Quebra nas receitas do jogo em Macau são "um desastre"

por Lusa
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Analistas disseram hoje à Lusa que a quebra de mais de 77% nas receitas dos casinos em Macau no primeiro semestre são "um desastre" para a economia de Macau, que pode levar a mais despedimentos.

"É um desastre para a indústria do jogo e, em particular, para a economia de Macau", afirmou à Lusa o especialista na área do jogo Pedro Cortés.

O advogado português da Rato, Ling, Lei & Cortés - Advogados frisou que estes resultados negativos já eram espectáveis devido às medidas de controlo da covid-19 no território, como o encerramento quase total das fronteiras que levaram à quase total paralisação da economia da economia de Macau, altamente dependente do turismo e dos jogadores nos casinos.

Contudo, frisou, "Macau tem de começar a pensar seriamente em mudar a estratégia porque senão o desastre para a economia será ainda maior".

As receitas do jogo em Macau caíram 97% em junho e mais de 77% no primeiro semestre, em relação a iguais períodos de 2019.

Se no primeiro semestre de 2019 as operadoras que exploram o jogo no antigo território administrado por Portugal tinham arrecadado 149,5 mil milhões de patacas (16,7 mil milhões de euros), agora a receita bruta ficou-se pelos 33,7 mil milhões de patacas (3,7 mil milhões de euros).

Na mesma linha, o especialista na área do jogo Carlos Eduardo Coelho sublinhou à Lusa que os números hoje avançados são "extremamente desanimadores para a economia de Macau, em particular para as concessionárias de jogo", até porque cerca de 80% das receitas de Macau "advém da receita gerada pelo imposto especial sobre o jogo e outros deveres contributivos das concessionárias de jogo".

Os casinos de Macau fecharam 2019 com receitas de 292,4 mil milhões de patacas (cerca de 32,4 mil milhões de euros).

O Governo de Macau, recordou o advogado português do escritório MDME, já indicou que para o ano o Orçamento terá um corte de 10% e que vai "avançar com medidas de austeridade nos vários serviços".

Na terça-feira, as autoridades de Macau avançaram à Lusa que desde que se fez sentir o impacto económico em Macau, em especial com o encerramento temporário dos casinos em fevereiro, e até maio, mais de sete mil contratos foram cancelados ou não renovados em Macau.

Agora, Carlos Eduardo Coelho aposta que os despedimentos nas concessionárias do jogo vão continuar: "para as concessionárias de jogo é provável que estes resultados levem à continuação da implementação de medidas de corte de custos operacionais, incluindo despedimentos e paragem de atividades consideradas não essenciais", frisou.

Os residentes de Macau só não estão a "sofrer com muito mais intensidade as consequências económicas desta pandemia" devido "ao excedente orçamental acumulado nos anos transatos", observou.

Para Pedro Cortés, a solução para a crise na capital mundial do jogo tem de passar pelo relaxamento das imposições fronteiriças. "Os turistas da Província de Cantão têm de poder visitar Macau. O mesmo se passa com os residentes de Hong Kong", frisou.

"Todos os Países do Mundo já relaxaram as medidas porque perceberam que colapsariam rapidamente se não o fizessem. Ora, Macau ainda não colapsou, mas quantos mais meses poderemos ter esta redoma de vidro? Ainda não há vacina, é certo, mas já há algumas terapias", reforçou o advogado português.

Com os vistos turísticos da China para Macau suspensos, o número de visitantes provenientes do interior da China caiu em maio 99,4%, em termos anuais. Nos cinco primeiros meses do ano entraram em Macau pouco mais de 3,2 milhões de visitantes, menos 81,1% que no período homólogo do ano passado, num território que em 2019 recebeu quase 40 milhões de visitantes.

Carlos Eduardo Coelho olha também para uma abertura faseada das fronteiras de Macau, sem a obrigatoriedade de quarentena, como uma medida para mitigar os impactos económicos do território.

"É, pois, necessária a criação da tão discutida `bolha de circulação` entre Macau/Hong Kong/Guandong", sublinhou, apesar de reconhecer que essa decisão não depende apenas de Macau, mas também das autoridades chinesas e de Hong Kong.

Esta medida, segundo Carlos Eduardo Coelho, deve ser acompanhada por um reforço de medidas das concessionárias do jogo "necessárias de combate à propagação do vírus (sejam elas de higiene, distanciamento social na área de jogo, de utilização de meios de pagamento `cashless` ou outras) que transmitam a segurança de que tudo estará a ser feito para impedir um novo surto de Covid-19.".

Pedro Cortés acredita ainda que o Governo devia estender as licenças das atuais operadoras, o que só está previsto acontecer em dois anos, já que "a crise que temos em mãos é avassaladora e quanto mais rápido for dado um sinal ao setor menos impacto negativo terá a economia".

Por essa razão, frisou, Macau deve "estender imediatamente por, pelo menos, mais um ano as concessões e subconcessões para além de 27 de junho de 2022".

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