Nicolás Maduro ordena escolta militar a petroleiros devido ao bloqueio de Trump

Três fontes separadas afirmaram esta quarta-feira ao New York Times que o governo venezuelano irá usar navios de guerra para escoltar navios petroleiros que saiam dos seus portos. Pequim avisou entretanto que se opõe a qualquer tentativa de "intimidação unilateral".

Graça Andrade Ramos - RTP /
Nicolás Maduro ordena escolta militar a petroleiros devido ao bloqueio de Trump Reuters

A medida responde ao "bloqueio" marítimo imposto terça-feira ao país por ordem do presidente norte-americano. Donald Trump diz que o bloqueio ao petróleo da Venezuela é para levar a sério e garante que os Estados Unidos não vão permitir a entrada e saída de navios petroleiros.


O alvo direto do cerco é a indústria petrolífera da Venezuela. Trump disse que pretendia bloquear os petroleiros que violaram as sanções comerciais americanas contra Caracas.

Entre o serão de terça e a manhã de quarta-feira, vários navios petroleiros fizeram-se ao mar a partir da costa leste venezuelana, sob escolta da Marinha de Guerra da Venezuela.

Os navios, que transportavam ureia, coque de petróleo e outros produtos petrolíferos, partiram do Porto de José em direção aos mercados asiáticos e europeu, disseram duas pessoas, que falaram sob anonimato devido à natureza delicada do assunto.

Os navios sob escolta não constavam da lista atual de embarcações sancionadas pelos EUA, o que torna incerto se poderiam estar sujeitos ao bloqueio. Trump disse na terça-feira que estava focado nestes petroleiros.

A terceira fonte próxima do assunto, um funcionário norte-americano, disse ao New York Times que Washington estava a par das escoltas e a considerar eventuais respostas, mas recusou-se a fornecer detalhes.
Petroleiro apreendido
A petrolífera estatal venezuelana, a PDVSA, afirmou quarta-feira em comunicado, que os navios ligados às suas operações continuavam a navegar "com total segurança, apoio técnico e garantias operacionais, no legítimo exercício do seu direito à livre navegação". Nos últimos anos, cerca de 40 por cento dos petroleiros que transportaram crude venezuelano foram alvo de sanções por parte dos EUA, de acordo com Samir Madani, cofundador do TankerTrackers.com.


Na semana passada, as autoridades policiais norte-americanas apreenderam um petroleiro sancionado com destino à Ásia, carregado com quase dois milhões de barris de crude venezuelano.

A apreensão representou uma escalada significativa na disputa entre o presidente Trump e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cujo governo obtém a maior parte das suas receitas com a exportação de petróleo.

Maduro reagiu à apreensão com raiva e prometeu manter o fluxo de exportações de petróleo a todo o custo.

Segundo fontes citadas pela Bloomberg News, Caracas poderá ter de ordenar em breve o encerramento de alguns poços de petróleo, uma vez que a sua capacidade de armazenamento está a esgotar-se.

Os principais depósitos de petróleo e petroleiros do país, atracados nos seus terminais, estão a encher rapidamente e podem atingir a capacidade máxima em cerca de 10 dias, segundo o relatório.
Movimentações
De acordo com o Politico, a Administração Trump estará a sondar a disponibilidade de empresas petrolíferas norte-americanas para um eventual regresso à Venezuela, mal Nicolás Maduro seja afastado. A resposta tem estado a ser "não", referiu o jornal. Um apoio do forte setor petrolífero americano poderá ser fulcral na garantia de financiamento de uma intervenção militar dos EUA na Venezuela.

O presidente da Venezuela está por seu lado a procurar apoios internacionais e transmitiu hoje ao secretário-geral da ONU, António Guterres, a sua preocupação com a "escalada das ameaças" ao seu país, após o "bloqueio total" imposto por Washington.

Maduro denunciou a "forma inaceitável" como os Estados Unidos estão a agir e afirmou "que o petróleo, os recursos naturais e o território venezuelano lhe pertencem", segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros venezuelano.

Guterres apelou entretanto à moderação e à redução imediata das tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela.


De acordo com o porta-voz adjunto das Nações Unidas, Farhan Haq, em declarações aos jornalistas, Guterres exortou ambos os países a "honrarem as suas obrigações perante o direito internacional, incluindo a Carta da ONU e qualquer outro quadro jurídico aplicável, para salvaguardar a paz na região".

A tensão ameaça outras relações.

Pequim assegurou hoje à Venezuela que se opõe a qualquer tentativa de "intimidação unilateral"

"A China acredita que a comunidade internacional compreende e apoia a posição da Venezuela na defesa dos seus direitos e interesses legítimos", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros Wang Yi ao seu homólogo venezuelano.
Ameaças "arrogantes"
A possibilidade de Donald Trump concretizar a ameaça de "agir por terra" contra a Venezuela, declarando guerra, é admitida sem reservas nos corredores do Congresso dos EUA.

O exército venezuelano "não se deixa intimidar" pelas ameaças "arrogantes" de Trump, reagiu o ministro da Defesa da Venezuela.

"Dizemos ao Governo norte-americano e ao seu presidente que as suas ameaças grosseiras e arrogantes não nos intimidam", disse Vladimir Padrino esta quarta-feira, lendo um comunicado da instituição militar. "A dignidade desta pátria não é negociável, nem se curvará perante ninguém", acrescentou.
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