Reformas políticas em Angola foram motivadas por necessidade económica - Alex Vines

por Lusa

Lisboa, 19 nov (Lusa) -- O diretor para África do Instituto Real de Relações Internacionais britânico (Chatham House) defendeu hoje que as reformas políticas em Angola lançadas pelo Presidente de Angola resultou de uma necessidade económica de compensar a descida das receitas petrolíferas.

"A crise económica não deu alternativa a João Lourenço que não fosse reformar", disse Alex Vines, durante a sua intervenção na conferência `Angola: Que mudança?`, organizado pela UCCLA e pelo Clube de Lisboa, que decorre hoje em Lisboa, na qual defendeu que "estabilizar a economia e ganhar o controlo total do MPLA eram as principais prioridades do primeiro ano de mandato do Presidente".

João Lourenço "sabia que uma mudança gradual e reformas lentas era uma coisa que não podia acontecer por causa das dificuldades económicas" que o país atravessa, entre as quais, salientou o investigador britânico, a diminuição da produção de petróleo, que "já está mais ou menos hipotecado" no âmbito dos empréstimos pagos em hidrocarbonetos.

Alex Vines lembrou que o governador do banco nacional de Angola, numa passagem recente pela Chatham House, "disse em público que a economia petrolífera só vai crescer 1% este ano e que a economia do petróleo vai cair 8% este ano, e disse também que isso não tem a ver com os preços, mas sim com o declínio da produção", que o Governo estima diminuir mais de 30% até ao final da legislatura.

Angola, salientou, está mesmo obrigada a diversificar, porque o petróleo já não vai chegar para sustentar a retoma económica, obrigando o país a procurar outras fontes de financiamento: "Não há muito espaço para os empréstimos financiados pelo petróleo, para além dos dois mil milhões de dólares da China não há muito mais, e por isso o Governo precisou de ir aos mercados financeiros internacionais, e mesmo no caso chinês, eles estão a fazer perguntas sobre onde e para que vai servir o dinheiro, e impuseram que parte desse financiamento seja para pagar dívidas a empresas chinesas, já não é `free money` como no tempo do [ex-Presidente] José Eduardo dos Santos, o que é uma diferença importante", disse o académico britânico.

Alex Vines mostrou-se, ainda assim, otimista sobre o futuro do país, assegurando que "também os investidores estão otimistas a curto e médio prazo", e concluiu que uma das grandes incógnitas para o futuro é "saber se o MPLA vai conseguir responder aos anseios de uma população que está a ter um crescimento demográfico extraordinário".

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