Regantes da Vigia no Alentejo preveem reduzir em dois terços água para rega

por Lusa

Redondo, Évora, 21 mar (Lusa) -- A associação de regantes do perímetro da barragem da Vigia, no Alentejo, prevê reduzir em dois terços a quantidade de água por agricultor para regar culturas da campanha primavera/verão deste ano, devido à perspetiva de seca.

"A disponibilidade de água por agricultor vai ser reduzida em dois terços do que é habitual para cada um", o que varia porque "uns têm determinadas áreas e outros têm outras", disse hoje à agência Lusa Luís Bulhão Martins, responsável da associação.

Segundo o responsável da Associação de Beneficiários da Obra da Vigia, no concelho de Redondo, distrito de Évora, este corte na disponibilidade de água ainda não está oficialmente decidido, mas está a ser equacionado.

"É assim que, em princípio, vamos fazer. No dia 02 de abril, temos uma reunião de regantes e vamos trabalhar com eles estes números e esta proposta, se, até lá, não houver qualquer alteração do quadro" meteorológico, frisou.

Luís Bulhão Martins admitiu que, para a próxima semana, há a previsão de "alguns dias com chuva", mas realçou também que o atual nível de armazenamento na barragem, que é "muitíssimo baixo", obriga a "restrições".

A albufeira, capaz de armazenar um total de 17 milhões de metros cúbicos de água, "tem um quarto da sua capacidade", ou seja, conserva neste momento "4,2 milhões de metros cúbicos de água bruta", assinalou.

"E tem que guardar alguma coisa, quer em termos ambientais, quer em termos de abastecimento urbano, portanto, estamos extremamente limitados na área a regar", alertou o responsável da associação de regantes.

Questionado pela Lusa sobre se o abastecimento público está ameaçado, Luís Bulhão Martins afastou a hipótese: "O abastecimento à população está sempre garantido, somos legalmente obrigados a isso e, por princípio, também salvaguardamos a reserva de água necessária às populações".

Se os agricultores só dispuserem de um terço da água que habitualmente usam nas culturas de primavera/verão, vão ter de optar "por reduzir a área" regada ou "por culturas menos exigentes" em termos hídricos, indicou o responsável.

"A decisão que tomarmos vem a tempo da campanha deste ano, não vai alterar muito. O que prevejo é que, se avançar esta restrição, a área será menor, vão ficar terras sem serem cultivadas", admitiu.

Luís Bulhão Martins lembrou ainda que a barragem está ligada à albufeira do Alqueva, ligação essa que "tem estado a trabalhar a 100% e ainda não parou de meter água na Vigia desde o final da campanha passada", senão a situação seria "muito pior".

"Infelizmente, a ligação ao Alqueva é de pequeno caudal e a capacidade de adução só vai triplicar ou quadruplicar com a construção do novo bloco do empreendimento do Alqueva, o bloco de Reguengos de Monsaraz. É uma nova ligação que tem de ser construída tão rápido quanto possível", reclamou.

Mais de metade do território do continente está em seca moderada e 5% em seca severa, anunciou, na quarta-feira, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, frisando que a situação é preocupante, mas está ainda longe do que se passou em 2017.

Em conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, após uma reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, o governante indicou que 57% do território está em seca moderada, 38% em seca fraca e 5% do Barlavento algarvio está em seca severa.

Este ano está a ser "anormalmente seco e quente" mas ainda se espera que possa chover mais no mês de abril, afirmou Capoulas Santos, assegurando que para já é "possível garantir a normalidade no ano agrícola" na maior parte do país, exceto em zonas como o perímetro da barragem da Vigia e na zona de Campilhas-Alto Sado, que terão limitações no uso de água para regadio.

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