Julho: Os dias alucinantes da ameaça de Grexit

O mês de julho - aliás o ano de 2015 - fica marcado pela possível saída da Grécia da Zona Euro e do que isso poderia significar para o projeto da moeda única. Cavaco Silva dirá, simplesmente, que, de 19, ficariam 18 países na Zona Euro. Mas a maioria dos líderes europeus fará tudo para evitar um Grexit (da junção das palavras inglesas Greece e exit).

A crise já vem de trás e precipitou-se em finais de junho. Não há dinheiro e os bancos gregos fecharam as portas. Os cidadãos só podem levantar 60 euros por dia.

A troika de credores (BCE, Fundo Monetário Internacional - FMI - e Comissão Europeia) fez há dias uma nova proposta de resgate, de "pegar ou largar".

Nada intimidado, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, deixou passar os dias e enviou à 25ª hora uma carta aos diretores da troika, propondo emendas às propostas. E, em desafio, marcou um referendo às reformas, para domingo, 5 de julho.
Pressão europeia

Logo no dia 1, terça-feira, Atenas falha o pagamento previsto de 1,5 mil milhões de euros ao FMI e vê rejeitado o pedido de adiamento do reembolso. No mesmo dia, numa reunião por teleconferência (a segunda em dois dias), os ministros das Finanças da Zona Euro (Eurogrupo) decidem esperar pelo resultado do referendo.

Mas ninguém vai ficar quieto e dia a dia sucedem-se as ameaças sobre um possível Grexit. Poucas vozes se erguem a defender a manutenção da Grécia na Zona Euro.

Na consulta irá perguntar-se genericamente aos gregos se aceitam as propostas de austeridade apresentadas pelos credores.


António Esteves Martins - RTP (5 de julho)

Tsipras, eleito em janeiro à frente da coligação de esquerda Syriza, numa base de protesto contra a austeridade imposta externamente, apela ao não, o que irrita vários líderes europeus e os faz projetar cenários de catástrofe.

Jeroen Dijsselbloem, ministro holandês das Finanças e presidente do Eurogrupo, adverte que, se o não ganhar, "a Grécia ficará entregue a si mesma", afirmando mesmo que "a zona euro não poderá continuar a apoiar a Grécia", nesse cenário.

O Grexit domina cada mais o horizonte grego.
Vitória de Pirro

Dia 5 de julho, 61,4 por cento dos gregos rejeitam as propostas dos credores internacionais. Só 38,69 por cento aceitam e quase outro tanto (37,5 por cento) abstém-se.

A vitória do não faz disparar os juros da dívida grega. O ministro das Finanças, Yannis Varoufakis, o principal ideólogo da resistência à austeridade, cede finalmente à pressão europeia e demite-se. É substituído por Euclid Tsakalotos, de 55 anos, doutorado pela universidade de Oxford e considerado um economista da esquerda moderada.

Margarida Neves de Sousa, José Rui Rodrigues - RTP (6 de julho)

"Não há outro caminho possível que não seja chegar a um acordo", com a UE e o FMI, diz o ministro da Defesa, Panos Kammenos, após todos os partidos gregos, à exceção do Aurora Dourada, adotarem um acordo de apoio à continuação das negociações.

No mesmo dia, Alexis Tsipras garante num telefonema à chanceler alemã Angela Merkel que Atenas irá apresentar propostas no Eurogrupo marcado para terça-feira, dia 7, em Bruxelas. "Vamos agora aguardar as propostas muito claras do primeiro-ministro grego", reage Merkel.
Um monte de notas

No dia seguinte, a primeira reação é de surpresa: o novo ministro das Finanças grego apresenta somente algumas notas escritas à mão e nenhuma proposta nova do seu Governo.

Os líderes europeus dão à Grécia dois dias para apresentar propostas credíveis em troca de novo resgate - a três anos e que pode ir além dos 50 mil milhões de euros.

O Governo grego compromete-se a apresentar soluções concretas de reformas até às 23h59 (hora de Bruxelas) de quinta-feira, 9 de julho.

Atenas pede ainda ajuda ao do Mecanismo Europeu de Estabilização (MEE) e mantém também os bancos encerrados. Na Grécia, as dificuldades crescem, as empresas dão folga aos trabalhadores e pagam salários em dinheiro.
Novo deadline: domingo, 12 de julho

O presidente da Comissão Europeia admite que já há um cenário detalhado da saída da Grécia da moeda única. A agência de rating Fitch vaticina um "provável" Grexit, a França afirma que fará tudo para o evitar.

Tsakalotos acaba por apresentar na quinta-feira um pacote grego de quase 13 mil milhões de euros em cortes, acima dos oito mil milhões das últimas propostas da troika, rejeitadas em referendo.


João Ricardo Vasconcelos, Miguel Teixeira - RTP (12 de julho)

A Europa fica suspensa das reuniões, marcadas para Bruxelas no domingo seguinte. E o BCE avisa: se não houver acordo dia 12, não haverá mais apoios à Grécia.

A Cimeira Extraordinária sobre a Grécia começa às 16h00 em Bruxelas e irá arrastar-se por 17 longas horas, sendo interrompida diversas vezes para reuniões à parte e consultas. Dois pontos quase deitam tudo a perder: o fundo de privatização reclamado pelos credores e a manutenção do FMI no novo programa de assistência.
Ameaça vence resistência grega

"Acordo", subscrito por unanimidade, anuncia finalmente, num tweet, Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, na manhã de segunda-feira, dia 13. O presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, afasta oficialmente o cenário do Grexit.

O terceiro resgate da Grécia, a três anos, orça os 86 mil milhões de euros e será negociado no âmbito do Mecanismo Europeu de Estabilidade.

O fundo de recapitalização da banca grega fica na Grécia, sublinha Tsipras, na que é a sua única vitória real. Contrariamente ao que ele desejava, o FMI vai continuar associado ao terceiro resgate. O Governo grego cedeu também aos credores em tudo o resto.



O novo resgate será aprovado, tal como o financiamento-ponte que permite à Grécia pagar 7 mil milhões de euros ao BCE, devidos em julho e agosto.

Tsipras marca eleições antecipadas, para voltar a ganhar legitimidade como Governo. A 20 de setembro, o Syriza voltará a ganhá-las com mais de 35 por cento dos votos. Tsipras vai permanecer ligado aos Gregos Independentes: "a bandeira grega está erguida, não só em todas as praças gregas, mas em todas as praças europeias", afirma.

Em julho a espada da Grexit foi afastada mas mantém-se pendurada sobre as cabeças dos gregos. Em meados de dezembro de 2015 a Presidente do FMI, Christine Lagarde, voltará a prevenir para a necessidade de mais reformas na Grécia, sob pena de o Grexit, finalmente, se concretizar.