Reserva Federal reduz taxas de juro em 0,25 pontos apesar de oposição

A Reserva Federal dos Estados Unidos decidiu esta quarta-feira reduzir as taxas de juro em 0,25 pontos percentuais, com dois membros do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) a discordar.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Fed reduz taxas de juro em 0.25 pp apesar de oposição Brendan McDermid - Reuters

O próprio presidente do Comité, Stephen Miran, votou contra, defendendo uma redução de 0,5 pontos percentuais, enquanto o presidente da FED de Kansas City, Jeffrey Schmid, votou contra, defendendo que não houvesse redução. A descida foi aprovada 10-2 pelo Comité Federal de Mercado Aberto, reduzindo a sua taxa de juro diretora para um intervalo entre 3,75 por cento e 4,00 por cento.

A decisão teve em conta o aumento dos "riscos negativos para o emprego nos últimos meses" e correspondeu às expetativas por parte dos investidores.

A descida dos juros foi decidida no segundo e último dia da reunião do Comité, formado pelos sete membros do Conselho de Governadores do Sistema da Reserva Federal, o presidente do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque e quatro dos restantes 11 presidentes do Banco da Reserva, que cumprem mandatos de um ano em regime de rotatividade.

Foi a segunda vez este ano que a Fed cortou as taxas de juro. O primeiro corte do ano, também de 0,25 pontos, ocorreu em setembro.

O presidente dos EUA, Donald Trump, tem defendido insistentemente taxas de juro mais baixas para reduzir os custos dos empréstimos e apoiar as suas políticas "pró-crescimento", assentes em cortes de impostos, desregulação e tarifas.

Desde 1990 ocorreram apenas três ocorrências de votos divergentes no seio do Comité.
Ganhos modestos

O FOMC anunciou ainda que vai retomar as compras limitadas de títulos do Tesouro, depois de os mercados monetários terem mostrado sinais de que a liquidez estava a tornar-se escassa, uma condição que o banco central dos EUA prometeu evitar.

A Fed comprometeu-se especificamente a manter estável o montante total das reservas do Banco Central, mês após mês, a partir de 1 de Dezembro, mas referiu que alterará a sua carteira reinvestindo os recursos provenientes da maturidade de títulos garantidos por hipotecas em títulos do Tesouro.

O corte na taxa de juro incluiu uma menção às limitações de dados que a Fed enfrenta durante a atual paralisação do governo federal.

Os índices bolsistas norte-americanos mantiveram ganhos modestos após a divulgação do comunicado de política monetária, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro, que se movem inversamente aos preços, subiram. 

Os traders e investidores continuaram a demonstrar uma forte preferência por outro corte da taxa de juro na última reunião de política monetária da Fed do ano, em Dezembro, seguido de outro alívio em Março.

"Um único dado de inflação fraco, expectativas ancoradas e relatos de arrefecimento da procura de mão-de-obra sustentam uma postura cautelosa em relação ao afrouxamento monetário", disse Alexandra Wilson-Elizondo, co-CIO global de soluções multiativos da Goldman Sachs Asset Management, acrescentando que "se as condições se mantiverem, outro corte de 25 pontos base na reunião de dezembro parece provável".

O atual presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, referiu já que um novo corte das taxas de juro em dezembro está "longe" de ser dado como certo.
Inflação e shutdown
Os membros da Fed reconheceram limitações no seu processo de tomada de decisão, devido à paralisação do governo, datando a sua avaliação da taxa de desemprego para Agosto – o mês da última divulgação oficial dos dados sobre o emprego – e referindo que "os indicadores disponíveis sugerem" que a economia continuou a crescer a um ritmo moderado.

A inflação não subiu tão acentuadamente como o inicialmente previsto em resultado dos novos impostos de importação da administração Trump, mas, mesmo assim, subiu de cerca de 2,3 por cento em abril para aproximadamente 2,7 por cento em agosto, de acordo com a última estimativa oficial divulgada para o Índice de Preços das Despesas de Consumo Pessoal (PCE) antes da paralisação do governo. 

A Fed utiliza o PCE para definir a sua meta de inflação de dois por cento, e, nas projecções divulgadas em Setembro, os decisores políticos esperavam que esta subisse para três por cento até ao final do ano.

Antecipam nomeadamente que o aumento dos preços diminua com o tempo, enquanto a preocupação com a força do mercado de trabalho tem aumentado.

"Os riscos de queda para o emprego aumentaram nos últimos meses", afirmou a Fed no seu novo comunicado de política monetária.

com agências
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