Lagarde quer reformular estratégia do BCE com "sabedoria" de "coruja"

por RTP
Armando Babani - EPA

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, defende uma revisão "ampla" da estratégia de política monetária da instituição e promete ter o seu "próprio estilo", com a "sabedoria" de uma "coruja".

Após a primeira reunião de política monetária do BCE presidida por Christine Lagarde, esta quinta-feira, a nova presidente afirmou que pretende uma revisão mais abrangente e que prevê que esteja concluída no final do ano de 2020.

Christine Lagarde começou por confirmar as medidas anunciadas em setembro por Mario Draghi e informou que a revisão estratégica – a primeira desde 2003, após anos de medidas destinadas a combater a crise – deveria ter início já no próximo mês de janeiro.

"Não há nada de extraordinário em haver uma revisão estratégica", argumentou. "Até acho que é um bocado tarde, sinceramente, porque havia muitas coisas a fazer", acrescentou.

Esta revisão pretende incluir "parlamentares", investigadores e a sociedade civil, ou seja, "ouvir" e não apenas "pregar" os pontos de vista do BCE, explicou.
Lagarde quer "ser uma coruja"
Na conferência de imprensa, Lagarde leu o discurso habitual do BCE, tentando diferenciar-se do seu antecessor Mario Draghi.

Não querendo ser comparada e tentando destacar-se, a nova presidente sublinhou que "cada presidente tem o seu estilo".

"Eu vou ter o meu próprio estilo. Vou ser eu própria e, por isso, provavelmente diferente. Não queiram fazer comparações, interpretações, segundas interpretações", disse Lagarde aos jornalistas antes de responder às questões.

Recusando os habituais rótulos aplicados a quem defende políticas monetárias mais cautelosas ou medidas mais expansionistas, Lagarde garante que não é "um falcão nem uma pomba" e promete imprimir o seu "estilo" de comunicação na instituição.

"Gosto mais de pensar que sou uma coruja, um animal que é associado frequentemente com sabedoria".
Taxas de juros e alterações climáticas na revisão estratégica
A revisão estratégica que Lagarde propõe consiste em precisar o objetivo de inflação seguido pela instituição, mas também de integrar na política monetária os desafios colocados pelas alterações climáticas e pela evolução tecnológica.

"Na nossa revisão estratégica, abordaremos as mudanças climáticas e veremos onde e como podemos incluir esse esforço específico", disse Lagarde.

Esta análise surge numa altura em que a política do BCE tem sido marcada por taxas de juro historicamente baixas e pelas compras de dívida - medidas destinadas a apoiar a economia.

Christine Lagarde afirmou que há "sinais de estabilização" do abrandamento económico da zona euro, apontando ainda um aumento ligeiro da inflação subjacente.

A presidente do BCE diz que considera, no entanto, que a economia europeia ainda enfrenta uma série de riscos, incluindo as tensões protecionistas.

"Os dados económicos que conhecemos, sendo fracos, indicam uma certa estabilização". Mas "o crescimento do mercado de emprego e os aumentos de salários continuam a apoiar a resiliência da economia da zona euro", sublinhou Lagarde.

Antes da conferência de imprensa desta quinta-feira, o BCE anunciou que vai manter as taxas de juro nos níveis atuais. Em comunicado, a instituição garantiu que as taxas se vão manter no nível atual ou "em níveis mais baixos".
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