Centeno diz não ter "desilusões" sobre não recondução e garante "rigor financeiro inquebrantável" nas decisões do BdP

O ainda governador do Banco de Portugal foi entrevistado esta sexta-feira pelo jornalista Vítor Gonçalves. Na primeira vez que Mário Centeno falou após a não recondução no cargo, afirmou que o seu desempenho "está aí para ser avaliado" e contou que não recebeu uma justificação do ministro das Finanças acerca da decisão do Governo. O economista garantiu ainda que a escolha do local da nova sede do BdP foi uma decisão coletiva e que o contrato é de 192 milhões de euros, falando num "rigor financeiro inquebrantável" por parte da instituição.

Joana Raposo Santos - RTP /
Imagem: Fernando Andrade - RTP

O meu desempenho está aí para ser avaliado. A decisão que foi tomada é uma decisão que só cabia ao Governo. É assim que deve ser feito e respeito, obviamente, todas essas decisões”, afirmou.

Mário Centeno avançou também que foi o ministro das Finanças quem o informou da decisão. Questionado sobre se houve uma justificação, Mário Centeno respondeu que apenas houve um agradecimento pelo seu trabalho.

“Todo este meu trajeto foi marcado por uma característica de estabilização do sistema financeiro muito significativa, de reforço da posição de Portugal internacionalmente. Estou muito satisfeito por todos estes anos de serviço público”, acrescentou.

O antigo ministro das Finanças garantiu que, pessoalmente, não sente a saída como uma desilusão e desejou “muitas felicidades” ao sucessor Álvaro Santos Pereira nas novas funções.
Novo local da sede foi “decisão coletiva”
Acerca do processo de construção do novo edifício sede do Banco de Portugal em Entrecampos, nos terrenos da antiga feira popular, Mário Centeno garantiu que essa “é uma decisão coletiva” e não do governador.

“O banco tem quase 180 anos de história e o banco não é o seu governador. O banco tem décadas de espera por este investimento”, explicou.

Passaram oito governadores e 22 ministros das Finanças até conseguirmos hoje chegar a este ponto. É com enorme ansiedade e expectativa que o banco vê este passo. É muito importante respeitá-lo. O banco segue sempre as melhores práticas e tem um rigor financeiro inquebrantável em todas as suas decisões”, assegurou à RTP.

Mário Centeno relembrou que se trata de um contrato entre o Banco Central e a maior seguradora portuguesa, realçando que “a grande maioria dos portugueses tem ou teve um contrato com a Fidelidade”.

“Eu acho muito leviano que se levantem dúvidas sobre estas relações contratuais feitas pelo Banco Central”, considerou.

O economista realçou ainda que o BdP olhou para mais de 20 localizações possíveis em Lisboa, desde o Parque Eduardo VII à Praça de Espanha ou ao Parque das Nações. “Nunca nenhuma foi concretizada ao ponto onde estamos hoje”, frisou.
Centeno garante que valor do contrato foi 192 milhões de euros
Ainda sobre a sede, Mário Centeno assegurou que o contrato de promessa de compra e venda assinado com a Fidelidade, que é a promotora do empreendimento, é de 192 milhões de euros. “Não há nem mais um euro nem menos um euro do que aquilo que foi assumido”, vincou.

“Depois, naturalmente, para um novo edifício moderno que albergue finalmente os 1.300 postos de trabalho que o banco tem na cidade de Lisboa, há que dotar este edifício das condições que tenham de existir. Esse trabalho ainda não foi feito e não há estimativas que possam ser divulgadas sobre esse valor”.

O governador garantiu ainda que todos os alertas de consultores internos e externos sobre o projeto foram contemplados no contrato de promessa de compra e venda para acautelar os direitos do banco.

Além disso, assegurou que foram dadas ao Governo “todas as informações” relativamente ao contrato, aos alertas e à forma como o banco os tratou, assim como ao custo das avaliações, adiantando ainda que o BdP seguiu com a avaliação de menor valor.
“A minha independência não pode ser posta em causa”
Sobre as nomeações de última hora no Banco de Portugal, nomeadamente a recondução do chefe de gabinete e a indicação de Rita Poiares para diretora-adjunta do gabinete de estatística, Mário Centeno respondeu que ambos têm carreiras muito longas e “absolutamente exemplares” na instituição.

“Para entrar no BdP não se pode ter média de dez, é preciso ter um nível académico muito elevado”, afirmou.

Acerca das críticas à sua independência, o governador defendeu que esta não pode ser posta em causa. “A minha independência não pode ser posta em causa por ninguém. Eu sempre usei aquilo que é a massa crítica do banco para os trabalhos que foram divulgados. O banco não mudou de atitude”, declarou.

Questionado sobre se é papel do BdP fazer reparos às opções do Governo, Mário Centeno respondeu que, nos últimos 180 anos, a instituição sempre avaliou a situação económica do país.

“O Banco de Portugal nunca deixou de dizer o que tinha a dizer sobre a economia portuguesa porque é essa a sua função. O BdP olha para riscos e faz alertas”, concluiu.

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