Netflix quer acabar com partilha de passwords

por RTP
Reuters

O gigante de streaming Netflix vai começar a ser mais rígido na partilha da palavra-passe, já nos primeiros três meses deste ano. O anúncio surge após a divulgação do relatório de lucros da empresa aos acionistas.

O fim da partilha da password nos agregados familiares vai atrair taxas adicionais para a empresa, que está a tentar recuperar as perdas de subscritores.

“Apesar de os nossos termos de utilização limitarem a utilização da Netflix a um agregado familiar, reconhecemos que esta é uma mudança para os membros que partilham a sua conta de forma mais ampla”, afirma a empresa no documento. A prática de partilha de palavras-chave com pessoas fora da casa do assinante vai tornar-se mais complexa e envolver uma taxa adicional para a partilha de password em vários locais.

“À medida que procedemos à partilha paga, os membros em muitos países terão também opção de pagar um valor superior se querem dividir a partilha da Netflix com pessoas com quem não habitam. Como é o caso hoje, todos os membros poderão assistir enquanto viajam, seja numa televisão ou num dispositivo móvel”, acrescenta a empresa.

No relatório entregue aos acionistas, a Netflix reportou um total de 231 milhões de assinantes, com 32 mil milhões de dólares de receitas e 5,6 mil milhões de dólares em receitas operacionais.

Com base num exame das novas regras mais rigorosas em países selecionados da América Central e do Sul em 2022, a Netflix admitiu que esperava uma reação negativa a curto prazo.

“À medida que trabalhamos na nesta transição – e que alguns usuários deixam de existir, quer porque não se convertem em assinantes extra ou em assinaturas de pagamento completo – o compromisso a curto prazo poderá ser negativamente afetado”.

Segundo o jornal britânico The Guardian, a empresa “acredita que o padrão será semelhante ao que aconteceu na América Latina, com o envolvimento a crescer ao longo do tempo à medida que continuamos a fornecer uma grande variedade de programação e os assinantes se inscrevem para as próprias contas”. A Netflix não é muito específica na data, afirmando apenas que a alteração acontecerá “o mais tardar, no primeiro trimestre de 2023”.

Na Costa Rica, Chile, Peru, Argentina, El Salvador, Guatemala, Honduras e República Dominicana serviram de modelo à empresa. Países que foram visados pela Netflix pelo facto de a partilha de password ser muito comum.

Os assinantes não terão restrições nos dispositivos móveis, tais como smartphones, tablets ou portáteis, para permitir aos utilizadores legítimos aceder às suas contas enquanto viajam.

No entanto, o novo sistema pode colocar um ponto final ao login na conta para assistir a uma série ou filme da Netflix em casa de um familiar ou amigo, bem como à partilha de uma única assinatura em várias casas.

O diretor de inovação da empresa de streaming, Chengyi Long, explicou em outubro como é que o novo sistema pode funcionar. Apenas será permitida uma única casa com conta Netflix, que pode ser usada em vários dispositivos. Para adicionar mais casas será aplicada uma taxa mensal adicional (na maioria dos países latino-americanos foi de 2,99 dólares).

No caso de viagens, a conta só será acessível por tablet, portátil ou telemóvel. Os assinantes terão de iniciar a sessão para remover agregados familiares indesejados na sua conta.

Segundo Chengyi Long, “a partilha de contas generalizada em vários lares está a minar a nossa capacidade a longo prazo de investir e melhorar o nosso serviço”.

“Por isso temos vindo a explorar cuidadosamente diferentes formas de as pessoas que querem partilhar as suas contas pagarem um pouco mais”.

Em 2022, a Netflix perdeu 200 mil clientes no primeiro trimestre, e admitiu que esperava perder mais dois milhões no entre abril e junho. A empresa apresentou fatores como o aumento de concorrência e a guerra na Ucrânia para justificar a quebra. No entanto, Chengyi Long não especificou como é que a Netflix planeia aplicar o novo sistema.

Nos ensaios na América Latina, se for detetada uma mudança de localização de uma conta a ser usada durante mais de duas semanas, o titular recebe uma notificação com a possibilidade de mudar a morada ou pagar uma taxa para adicionar o novo endereço.

A 19 de janeiro, numa entrevista à Variety, o CEO da Netflix, Greg Peters, admitiu uma repressão nas password partilhadas “não será uma medida popular” e que a empresa começaria a aplicar o novo regime, dando aos clientes que continuam a partilhar contas “um leve empurrão para que paguem um valor extra pela utilização em vários locais”.
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