Pequim mete terras raras na guerra comercial com Trump

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Reuters

As terras raras ricas em elementos fundamentais para a indústria electrónica estão nos bastidores à espera de entrar na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. A imprensa oficial chinesa e a recente deslocação do presidente Xi Jinping a uma infraestrutura desta matéria-prima estratégica fazem antever uma resposta de Pequim, directa ao coração da tecnologia de ponta norte-americana, cuja dependência das importações da China na fabricação de componentes electrónicos ronda os 80 por cento.

A dependência dos Estados Unidos de terras raras chinesas coloca a indústria electrónica do país numa situação de fragilidade face ao gigante asiático. Os analistas estimam em cerca de 80 por cento as importações da matéria-prima chinesa para garantir a produção de produtos avançados norte-americanos.Metais de terras raras: 17 elementos químicos usados na fabricação de smartphones, veículos eléctricos e equipamento e militar.

Pequim terá a cartada guardada para os tempos que vêm, limitando-se para já a acenar com sinais de que a decisão de cortar a saída das terras ricas em minerais poderá ser colocada em cima da mesa a qualquer momento. Este mês, o presidente Xi visitou uma das fábricas transformadoras de terras raras em Ganzhou, região central do país, momento em que se fez acompanhar do chefe-negociador para os Estados Unidos.

Os media estatais chineses têm-se feito eco deste cenário, com o People’s Daily, por exemplo, a deixar o alerta para que Washington não menospreze a capacidade de Pequim para levar a cabo uma escalada na guerra comercial aberta pelo presidente Donald Trump com as taxas alfandegárias. O jornal ligado ao Partido Comunista Chinês não descarta que uma pazada de terras raras venha a ser atirada para cima dos planos americanos.

Mais explícita foi a mensagem do editor-chefe do Global Times, outro jornal ligado ao PC chinês, num tweet em que assegura que o executivo esta a ponderar “seriamente” a restrição das exportações de terras raras para os Estados Unidos, podendo não se ficar por aqui.

Os editoriais recentes dos media chineses repisaram esta tecla, chamando a atenção para o absurdo que seria fornecer aos norte-americanos a matéria-prima que serve para fabricarem um conjunto de bens posteriormente usados na guerra feita à China.

A síntese pode ler-se na agência estatal de notícias Xinhua: “Ao travar uma guerra comercial contra a China, os Estados Unidos correm o risco de perder o fornecimento de materiais vitais para manter a sua potência tecnológica”.

Não é a primeira vez que Pequim se vê acusada de utilizar a exportação de terras raras como arma nas relações externas. Uma das acusações partiu em 2010 do Japão, na sequência de uma disputa marítima. O contexto actual envolve entretanto uma das gigantes mundiais de smartphones: a Huawei, que enfrenta uma série de proibições nos Estados Unidos depois de Washington ter invocado a restrição por motivos de segurança nacional.

A Huawei enfrenta igualmente dificuldades no acesso a componentes norte-americanos essenciais para os seus produtos. As terras raras chinesas poderão, neste contexto, ser colocadas na balança para nivelar os pratos desta guerra.
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