Novo Banco vai "seguramente" voltar a pedir financiamentos

por RTP
António Ramalho, antes de apresentar os resultados do Novo Banco relativos a 2018 Tiago Petinga - Lusa

Entrevistado esta noite no Telejornal, o presidente do Conselho de Administração do Novo Banco, António Ramalho, admitiu que "seguramente" voltará a pedir dinheiro, de forma a garantir que a instituição se torne um "banco limpo".

"Não, não lhe posso garantir" que o Novo Banco não venha a pedir de novo financiamento, "porque o mecanismo de ajuda que construído foi exatamente construído com o objetivo de deixar o banco limpo e em momento nenhum me afastarei desse objetivo", respondeu António Ramalho ao jornalista João Adelino Faria."Seguramente que se pedirá o dinheiro necessário porque não vou transferir para terceiros aquilo que deve ser realizado por mim".


"A última das coisas que deveremos voltar a fazer é empurrar com a barriga os problemas que entretanto detetamos para verificar que alguém no futuro os resolva. Eu estou cá para resolver todos os problemas", garantiu o CEO do Novo Banco.

O Novo Banco anunciou esta sexta-feira prejuízos de 1412,6 milhões de euros, reconhecendo que terá de pedir ao Fundo de Resolução um financiamento de 1149 milhões de euros.

Grande parte do montante terá de ser injetada pelo Estado português, já que o Fundo dispõe apenas de parte da verba, como reconheceu o responsável.

"Dada a dimensão do pedido, admito que o financiamento que será solicitado ao Estado possa ser de valor significativo", reconheceu António Ramalho.
Risco de financiamento
Sobre a auditoria entretanto defendida pelo Governo, o presidente da instituição não se mostrou preocupado. "Estamos sempre sob auditoria constante e os nossos clientes sabem disso", lembrou.

Considera natural ainda a decisão face aos montantes solicitados, "que representam um risco de financiamento por parte do Estado".O CEO lembrou que, após o período-ponte de 2014 a 2017 e depois de ser vendido, o Novo Banco iniciou um período de restruturação. Contudo, não se separaram nessa altura as contas do banco bom, conhecido como Recorrente, e do o banco mau, ou do "Legado".

"Significa avaliar o crédito que o banco herdou". A sua solicitação pode ser "feita a qualquer momento" e "será sempre bem-vinda", referiu ainda.

"O Estado quer saber como é que estes créditos foram concedidos", refere, lembrando também que "alguns deles já foram concedidos há muitos anos e merecem ser auditados".

"É bom que sejamos auditados, porque todas as pessoas que têm dúvidas devem ter a certeza que todos os sistemas de controlo foram acionados", acrescentou António Ramalho.

Atualmente, contudo, o Novo Banco é, a 80 por cento, o banco Recorrente e apresenta-se atualmente rentável.

"O banco Recorrente cresceu nas atividades fulcrais, como o crédito a empresas", explicou. "Vinha de um prejuízo de 311 milhões e teve neste momento um lucro de quase nada de dois milhões".

As contas da instituição continuam apesar disso afetadas seriamente pelo "Legado" herdado do BES e constituído em ativos protegidos.
Reduzir o banco mau
"Claramente, nas contas deste ano, a responsabilidade da herança é clara," reconheceu António Ramalho. O que há a sublinhar é que "o banco Legado desceu 27 por cento, de 16 mil milhões para dez mil milhões".

O banco mau tem de ser reduzido, reconheceu António Raposo, lembrando contudo que "o processo de restruturação do Novo Banco foi definido até 2021. Tem 32 compromissos e todos eles têm de ser concretizados um a um. Tem um caso base e tem de cumprir esse caso base".

Recusando comentar o momento crítico em que teve de se tomar decisões por não estar na altura na direção do Banco, o CEO disse que "a separação do Banco foi feita nas circunstâncias em que pôde ser feita".

Entrevista a António Ramalho na íntegra

Esta foi a a primeira vez as contas do Novo Banco foram divulgadas separando as origens. Na tarde desta sexta-feira, o CEO do Novo Banco anunciou em conferência de imprensa que o banco Recorrente deverá crescer significativamente e que os que os ativos do Legado irão descer rapidamente.

"Algum dia os dois bancos se hão-de encontrar", afirmou, acrescentando que "seguramente" os dois se irão encontrar durante o período do mecanismo de capital contingente, que termina em 2016.
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