Primeira emissão cabo-verdiana de "obrigações azuis" colocou 3,17 ME

por Lusa

A primeira emissão de "obrigações azuis" em Cabo Verde, realizada através de uma oferta pública em bolsa, rendeu o valor máximo previsto, de 3,17 milhões de euros, registando uma procura 1,5 vezes superior à oferta, foi hoje anunciado.

"Tivemos uma procura inclusivamente superior aos 350 mil contos [350 milhões de escudos, 3,17 milhões de euros, teto máximo]", explicou Miguel Monteiro, presidente da Bolsa de Valores de Cabo Verde, à margem da apresentação dos resultados desta oferta pública bolsista emitida pelo International Investment Bank (iiB) de Cabo Verde, que decorreu na sede da instituição, na Praia.

A operação decorreu de 23 de janeiro a 28 de fevereiro e previa colocar de 250 milhões de escudos a 350 milhões de escudos (2,2 milhões a 3,17 milhões de euros), com maturidade a cinco anos e taxa de juro de 4%.

Das 96 ordens válidas recebidas, 87 foram de particulares e nove de empresas ou instituições. Desse total, 20 foram de emigrantes cabo-verdianos, que adquiriram 70 milhões de escudos (635 mil euros) destas obrigações a partir de Portugal (seis), Estados Unidos da América (cinco), Angola (quatro), França, Itália, Luxemburgo, Suíça e Uganda.

Estas obrigações do iiB, denominadas Marine and Ocean Based Blue Bond série D, operação que contou com o apoio técnico do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), pretendem financiar o desenvolvimento de projetos na área da economia azul em Cabo Verde e foi a primeira operação de oferta pública -- aberta a todos os interessados -- realizada no arquipélago desde 2014.

"O iiB fez esta emissão no sentido de apoiar, ou seja, com possibilidades de créditos diretos ou através de instituições de microfinanças que eles vão, entretanto, ter acordos, para aqueles empreendedores e aqueles investimentos na área da economia marítima, das pescas. Ou seja, aquilo que está ligado aos nossos mares", exemplificou Miguel Monteiro.

"Então, os pequenos empreendedores, quem tem projetos ligados à economia marítima pode, entretanto, dirigir-se ao iiB no sentido de tentar obter o seu financiamento do seu projeto, porque o objetivo desta emissão é, na realidade, aumentar o rendimento dessas pessoas, conseguir retirar outros da pobreza, dar a oportunidades de emprego, porque, naturalmente, quando há investimentos, há certamente melhores condições para ter mais postos de emprego", acrescentou.

A Bolsa de Valores de Cabo Verde (BVC) realizou em 2022 dez emissões, mas todas particulares, basicamente apenas para bancos e instituições qualificadas, ao contrário desta oferta pública, com Miguel Monteiro a admitir a realização de outras duas idênticas ainda este ano.

"Sabendo que este ano, já a partir do Orçamento de Estado, há possibilidade de quem vive na diáspora, os cabo-verdianos, terem isenção de impostos, acreditamos que haverá outras empresas, outras entidades, outras instituições a quererem emitir para financiar as suas atividades, dando a oportunidade aos cabo-verdianos aqui, mas principalmente também lá fora, de terem um rendimento que neste caso até será um rendimento isento de imposto", disse.

"Naquilo que depender da Bolsa de Valores de Cabo Verde, estamos sim a contar ter pelo menos, diria, mais duas ofertas públicas, sem ter neste momento ainda nada identificado. Mas é nosso objetivo sim, para este ano", acrescentou Miguel Monteiro.

À margem da apresentação dos resultados, o presidente da comissão executiva do iiB, Francisco Ferreira, considerou a operação como "viável" e admitiu a realização de outras do género ainda este ano, sendo já o principal operador do mercado de capitais em Cabo Verde.

"Estaremos a fazer novas emissões e contamos que elas voltem a ter esta direcionalidade específica no âmbito da sustentabilidade e da responsabilidade social. Contamos provavelmente fazer este ano novamente uma emissão social, bem como olhar para as oportunidades no segmento `verde` e ver como o banco pode ajudar a estruturar soluções que venham apoiar a economia e desenvolver o espetro empresarial, sempre contando com o seguirmos os vetores designados pela ONU como sendo estruturais para Cabo Verde e o mundo", explicou Francisco Ferreira.

Esta primeira emissão de "obrigações azuis" em Cabo Verde prevê um montante de 50 a 100 milhões de escudos (450 a 900 mil euros) para o banco financiar, através de uma linha própria, microemprendedores e pequenos investimentos deste setor, mas também viabilizar a inclusão financeira neste setor da através de financiamentos diretos ou de parcerias com instituições de microfinanças para crédito de pequena escala a particulares e pequenas empresas no setor marítimo e pesqueiro sustentáveis.

O valor restante servirá para financiar projetos de maior dimensão, também no setor da economia marítima.

A BVC fechou o ano passado com um resultado histórico de dez colocações bolsistas, face à média anual de quatro antes de 2022, tendo o montante de emissões no mercado primário, incluindo títulos do tesouro, atingido os 27.925 milhões de escudos (253,3 milhões de euros), um recorde desde o início das atividades da Bolsa.

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