Moçambicanos fazem contas a aumento dos transportes

por Lusa
António Silva - EPA

A rota mais barata dos transportes públicos na Beira, cidade do centro de Moçambique e uma das principais do país, aumentou 50% no início da semana, em resposta a queixas dos motoristas, mas com lamentações dos utentes.

O aumento de cinco meticais é transversal: a rota mais barata passou de 10 para 15 meticais (de 15 para 22 cêntimos de euro) e a mais cara subiu de 25 para 30 (de 37 para 45 cêntimos de euro), acréscimos autorizados pelas autoridades locais.

Os proprietários dos "chapas", viaturas ligeiras de passageiros, geralmente em muito mau estado e apinhadas além do tolerável, queixam-se do aumento do combustível e têm pedido autorização para aumentos em todo o país.

Na Beira, os transportadores já tinham ameaçado com paralisações de protesto que em anos anteriores causaram convulsões por toda a cidade, dada a crónica crise de transportes em Moçambique.

Mas agora é a população que deita contas à vida: o que parecem tostões são valores importantes num dos países mais pobres do mundo.

Graça Semente, vendedora no mercado de rua do Maquinino, começa a pensar se compensa fazer-se à estrada para ir vender, porque tem de fazer vários percursos, tudo a multiplicar por 15.

"É triste. Saímos todos os dias às 04:00 (03:00 em Lisboa) para comprar produtos [aos grossistas] que já estão muito caros e depois ainda temos de pagar mais pelo `chapa` e não sabemos o que fazer. Na minha opinião, não deviam subir o preço, para também ganhamos alguma coisa", referiu.

Ezequiel Munhovo, pai de sete filhos, carrega a marmita para o trabalho e diz que o seu salário "não cobre as despesas familiares", pelo que o aumento dos transportes só vem reforçar o "apertar do cinto".

"Eu recebo 5.000 (75 euros) e tenho de pagar `chapa`, todos os dias, 30 meticais para o serviço, ida e volta. Outro vivem mais longe e têm de pagar 60. A mulher quer comer, tenho de alimentar as crianças, pagar escola e tudo o resto. Não, não concordo com este aumento", frisou.

Luís Gomes, mecânico numa oficina da cidade, concorda com o aumento dos transportes, mas discorda de uma subida tão alta como 50%.

"Eles também querem ter uma percentagem nos serviços deles, devido ao combustível que subiu, mas aceleraram um pouco: a subida de preço devia ter sido de 2,5 ou três meticais", referiu.

Jonito Andersom, outro residente, diz que quem já tem pouco e, por isso, vive mais longe, fica "ainda mais prejudicado".

Apesar de os transportadores terem conseguido um aumento de preço, há receios de que alguns, mesmo assim, tentem obter uma receita ainda maior de forma irregular.

O presidente do município da Beira, Albano Carige, disse na última semana que a polícia local será "implacável", na fiscalização, "principalmente no encurtamento de rotas, que tem sido lema dos transportadores", atalhando percursos para poupar combustível, com os passageiros obrigados a ficar longe das suas paragens de destino.

A inflação homóloga em Moçambique foi de 9,31% em maio, o valor mais alto dos últimos quatro anos e sete meses, batendo novo máximo para o período, como já tinha acontecido em abril,

A subida que se verifica desde o início do ano está em linha com todas as previsões e com o clima inflacionista global.

Em função dos dados de maio, o Standard Bank atualizou o cenário de subida de preços em Moçambique e prevê agora que a inflação homóloga chegue a 11,7% no final do ano.

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