Negociações do NAFTA envoltas em tensão após intervenção de Donald Trump

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Chris Keane, Reuters

Os contributos de última hora do Presidente Donald Trump não só não ajudaram a última ronda de conversas para a renegociação do NAFTA – o tratado que regula a relação comercial entre os Estados Unidos, México e Canadá – como levaram para a mesa uma tensão dispensável pelos três representantes numa altura em que os negociadores correm contra o relógio. Os Estados Unidos arriscam não apenas adiar a assinatura do NAFTA II para um cenário pós-eleitoral em toda a América do Norte (que pode virar à esquerda no México e pender para os Democratas nas intermédias de Washington), como uma onda de contra-ofensivas na guerra do aço por parte dos seus principais parceiros comerciais, tendo a União Europeia avançado o primeiro peão neste novo xadrez.

Numa tentativa de forçar o México e o Canadá a aceitarem os novos termos do NAFTA, que está a ser renegociado há largos meses, o Presidente Trump recorreu ontem ao Twitter para propor uma troca: a assinatura de um acordo em termos mais benéficos para os Estados Unidos pela isenção do México e do Canadá das novas tarifas alfandegárias que os norte-americanos pretendem impor na importação de aço (25%) e alumínio (10%).

A ameaça de taxar fortemente a importação destas matérias-primas, a confirmar-se, representaria um peso considerável para os parceiros continentais dos Estados Unidos, já que o Canadá é o maior fornecedor de aço e alumínio da indústria norte-americana, enquanto o México surge em quarto na lista de vendedores de aço.

“A visão do Presidente [Donald Trump] é que faz o sentido se conseguirmos um bom acordo deixá-los [ao México e ao Canadá] fora das novas tarifas”, propugnava o negociador norte-americano, Robert Lighthizer, no final da sétima ronda de negociações na Cidade do México, esta segunda-feira.

“É um incentivo para chegarmos a um acordo”, sublinhou Lighthizer, mas a abertura de Trump aos parceiros do NAFTA não teve o efeito que o Presidente pretendia. Os mexicanos acenaram com uma folha onde estarão a estudar medidas de retaliação com nova taxação de produtos norte-americanos importados pelo país; do Canadá, o aviso do próprio primeiro-ministro Justin Trudeau de que tentar embrulhar um novo NAFTA na isenção das tarifas “não ajudava”.

Foi portanto num cenário de caos negocial – muito por culpa da intervenção de Trump – e de urgência que se fechou a ronda negocial desta semana, sem novos encontros definidos e apenas com seis dos 30 capítulos do novo acordo fechados.

Com todos os riscos de manter a mesa de negociações fechada até depois do segundo semestre do ano, concretamente os períodos eleitorais que se avizinham nos três países-parceiros. Em particular, o receio dos representantes da Administração norte-americana de virem a ter de negociar com um governo à esquerda no México e, na sua própria casa, serem condicionados por uma eventual maioria democrata (pelo menos em uma das câmaras do Congresso) que saia das eleições intermédias nos Estados Unidos.
Trump ensaia esforços bilaterais

O Presidente Trump, pouco fã dos grandes acordos comerciais negociados pelos Estados Unidos (não só o NAFTA, que vem desde 1994, mas também o TTIP e o TPP, já anulados pela Administração), parece mais interessado em negociações bilaterais, tendo entretanto abordado o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau.

O contacto telefónico foi confirmado pela Casa Branca, apesar do sublinhado de que o Presidente Trump privilegia um acordo que seja benéfico para as três partes.

E do México já veio o aviso de que a negociação tripartida é para ser mantida nesses moldes. O ministro da Economia, Ildefonso Guajardo, afastou qualquer cenário de conversas a dois, enfatizando que a nova versão do NAFTA deverá continuar a ser um tratado entre Estados Unidos, México e Canadá.

E, quanto às tarifas avançadas por Donald Trump para o aço e o alumínio, também os mexicanos parecem dispostos a deixá-las fora da mesa de negociações, não ponderando sequer tomá-las como contrapartida à sua assinatura no documento.

Face à ameaça americana, Guajardo assumiu antes uma postura de contra-ofensiva, revelando que o seu governo poderá já ter em mente que resposta dar a Donald Trump.

Numa entrevista a uma televisão mexicana, o ministro da Economia revelou que, a concretizar-se a ameaça das novas tarifas alfandegárias sobre o aço e o alumínio, o governo mexicano seria obrigado a responder à letra e que “há uma lista [de produtos dos Estados Unidos] que estamos a analisar, mas que ainda não revelaremos, vamos esperar”.

Quem não esperou foi a União Europeia, que estará a preparar a aplicação de novas tarifas a uma série de produtos importados dos Estados Unidos. Em causa estão 2.800 milhões de euros em compras anuais, com o alvo colocado em produtos como calças de ganga, motas e whiskey, que suportarão uma taxa de 25 por cento.

De acordo com a Bloomberg, a contra-ofensiva é direcionada ao coração do Partido Republicano de Donald Trump, como será o caso do Wisconsin (fabricante das Harley Davidson) e do Kentucky (whiskey).
Tópicos
pub