fuga de capitais a mando de Pequim, que tenta controlar uma das maiores lavadoras financeiras do mundo.
A detenção de Chan Wen-ling, fundador do Tak Chun Group, e de outro colaborador, ocorreu dois meses após a prisão de Alvin Chau, o seu mais direto competidor no setor do jogo macaense que movimenta anualmente milhares de milhões de dólares. Ambos eram intermediários conhecidos por junkets, promotores da ida a Macau de jogadores de casino aos quais prestam ao mesmo tempo serviços de operador turístico e de empréstimos.
As consequências do desaparecimento, agora, dos negócios de Chan Wen-ling estão ainda por quantificar mas deverão agravar ainda mais a crise no setor, abalado igualmente pela pandemia de Covid-19.
A antiga colónia portuguesa é o único lugar na China onde o jogo é permitido e congrega o maior número de casinos por metro quadrado em todo o mundo. Os seus clientes são sobretudo chineses oriundos do continente, a maioria através de junkets.
Antes da pandemia de Covid-19, os funcionários mais ricos do Governo Comunista Chinês e empresários iam a Macau apostar fortunas, sem olhar a limites e em violação das severas leis chinesas que limitam a quantidade de dinheiro líquido que pode ser transportado para fora do país.
A pressão de Pequim, a mando do Presidente Xi Jinping, levou as autoridades locais a reforçar a investigação ao branqueamento de capitais e a supervisão dos casinos. A detenção de Alvin Chau e de outros líderes do operador de viagens e de lazer Suncity, pela polícia do território, foi o primeiro aviso de que o jogo está a mudar, com consequências potencialmente catastróficas.
Nesse mandado, a polícia de Wenzhou acusava Alvin Chau de “dirigir uma organização criminal, com 12 mil agentes, cuja missão era promover os jogos a dinheiro”, os quais “causam estragos graves à ordem social do país”. A rede teria angariado 80 000 apostadores na região, possibilitando a lavagem de dinheiro adquirido ilegalmente, à revelia das autoridades chinesas.
Além de aniquilar em dois meses os dois principais junkets do território, a interferência chinesa revela-se no controlo das licenças atribuídas e na nova lei do jogo aprovada no passado dia 24 de janeiro. Stanley Ho deteve durante décadas o monopólio do jogo em Macau mas em 2002 as autoridades abriram o setor a cinco novos concorrentes, cada qual com concessões de 20 anos. Quaisquer novas licenças a emitir ou a renovar serão de apenas 10 anos a partir de 2022,o que tem afastado candidaturas de novos operadores.
O prazo de concessão atualmente vigente é de 20 anos e as ações detidas pelos administradores-delegados residentes permanentes de Macau são de um mínimo de 10 por cento.
Os rendimentos como junkets permitiram a Chan Wen-ling lançar-se no setor de hotéis e de casinos, fundando o Macau Legend Development cujas ações em bolsa caíram 30 por cento esta segunda-feira, e a Alvin Chau liderar o maior grupo de junkets do mundo, o Suncity, o qual praticamente faliu em dois meses, lançando no caos o sistema financeiro do território.
Em declarações à agência Lusa em princípios de dezembro, o economista Albano Martins, previa grandes dificuldades com a queda do Suncity, até então o maior angariador de
apostadores do mundo, grande empregador e com presença em mais de 40 por
cento das salas dos casinos.
"Vai provocar um grande abalo na
indústria do
jogo em Macau", referiu, antecipando que o desaparecimento do "dinheiro que vinha para Macau através do Suncity, e que passava pelo
sistema financeiro", iria deixar o sistema financeiro "descalço". "Vai-se estender para o sistema financeiro e isso vai ser aterrador".
Chan Wen-ling foi acusado de colaborar com Alvin Chau num esquema que facilitava o jogo a dinheiro em território chinês, onde este é ilegal, através de plataformas de jogo digitais e apesar da rivalidade e concorrência oficiais.
“Mesmo se os dois operadores visam dois grupos diferentes, dispomos de provas suficientes para demonstrar que colaboravam”, afirmou em conferência de imprensa a polícia de Macau.
“Mesmo se os dois operadores visam dois grupos diferentes, dispomos de provas suficientes para demonstrar que colaboravam”, afirmou em conferência de imprensa a polícia de Macau.
