Prolongamento do ciclo de manutenção não põe em causa segurança, diz CP

por RTP
A empresa argumenta ainda que “a exoneração do diretor de material circulante da CP não tem qualquer ligação com tal decisão, mas, tão somente, com a não verificação de condições objetivas para o exercício da função” Arquivo Lusa

A Administração da CP decidiu que a manutenção dos rodados das automotoras elétricas seria feita aos dois milhões de quilómetros, em vez dos 1,7 milhões, aumentando o ciclo de manutenção em 300 mil quilómetros. O diretor de material foi exonerado este mês, depois de ter alertado para os riscos de segurança da medida, de acordo com o jornal Público. A empresa garante que a alteração não coloca em causa a segurança da operação ou dos passageiros.

De acordo com o jornal, o diretor de material circulante da CP, José Pontes Correia, foi exonerado no passado dia 6 de dezembro, depois de se ter manifestado contra a medida, que, na sua opinião, pode pôr em causa a segurança dos passageiros.

A CP decidiu prolongar o ciclo de manutenção dos rodados das UTE (Unidades Triplas Elétricas) em mais 300 mil quilómetros do que aquilo que está previsto no programa de manutenção. O manual do fabricante indica que este material tem um limite de 1,7 milhões de quilómetros (mais 10 por cento de tolerância), após os quais deve sofrer uma reparação intermédia. De acordo com o Público, em outubro passado, a empresa chegou a ter 16 UTE paradas em oficina para essa intervenção, mas acabaram por voltar ao serviço sem a ter realizado.

A decisão da empresa de prolongar o ciclo de manutenção dos rodados das automotoras em 300 mil quilómetros estará ligada à falta de material da CP, que tem provocado inúmeras supressões de comboios. O Público adianta que a imobilização destas Unidades significava lançar o caos, sobretudo no serviço regional. As UTE são responsáveis pelo serviço Tomar – Lisboa e pelos regionais das linhas do Norte, Beira Alta, Beira Baixa e ainda Figueira da Foz – Coimbra. Substituem também os Intercidades para Évora quando a CP não tem máquinas e carruagens para os realizar.

O prolongamento do ciclo de manutenção adia o problema, com as imobilizações de material, que agora não se farão, adiadas para 2020.

Foi contra este cenário que se insurgiu o director de material da CP, José Pontes Correia, que chamou a atenção para os riscos desta medida. A decisão teve em conta uma vistoria breve ao estado dos rodados das automotoras, mas com critérios muito pouco exigentes, garante o jornal. O risco de erosão dos rodados será maior porque a rede ferroviária está em mau estado.

O próprio fabricante, a multinacional Alstom, também não se pronunciou sobre esta decisão, diz o Público. As UTE são automotoras construídas na Sorefame nos anos sessenta e foram modernizadas entre 2003 e 2005 pela EMEF em parceria com a Alstom, que é também a fornecedora dos bogies (rodados) que então lhes foram instalados.
"Não tem qualquer ligação"
A CP reagiu em comunicado à notícia, garantindo que “as operações de manutenção e reparação do material circulante da CP obedecem a pareceres técnicos e decisões que, em contacto permanente com os fabricantes, asseguram os padrões de segurança ferroviária”.

Sobre o material em concreto, “no que concerne ao ciclo de manutenção das unidades UTE 2240, os pareceres técnicos da Direção de Material Circulante da CP e da EMEF foram naturalmente concordantes e suportaram a decisão do Conselho de Administração da CP, tendo concluído que esta alteração não coloca em causa a segurança da operação ou dos passageiros”.

A empresa argumenta ainda que “a exoneração do diretor de material circulante da CP não tem qualquer ligação com tal decisão, mas, tão somente, com a não verificação de condições objetivas para o exercício da função”.
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