Antes da pandemia de Covid-19, os funcionários mais ricos do Governo Comunista Chinês e empresários iam a Macau apostar fortunas, sem olhar a limites e em violação das severas leis chinesas que limitam a quantidade de dinheiro líquido que pode ser transportado para fora do país.
A pressão de Pequim, a mando do Presidente Xi Jinping, levou as autoridades locais a reforçar a investigação ao branqueamento de capitais e a supervisão dos casinos. A detenção de Alvin Chau e de outros líderes do operador de viagens e de lazer Suncity, pela polícia do território, foi o primeiro aviso de que o jogo está a mudar, com consequências potencialmente catastróficas.
Esquema fatal
Chau era conhecido como o “rei das apostas” e foi detido provisoriamente a 29 de novembro, tal como outros quatro sócios, após 14 horas de interrogatório durante as quais, afirmou a imprensa local, admitiu os crimes. Alvin Chau foi nomeadamente acusado com outros 10 dirigentes do seu grupo de ter montado no estrangeiro jogos de apostas a dinheiro, ilegais na China continental, atraindo apostadores que acediam aos jogos através de plataformas online.
“O grupo utilizava as contas bancárias das sociedades de Macau para fazer transitar fundos através de canais clandestinos”, referiu o documento publicado então pelo procurador-geral de Macau. Desta forma abriram caminho à lavagem de dinheiro, acusaram ainda as autoridades.
Todas as salas de jogo VIP em Macau exploradas pelo Suncity foram encerradas após a prisão preventiva do diretor-geral Alvin Chau, que pediu entretanto a demissão do cargo. Dias depois, o Suncity anunciou o fim das suas operações relacionadas com os junkets.
Dois meses depois da detenção do diretor-geral demissionário do Suncity,
o governo do território anunciou que assumia a proteção dos empregados
despedidos com o encerramento do grupo.
Os promotores do Suncity estavam sob investigação por atividades ilegais desde 2019.
Nesse ano Alvin Chau foi proibido de entrar e de permanecer em
território australiano, onde as autoridades o suspeitavam de “atividades
de branqueamento em grande escala”, de acordo com um relatório do Jockey Club de Hong Kong datado de 2017.
Mas Pequim e a sua determinação em controlar a atividade do jogo que permite a fuga de milhares de milhões de dólares entre os dedos das autoridades desempenharam um papel fulcral.
A detenção de Alvin Chau e dos restantes deu-se 24h depois da emissão de um mandado de prisão emitido contra o “rei das apostas” pelas autoridades judiciárias da cidade de Wenzhou, na província de Zhejiang, a mais de mil quilómetros a nordeste de Macau, na China continental.
Nesse mandado, a polícia de Wenzhou acusava Alvin Chau de “dirigir uma organização criminal, com 12 mil agentes, cuja missão era promover os jogos a dinheiro”, os quais “causam estragos graves à ordem social do país”. A rede teria angariado 80 000 apostadores na região, possibilitando a lavagem de dinheiro adquirido ilegalmente, à revelia das autoridades chinesas.
A coincidência entre a emissão do mandado contra Alvin Chau e a sua detenção quase imediata revela que a decisão de agir na região administrativa da Macau partiu de Pequim.
O jogo de Pequim
Única indústria de Macau, os casinos terminaram 2021 com receitas de 86,8 mil milhões de patacas (9,5 mil milhões de euros), um aumento de 43,7% em relação ao ano anterior.
Macau tem atualmente três concessionárias - Sociedade de Jogos de Macau
(SJM), Galaxy e Wynn - e três subconcessionárias - MGM, Venetian (Sands
China) e Melco, cujas licenças expiram dentro de seis meses.
O prazo de concessão atualmente vigente é de 20 anos e as ações detidas pelos administradores-delegados residentes permanentes de Macau são de um mínimo de 10 por cento.
A nova legislação limita para 10 anos o prazo das novas concessões a
atribuir em junho próximo, determina um total máximo de seis
concessionarias de jogo e proíbe as subconcessões.
Na revisão da lei do jogo aprovada estabelece-se agora que "cada promotor de jogo [junkets] só pode exercer a atividade de promoção de jogos numa concessionária".
Aumenta também para 15 por cento as ações detidas pelos administradores-delegados residentes permanentes de Macau e sobe para cinco mil milhões de patacas (544 milhões de euros) o montante do capital social das concessionárias.
Com Lusa